Plano de Trump para Gaza sobrevive ao teste após retomada de cessar-fogo

Israel conduziu ataques ao sul do território palestino depois de acusar o Hamas de atirar e matar dois soldados israelenses no domingo (19)

Da CNN
Palestinos caminham em meio a destroços na Cidade de Gaza  • 16/10/2025 REUTERS/Dawoud Abu Alkas
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O cessar-fogo na Faixa de Gaza, mediado pelos Estados Unidos, parece ter sobrevivido ao seu primeiro grande teste, após Israel e o Hamas reafirmarem seu compromisso com o acordo, mesmo depois que dois soldados israelenses foram mortos no território palestino no domingo (19), o que provocou uma série de ataques aéreos.

As FDI (Forças de Defesa de Israel) disseram, em comunicado, que retomariam o cessar-fogo, conforme orientação do escalão político.

O Hamas e seu braço militar, as BAQ (Brigadas Al-Qassam), afirmaram também no domingo que continuam comprometidos com o cessar-fogo e negaram envolvimento no ataque contra as forças israelenses.

A reafirmação do compromisso com o cessar-fogo ocorre no momento em que os principais arquitetos do acordo, Steve Witkoff e Jared Kushner, devem chegar à região, segundo fontes familiarizadas com o planejamento, enquanto o governo Trump avança para implementar a próxima fase do acordo.

O Vice-Presidente JD Vance também deve liderar uma delegação dos EUA a Israel nesta semana, segundo fontes familiarizadas com os planos informaram à CNN.

“A administração continua focada na implementação do acordo de paz e estamos trabalhando ativamente com nossos parceiros para isso. Não vamos divulgar detalhes das conversas diplomáticas em andamento”, disse um funcionário do governo dos EUA à CNN.

Mais cedo, no domingo, Israel realizou uma série de ataques em Gaza após acusar o Hamas de ter executado um ataque que matou dois soldados das Forças de Defesa de Israel – o major Yaniv Kula, de 26 anos, e o sargento Itay Yavetz. Essa foi a primeira vez que tropas israelenses morreram em Gaza desde o início do cessar-fogo.

Os ataques israelenses mataram pelo menos 44 pessoas em várias regiões da Faixa de Gaza neste domingo, segundo dados dos hospitais locais.

Tanto o Hamas quanto as Forças de Defesa de Israel culparam um ao outro por violar o cessar-fogo.

Cenas de pânico tomaram conta de Gaza durante os bombardeios, com multidões se reunindo no hospital al-Aqsa enquanto os feridos eram levados às pressas para o local.

"Estávamos sentados em uma cafeteria, tomando chá e café, e de repente ouvimos a notícia — eles foram atingidos e bombardeados, e todos morreram. Foi só isso que aconteceu", disse Sallih Salman, irmão de um dos palestinos mortos, à Reuters.

Em meio aos novos ataques, as Brigadas Al-Qassam afirmaram ter encontrado o corpo de outro refém israelense durante operações de busca em andamento, “e irão entregá-lo ainda hoje, se as condições no terreno permitirem”.

Entrega de ajuda continua

As entregas de ajuda humanitária em Gaza continuarão na segunda-feira (20), após Israel anunciar no domingo que elas seriam suspensas, segundo informou um alto funcionário israelense à CNN.

O rápido anúncio da retomada da ajuda – apenas algumas horas após a pausa declarada – indica que as entregas de ajuda humanitária podem não ter sido afetadas.

A continuidade da ajuda por parte de Israel indica o objetivo de manter os componentes-chave do acordo de cessar-fogo mediado pelos EUA com o Hamas. Porém, a travessia de Rafah permanecerá fechada, afirmou o funcionário, enquanto Israel aguarda a devolução dos corpos dos reféns restantes.

No início deste ano, uma iniciativa apoiada pela ONU alertou que partes de Gaza enfrentavam fome, e a trégua aumentou as esperanças de um aumento na ajuda humanitária para o território.

Mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfrenta pressão para responder a quaisquer violações por parte dos partidos de extrema-direita que apoiam sua coalizão.

O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, descreveu a retomada da ajuda como uma “vergonhosa capitulação.”

“Tudo isso em um dia em que o Hamas assassinou dois soldados das FDI, continua violando o acordo e se recusa a entregar todos os corpos dos nossos mortos”, escreveu ele no X. “Chega de recuos.”

Confrontos em Rafah

Israel realizou ataques em Gaza no domingo após um oficial militar israelense afirmar que o Hamas atacou as forças israelenses em Rafah, no sul de Gaza, com granadas de foguete e tiros de sniper.

O Hamas disparou contra as forças israelenses além da Linha Amarela – a linha atrás da qual as tropas israelenses se retiraram segundo o acordo de cessar-fogo – em três incidentes separados no domingo, segundo outro oficial militar.

As Brigadas Al-Qassam (BAQ) negaram conhecimento de “quaisquer eventos ou confrontos” em Rafah e afirmaram que estão comprometidas com a trégua “em todas as áreas da Faixa de Gaza.”

Embora muitos detalhes sobre o incidente em Rafah ainda sejam desconhecidos, ele ocorreu na manhã de domingo, quando o Hamas informou que sua força interna de segurança, a Rada’a, estava atacando um “esconderijo” de uma milícia apoiada por Israel e liderada por Yasser Abu Shabab. Em junho, Israel confirmou que estava armando várias dessas milícias na tentativa de combater o Hamas.

Muhammad Shehada, especialista em Gaza no Conselho Europeu de Relações Exteriores, afirmou que essas milícias agora operam a partir de áreas ocupadas por Israel em Gaza, de onde “descem para a outra metade de Gaza, realizam ataques e depois correm de volta para essas áreas protegidas.”

Desde o início do cessar-fogo na semana passada, o Hamas realizou o que chamou de “campanha de segurança” voltada contra “colaboradores, mercenários, ladrões, bandidos e aqueles que cooperam com o inimigo sionista em toda a Faixa de Gaza.”

O incidente de domingo trouxe mais tensão ao cessar-fogo, e os próximos passos ainda estão indefinidos.

Israel atirou e matou palestinos que acusou de se aproximarem da Linha Amarela, em uma ação que o Hamas classificou como uma “flagrante violação” dos compromissos do cessar-fogo. Israel também acusou o Hamas de atrasar a devolução de todos os corpos dos reféns mortos mantidos em Gaza, conforme previsto no acordo, e fechou uma importante passagem de fronteira até novo aviso.

O Hamas devolveu 12 dos 28 corpos de reféns mortos, conforme o acordo de cessar-fogo com Israel. Todos os 12 já foram formalmente identificados.

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