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Mauricio Pestana: George Floyd e seu legado

Trágico assassinato do homem negro nos Estados Unidos chocou o mundo e mudou definitivamente o rumo da luta contra o racismo e em prol da diversidade e inclusão em todo o planeta

Maurício Pestana
Reprodução/CNN (28.mai.2020)
Vídeo registrou o momento da abordagem feita a George Floyd, homem negro assassinado por quatro policiais  • Foto: Reprodução/CNN (28.mai.2020)
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Nesta quinta-feira (25), Dia da África, completam-se três anos da morte de George Floyd.

No mesmo dia eu recebia a desafiadora incumbência de comentar para os principais jornais da grade da CNN o caso que chocou o mundo e mudou definitivamente o rumo da luta contra o racismo e em prol da diversidade e inclusão em todo o planeta.

O assassinato de Floyd trouxe muita dor e revolta. Manifestações mudaram os rumos das eleições nos Estados Unidos e deixaram um legado de que ser antirracista não é um atributo apenas de pessoas pretas, mas de toda uma sociedade em busca de um futuro melhor.

Políticas públicas que não saíam do papel foram colocadas em prática, como a reformulação dos protocolos de atuação da polícia norte-americana. Leis criadas no período da segregação racial daquele país foram revogadas e, em alguns estados, completamente extintas, dando espaço a uma nova forma no aspecto político e institucional de lidar com a questão racial.

Os acontecimentos em Minneapolis reverberam em parte da estrutura institucional dos Estados Unidos, influenciando diretamente a eleição americana que aconteceria meses depois.

Se o fato acelerou processos políticos, a economia não ficaria de fora: uma onda chamada ESG, que já se avistava longe, e principalmente o “S”, de social, se instalou no campo da diversidade e inclusão nas empresas.

Exemplo disso foi que pouco tempo depois daquele triste episódio, a poderosa Nasdaq, bolsa que concentra as ações das maiores empresas de tecnologia do mundo, determinou que as companhias listadas naquele organismo tivessem no mínimo, entre seus diretores, mulheres e outro representante de grupos minoritários.

No entanto, o Brasil ainda segue sem grandes e palpáveis mudanças. O país tem a segunda maior população negra do planeta, com desigualdades brutais e concentração de renda e poder. Chega a lembrar a África do Sul no período do Apartheid, onde apenas uma elite branca governava para a maioria negra.

É obvio que a presença de negros e negras no alto escalão do governo atual demonstra sensibilidade política com o tema e representa uma mudança radical na narrativa e prática estabelecida no governo anterior.

Porém, não podemos deixar de notar que, nas áreas reais de decisão, que impactam milhões de brasileiros, como Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio, Cidades, Saúde, é quase inexistente a presença negra.

A esperança, nas áreas de inclusão, de negros e negras em postos estratégicos, tem vindo do setor privado, também neste pós-George Floyd, em que houve uma guinada na política de inclusão racial nos Estados Unidos.

Muitas empresas em nosso território intensificaram suas ações de inclusão racial e diversidade, por pressões vindas de todas as partes. Inclusive, a sociedade civil e instituições como Fiesp e até a B3 têm atuado de forma incisiva no debate da inclusão racial.

Ainda é muito pouco diante das diferenças sociais e econômicas entre negros e brancos em nosso país. Mas dá para afirmar que, nesses mais de 30 anos cobrindo este tema, avançamos uns dez anos depois do trágico assassinato de George Floyd e que diversidade e inclusão representam um caminho sem volta.