William Waack

Palestinos e israelenses dizem ter esperança na paz em meio a cessar-fogo

Trégua fez população desalojada em Gaza retornar ao norte do enclave em cenário de destruição e escombros; Israel aguarda retorno de reféns com orações e pedidos

Danilo Cruz, da CNN Brasil*, em São Paulo
Protesto em Tel Aviv em apoio aos reféns sequestrados pelo Hamas  • REUTERS/Ronen Zvulun
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Milhares de palestinos desalojados voltaram para suas casas abandonadas nesta sexta-feira (10), após cessar-fogo entre Israel e o Hamas entrar em vigor e tropas israelenses começaram a se retirar de partes da Faixa de Gaza.

Ao retornarem para onde viviam, os palestinos se depararam com um cenário de destruição e sem conseguir reconhecer as ruas das próprias casas. Andando entre destroços, Fidaa Haraz, moradora de Gaza, não conseguia encontrar a residência que vivia antes de ser deslocada.

"Juro que não sei onde fica o cruzamento, nem onde é a minha casa. Eu sei que minha casa foi destruída, mas onde ela está? Onde está? Não consigo encontrá-la. O que é isso? O que fazemos com nossas vidas? Onde devemos morar, onde devemos ficar? Não sobrou nada", disse Haraz.

Mais da metade dos prédios no enclave foram completamente destruídos ou danificados. Somente na cidade de Gaza, durante o mês de setembro, mais de 1.800 edifícios foram danificados pelos israelenses. 

O exército de Israel liberou estradas e recuou parcialmente no território, o que permitiu o fluxo de pessoas.

No caminho para o norte, feito principalmente a pé, ou de pequenos caminhões e bicicletas, os palestinos carregavam pertences em mochilas e sacolas. A esperança é que o cessar-fogo se torne um acordo de paz permanente e que consigam se reerguer no território em que nasceram.

"Retornaremos ao local da nossa casa, se Deus quiser, e nos reconstruiremos. Se os materiais de construção não forem trazidos, ficaremos lá, mesmo que seja em uma barraca. Não sairemos, ficaremos lá.", afirmou Mohammed Ibrahim, que também foi deslocado por causa do conflito.

O reposicionamento dos militares de Israel faz parte do acordo de cessar-fogo que entrou em vigor ao meio-dia do horário local. O próximo passo envolve a liberação de 250 palestinos detidos pelo governo de Benjamin Netanyahu e dos 20 reféns israelenses ainda vivos que estão nas mãos do Hamas.

O prazo de 72 horas para o grupo libertar os reféns também começou na manhã desta sexta (10). O governo de Israel preparou hospitais e elaborou planos de recuperação para os reféns, que estão em cativeiro há mais de dois anos.

Em Tel Aviv, na chamada Praça dos Reféns, familiares dos reféns e outros israelenses se reuniram para rezar em antecipação à soltura. Um deles é Asher Calfon, parente de Segev Kalfon - um dos sequestrados que pode ainda estar vivo.

Asher diz que a situação não é fácil, mas que espera o retorno de Segev. "E desejamos que, com a ajuda de Deus, nos próximos dois ou três dias o vejamos e nos alegremos com a família. E realmente esperamos que todos, não apenas ele, retornem sãos e salvos. Estamos esperando por eles com muita impaciência", afirma.

Na Praça, foram montados um relógio que mostra o número de dias desde o ataque de 7 de outubro de 2023, diversas fotos das vítimas e fitas amerelas - que representam solidariedade com os reféns.

"Foi um período muito difícil para as famílias (dos reféns) nesses dois anos. Mas hoje sentimos esperança", afirmou o israelense Vered Swid, que acompanhava as orações.

Netanyahu comemorou a possibilidade do retorno e, mesmo diante de negociações para o cessar-fogo, voltou a ameaçar o Hamas.

"Enfrentamos por todos os lados, preparando as próximas fases do plano, nas quais o Hamas será desarmado e Gaza desmilitarizada. Se isso puder ser alcançado pelo caminho fácil, ótimo. Caso contrário, será alcançado pelo caminho difícil."

* com informações da Reuters