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    O Ártico está ficando mais quente e verde em velocidade maior que a esperada

    Segundo cientistas, aquecimento global causado pelo homem transformou o Ártico em um lugar que cada vez mais irreconhecível

    Drew Kann, da CNN

    (CNN) – Extremamente frio, congelado e inóspito para quase todos os animais selvagens, exceto os ursos polares.

    Esta é a imagem do Ártico que vem à mente de muita gente.

    Mas, em questão de décadas – um piscar de olhos na história deste planeta –, o aquecimento global causado pelo homem transformou o Ártico em um lugar que, segundo os cientistas, está cada vez mais irreconhecível.

    Se o Ártico fosse um paciente, o Arctic Report Card da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) seria o seu exame físico anual – ou seja, um check-up abrangente sobre a saúde deste vasto e importante bioma.

    O Ártico de hoje está muito mais quente, mais verde e menos gelado do que há 15 anos, quando a NOAA publicou seu primeiro Arctic Report Card, ou Boletim do Ártico.

    Ao revelar temperaturas superficiais altas quase inéditas e gelo marinho baixo, também em nível quase recorde, o boletim divulgado na terça-feira (8) pinta um quadro de uma região que está se aquecendo rapidamente, a um ritmo que supera as expectativas dos cientistas.

    Oceano Antártico
    Oceano Antártico
    Foto: Reprodução/Pixabay

    “Achamos que as mudanças demorariam muito mais tempo e os modelos diziam isso”, afirmou James Overland, oceanógrafo do Laboratório Ambiental Marinho do Pacífico da NOAA, que participou de todos os 15 Boletins do Ártico e foi coautor da parte sobre as temperaturas da superfície do ar nesta edição. “Mas a taxa de mudança que vimos nos últimos 20 anos – e especialmente nos últimos cinco anos – está além do que pensávamos que aconteceria”.

    A seguir, listamos as maiores mudanças observadas no Ártico neste ano, e o que elas significam para o resto do planeta.

    Calor extremo e gelo diminuindo

    Os cientistas dizem que o Ártico é um termômetro do clima global.

    À medida que o planeta se aquece devido às emissões humanas de gases de efeito estufa, os efeitos desse aquecimento são sentidos aqui primeiro e prenunciam as mudanças que virão em climas de latitudes mais baixas.

    “Mais ao sul, abaixo da latitude 48 nos EUA, podemos lidar com uma mudança de alguns graus na temperatura do ar”, disse Overland. “Mas as mudanças potenciais no Ártico, que são o triplo do que vemos nas latitudes médias, vão mudar completamente a aparência do Ártico, e isso terá um retorno para o resto do planeta”.

    Para Overland, do encolhimento do gelo marinho e derretimento na camada de gelo da Groenlândia, ao degelo do permafrost e até mesmo mudanças na distribuição das espécies, muitas das mudanças observadas em todo o Ártico estão sendo impulsionadas pelo aumento da temperatura do ar.

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    O relatório descobriu que este foi mais um ano anormalmente quente na maior parte da região.

    O período entre outubro de 2019 e setembro de 2020 foi o segundo ano mais quente no século para o Ártico, com temperaturas de superfície 1,9 graus Celsius (3,42 graus Fahrenheit) mais altas do que a média de 1981 a 2010. Apenas 2016 registrou temperaturas mais altas do que no ano passado.

    O calor extremo foi especialmente pronunciado na Sibéria, que viu temperaturas sufocantes de 3 a 5 graus Celsius acima da média durante o inverno e a primavera.

    Desde 2000, o Ártico aqueceu mais de duas vezes mais rápido que o resto do planeta, diz o relatório.

    Todo esse calor extra afetou outra parte crítica do ecossistema ártico: seu gelo marinho.

    Além de servir como habitat vital para ursos polares e morsas, o gelo marinho do Ártico é uma parte essencial do sistema de ar-condicionado do planeta, refletindo a energia do sol de volta ao espaço e mantendo as temperaturas ao redor do Pólo Norte frescas.

    No entanto, o período registrou outra baixa quase recorde de gelo marinho, outro sinal de que este “sistema de ar-condicionado” está quebrando, dizem os cientistas.

    O gelo marinho congela no inverno e derrete durante o verão, e a extensão mínima do verão deste ano foi a segunda mais baixa já observada no registro de satélite feito há 42 anos, de acordo com o relatório.

    A tendência de declínios na extensão máxima do gelo marinho no inverno também continuou este ano, com a extensão de março de 2020 chegando como a 11ª menor já registrada.

    Os 14 anos de 2007 a 2020 viram as 14 extensões mais baixas já registradas, e as áreas de gelo marinho diminuíram cerca de 13% por década desde 1979.

    Agora não é mais uma questão de “se” veremos um Ártico sem gelo nas novas décadas, e sim “quando”, disse Walt Meier, pesquisador sênior do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo e coautor da seção de gelo marinho do Boletim do Ártico deste ano.

    “Eu, que estou na casa dos 50 anos, achava que (um Ártico sem gelo no verão) seria algo que meus netos provavelmente veriam”, disse Meier. “Mas, agora, se eu tiver uma expectativa de vida razoavelmente média, então provavelmente viverei para ver isso, o que é realmente marcante na minha opinião em termos de quão rápido as coisas mudaram.”

    Um Ártico mais verde e menos nevado

    A neve ainda cobre grande parte do Ártico por até nove meses do ano. No entanto, isso também está mudando, pois o aquecimento leva a declínios tanto na área de terra quanto no tempo em que fica coberta de neve.

    A extensão da cobertura de neve em junho de 2020 sobre o Ártico da Eurásia foi a mais baixa no registro de 54 anos, e a parte norte-americana da região viu sua décima extensão mais baixa.

    Essa cobertura de neve também derreteu muito mais cedo em partes da região, especialmente na Sibéria, que viu ondas de calor recordes em 2020.

    Embora o relatório tenha descoberto que a duração da cobertura de neve foi aproximadamente normal em grande parte do Ártico, a cobertura de neve em grandes áreas da Sibéria derreteu cerca de um mês antes, devido a temperaturas que estavam mais de 5 graus Celsius acima da média.

    Outro efeito de um clima mais quente é que o Ártico está ficando mais verde.

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    A vegetação da tundra tem sido rastreada por satélites desde o início dos anos 80, e os cientistas a monitoram como um sinal chave das mudanças no clima da região.

    Embora a cobertura verde tenha diminuído drasticamente na América do Norte desde 2016, ela permaneceu acima da média no lado da Eurásia.

    Além disso, o relatório conclui que, olhando para o registro completo do satélite, a tendência geral está se movendo em direção a um Ártico mais verde, à medida que as temperaturas mais altas descongelam a tundra congelada, permitindo que arbustos e outras espécies de plantas criem raízes em lugares que não podiam no passado.

    Em conjunto, as mudanças delineadas no relatório mostram uma região que está se transformando rapidamente pelo aquecimento provocado pela atividade humana.

    “Isso não é apenas como um ano de baixo gelo no mar ou o degelo do permafrost em um lugar onde as temperaturas estão subindo: todo o ecossistema está mudando”, pontuou Meier. “E isso prova que não é um acaso. É algo fundamental que está mudando no ambiente ártico”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

     

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