Governo Milei começa entrega de toneladas de comida estocada a ponto de vencer

Exército iniciou transporte de 465 toneladas de leite em pó após dias de polêmica por retenção de insumos

Luciana Taddeo, da CNN, Buenos Aires
Presidente da Argentina, Javier Milei, em Buenos Aires 26/01/2024REUTERS/Agustin Marcarian  • REUTERS
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O governo de Javier Milei começou a entregar, nesta terça-feira (4), parte das 5 mil toneladas de alimentos que estão estocadas em dois depósitos do país. A distribuição acontece após dias de polêmica pela descoberta de que a atual administração mantinha os insumos não distribuídos em meio a uma pobreza que ronda 55% da população.

Segundo o governo, que afirmava que os alimentos adquiridos pela administração anterior seriam destinados a afetados por catástrofes, como inundações, a distribuição foi determinada pela proximidade das datas de vencimento de 465 toneladas de leite em pó, a partir de julho.

O leite em pó que estava armazenado começou a ser transportado nesta manhã por caminhões do exército argentino de dois depósitos, em Villa Martelli, na Grande Buenos Aires, e em Tafí Viejo, na província de Tucumán, no norte do país, para 64 centros de distribuição da Fundação Cooperadora para a Nutrição Infantil (Conin).

A instituição sem fins lucrativos assinou um convênio com o governo para a distribuição das toneladas de leite em pó e “deverá certificar, mediante a apresentação de relatórios, os avanços periódicos e em um relatório final, o efetivo emprego dos alimentos nos refeitórios populares”.

Na semana passada, a Justiça argentina ordenou que o governo apresentasse, em até 72 horas, um plano de distribuição dos alimentos estocados. Mas a Casa Rosada afirmou que o Judiciário não deveria interferir em políticas públicas e recorreu da decisão.

Desde o começo do mandato de Milei, organizações sociais protestam contra a paralisação do envio de alimentos para refeitórios populares de setores vulneráveis. A presidência argentina afirma, no entanto, que parte dos refeitórios comunitários que recebiam suprimentos do Executivo não existiam, e que o atual governo acabará com o “negócio da pobreza”.

Mas a polêmica com a retenção de toneladas de alimentos a ponto de vencer provocou até demissões. O ministério do Capital Humano, que absorveu diversas pastas, como a da Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social, e administra os depósitos de alimentos, informou que uma auditoria determinou que não houve um controle permanente do estoque e do vencimento da mercadoria. O ex-secretário da Infância e da família Pablo de la Torre acabou afastado.

A pobreza na Argentina saltou de 44,7% no terceiro trimestre de 2023 para 55,5% no primeiro trimestre de 2024, segundo relatório da Cáritas com o Observatório da Dívida Social Argentina da Universidade Católica, a mais prestigiosa instituição de medição dos índices sociais no país.

No período, a miséria praticamente dobrou: passou de 9,6% para 17,5%. A insegurança alimentar em áreas urbanas chega a 24,7% da população e a 32,2% de crianças e adolescentes. A insegurança alimentar severa, por sua vez, atingiu 10,9%.

Somente desde o começo deste ano, a inflação acumulada chega a 65%. Na soma dos últimos 12 meses, o índice atinge 289,4%.