Nikki Haley é alvo de tentativa de golpe nos EUA
Rivais e apoiadores de Trump têm sido alvos da prática
Autoridades responderam a uma falsa emergência na casa da candidata à indicação do Partido Republicano, Nikki Haley, na Carolina do Sul, no final de 2023.
Um homem afirmou ter atirado em uma mulher e ameaçado a tirar a própria vida na casa Haley, de acordo com registros da cidade obtidos pela Reuters.
O "golpe" anteriormente não relatado faz parte de uma onda de ameaças de violência, ameaças de bomba e outros atos de intimidação contra funcionários do governo, membros do judiciário e administradores eleitorais, desde as eleições de 2020, que acenderam um alerta às autoridades em relação à eleição presidencial deste anos nos Estados Unidos.
Os casos de golpes aumentaram nos últimos dois meses, tendo aliados e rivais de Donald Trump como alvos, em meio à campanha do ex-presidente para retornar à Casa Branca.
O foco dos golpes inclui figuras que se opuseram publicamente a Trump, como a secretária de Estado do Maine, Shenna Bellows, uma democrata que o impediu de participar nas eleições primárias no estado, juízes e pelo menos um promotor responsável por casos contra Trump. Mas os apoiadores de Trump, como a deputada norte-americana Marjorie Taylor Greene, também já foram vítimas.
A farsa contra Haley, que é rival de Trump pela indicação presidencial republicana, aconteceu em 30 de dezembro na cidade de Kiawah Island, em um condomínio fechado, de classe alta, com cerca de 2.000 pessoas. A campanha da ex-governadora da Carolina do Sul não quis comentar.
Falsa emergência: "swatting"
Uma pessoa desconhecida ligou para o 911 - o serviço de emergência dos Estados Unidos - e alegou "ter atirado em sua namorada e ameaçado tirar a própria vida enquanto estava na residência de Nikki Haley”, disse Craig Harris, diretor de segurança pública da Ilha de Kiawah, às autoridades municipais em 30 de dezembro, de acordo com um e-mail da Reuters, obtido em um pedido de registros de ameaças à casa de Haley. "Foi determinado que era uma farsa... Nikki Haley não está na ilha e seu filho está com ela", completou Harris.
"Swatting" é um termo que significa a apresentação de relatórios falsos à polícia para desencadear uma resposta potencialmente perigosa por parte dos policiais. Segundo especialistas, a prática é uma forma de intimidação ou assédio que está sendo cada vez mais utilizada para atingir figuras políticas e funcionários envolvidos nos processos civis e criminais contra Trump.
No e-mail, Harris disse que estava em contato com a polícia estadual da Carolina do Sul, o FBI e o chefe da equipe de segurança de Haley. “Este incidente está sendo investigado por todos os envolvidos”, escreveu ele.
O e-mail não mencionou um suspeito ou motivo potencial. Em uma mensagem separada obtida pela Reuters, um funcionário do FBI na Carolina do Sul disse a Harris e a outros agentes da lei que agentes federais estavam rastreando a chamada fraudulenta e pretendiam abrir uma “avaliação de ameaça” sobre o assunto.
Harris, o FBI e a polícia estadual não comentaram imediatamente o incidente e, até o momento, as autoridades não identificaram um suspeito.
Haley e seu marido compraram a residência de Kiawah Island por US$ 2,4 milhões em outubro de 2019, indicam os registros de propriedade locais.
Alvos
Trump, famoso pela sua retórica incendiária, expressou fúria contra Haley nas últimas semanas. Ela perdeu as duas primeiras disputas pela indicação republicana, em Iowa e New Hampshire, mas se recusou a desistir da disputa. Haley, ainda, intensificou as críticas ao ex-presidente, sugerindo que ele está velho demais para ser eleito novamente e o chamou de “totalmente perturbado”.
A Reuters documentou pelo menos 27 incidentes de golpes contra políticos, promotores, funcionários eleitorais e juízes desde novembro de 2023, desde funcionários do estado republicano da Geórgia, até fraudes este mês contra a residência do democrata Joe Biden na Casa Branca.
Algumas das chamadas apresentam semelhanças impressionantes. Em dois casos em que a Reuters analisou as gravações das chamadas falsas para a emergência, uma pessoa que se identificou como “Jamal” ligou para a polícia para dizer que tinha matado a sua esposa.
Um desses incidentes teve como alvo a casa do senador republicano Rick Scott, na Flórida, em 27 de dezembro, semanas depois de ele ter apoiado Trump, de acordo com registros do Departamento de Polícia de Nápoles.
“Eu peguei minha esposa dormindo com outro cara, então peguei meu AR-15 (rifle semiautomático) e atirei três vezes na cabeça dela”, disse a pessoa que ligou. Os policiais verificaram a casa de Scott e concluíram que a ligação era uma farsa. Scott não estava em casa no momento da ligação.
“A voz de Jamal parecia gerada por inteligência artificial”, escreveu um funcionário do Departamento de Polícia de Nápoles no relatório do incidente.
A mesma pessoa que se identificou como Jamal também teve como alvo o senador estadual republicano da Geórgia, John Albers, em 26 de dezembro, de acordo com um relatório de incidente do Departamento de Polícia de Roswell.
Nesse caso, a pessoa que ligou disse que havia atirado na esposa e exigiu 10 mil dólares ou atiraria em si mesmo. Em ambos os casos, as pessoas que ligaram eram homens e falavam com sotaque semelhante, de acordo com a análise das gravações de áudio da Reuters.
Uma ligação de 7 de janeiro dirigida ao secretário de Estado do Missouri, Jay Ashcroft, um forte apoiador de Trump, também teve algumas semelhanças. A pessoa que telefonou disse à polícia que estava ligando do endereço do funcionário na capital do estado e que havia atirado em sua esposa e acrescentou que ia se matar e desligou na cara da operadora”, de acordo com um relatório do Departamento de Polícia de Jefferson City.
Ashcroft, sua esposa e filhos estavam em casa no momento, de acordo com um comunicado do Secretário de Estado do Missouri. Scott, Albers e Ashcroft não responderam aos pedidos de comentários.
Gabriel Sterling, um alto funcionário do gabinete do secretário de estado da Geórgia, disse que quando alguém ligou para a emergência em 11 de janeiro para relatar um tiroteio falso em sua casa no subúrbio de Atlanta, 14 carros de polícia, um caminhão de bombeiros e uma ambulância correram para sua casa.
“Agora tranco as portas todas as noites”, disse Sterling, um republicano que enfrentou uma torrente de ameaças por denunciar as falsas alegações de fraude eleitoral de Trump após as eleições de 2020. “Essa é a realidade que estou vivendo agora”, disse ele em entrevista.
Juízes em casos de Trump também são alvos

Nas últimas semanas, táticas de intimidação semelhantes foram dirigidas a juízes e procuradores envolvidos em casos contra Trump.
Em 11 de janeiro, a polícia do condado de Nassau, Nova York, recebeu a denúncia de uma bomba na casa do juiz da Suprema Corte de Manhattan, Arthur Engoron, que preside o julgamento civil por fraude corporativa de Trump e de sua família.
Policiais, incluindo um esquadrão anti-bomba, foram enviados à casa do juiz no subúrbio nobre de Great Neck, Long Island, às 5h30, de acordo com o Departamento de Polícia do Condado de Nassau. Nenhum dispositivo explosivo foi encontrado e a ligação foi considerada falsa. Um porta-voz do sistema judiciário de Nova York se recusou a comentar o incidente.
Poucos dias antes, a polícia em Washington, D.C., respondeu a um relato falso de um tiroteio na casa da juíza do Tribunal Distrital dos EUA, Tanya Chutkan, que preside o processo criminal que acusa Trump de tentar reverter o resultado das eleições presidenciais de 2020. Em 7 de janeiro, a polícia foi enviada à casa, onde uma mulher não identificada informou que não estava ferida e que não havia mais ninguém na casa, de acordo com um relatório do incidente analisado pela Reuters. A polícia vasculhou o local e não encontrou nenhum dispositivo explosivo.
Outros sustos relacionados a segurança envolveram falsos ataques a bomba. No início de janeiro, ameaças de bomba foram enviadas a capitais e tribunais de vários estados, de acordo com reportagens e autoridades estaduais, incluindo Minnesota, Arkansas, Maine, Havaí, Montana e New Hampshire.
Em Minnesota, os tribunais estaduais receberam ameaças de bomba por e-mail, mas as ameaças foram consideradas falsas e não bloquearam os processos judiciais, disseram autoridades à Reuters. O FBI disse que estava investigando as ameaças.
Em um comunicado divulgado anteriormente sobre o aumento de incidentes de golpes, o FBI disse que as pessoas que faziam chamadas falsas usavam táticas como a tecnologia de falsificação de identificação de chamadas “para fazer parecer que a chamada de emergência vinha do telefone da própria vítima”.
As ligações “são perigosas para os socorristas e para as vítimas, muitas vezes envolvendo relatos falsos de que há reféns ou de que bombas estão prestes a explodir", disse o FBI. “A comunidade é colocada em perigo à medida que os socorristas correm para o local, e se afastam de emergências reais. Os policiais são colocados em perigo à medida que moradores desavisados podem tentar se defender.”
Os golpes recentes são parte de uma onda de ameaças violentas também contra trabalhadores eleitorais dos EUA após as eleições de 2020, inspirados pelas falsas alegações de Trump sobre eleições fraudadas.
A Reuters documentou mais de 1.000 mensagens intimidadoras entre as eleições de 2020 e 2021, numa série de histórias que narraram a campanha de medo contra administradores eleitorais em mais de uma dúzia de estados decisivos. Um relatório publicado na quinta-feira (25) pelo Brennan Center for Justice da Universidade de Nova York disse que a intimidação continuou até o ano passado. Na sua pesquisa com legisladores estaduais concluída em outubro de 2023, 43% relataram ter sido ameaçados nos últimos três anos.
A onda devastadora coincide com a mais prolongada onda de violência política nos Estados Unidos desde a década de 1970, de acordo com uma investigação da Reuters no ano passado. Esse relatório documentou pelo menos 232 atos de violência com motivação política desde que os apoiadores de Trump invadiram o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021. Os eventos variaram de rebeliões a brigas em manifestações políticas, a espancamentos e assassinatos.


