Quem são os Mashco Piro, estimado como o maior povo indígena isolado do mundo?
Dois trabalhadores morreram nesta semana após impacto de uma flecha em um confronto na Amazônia peruana
Nesta semana dois trabalhadores florestais morreram vítimas do impacto de uma flecha em um confronto com indígenas do povo Mashco Piro, na Amazônia peruana.
O Governo do Peru indicou em comunicado do Ministério da Cultura que estava investigando o “grave incidente”.
Segundo a Federação Indígena do Rio Madre de Dios e Afluentes (Fenamad), as vítimas trabalhavam em uma concessão florestal e morreram em confronto com indígenas quando abriam estradas na floresta.
Imagens recentes do povo Mashco Piro
- 1 de 9
Imagens divulgadas pela Organização Survival International mostram dezenas de indígenas isolados na Amazônia peruana. • Divulgação/Survival International
- 2 de 9
De acordo com a organização, os indígenas estavam isolados perigosamente, a poucos quilômetros de áreas destinadas à exploração de madeira • Divulgação/Survival International
- 3 de 9
Eles estavam as margens de um rio na região de Madre de Dios, no sudeste do Peru • Divulgação/Survival International
-
- 4 de 9
A Amazônia peruana, na fronteira com o Brasil, é o lar do maior grupo de indígenas isolados do mundo: os Mashco Piro. • Divulgação/Survival International
- 5 de 9
A Survival acredita que os Mashco Piro tenha aproximadamente 750 indivíduos. • Divulgação/Survival International
- 6 de 9
Nos últimos anos, eles têm aparecido nas margens de rios próximos a comunidades de indígenas Yine, um povo contatado. • Divulgação/Survival International
-
- 7 de 9
A organização alerta que várias empresas madeireiras detêm concessões dentro do território que pertence aos Mashco Piro. • Divulgação/Survival International
- 8 de 9
Imagens inéditas mostram tribo indígena isolada em “área perigosa” da Amazônia • Divulgação/Survival International
- 9 de 9
Dezenas de indígenas isolados na Amazônia peruana • Divulgação/Survival International
-
Em julho, a organização humanitária Survival International publicou um vídeo mostrando um grupo de pessoas do povo Mashco Piro às margens de um rio na Amazônia peruana. Segundo a organização, moradores do município têm sido vistos com mais frequência saindo da selva em busca de alimento e, aparentemente, se afastando da presença crescente dos madeireiros.
A Fenamad destacou na terça-feira que o confronto foi “consequência direta da decisão estatal de viabilizar atividades extrativistas em territórios indígenas de forma isolada e expor pessoas, colocando suas vidas em risco”.
Quem são os Mashco Piro?
Segundo o Banco de Dados de Povos Indígenas ou Nativos do Ministério da Cultura, os Mashco Piro são um povo semi-nômade e grande parte de sua população vive isolada. Ou seja, rejeitam ou limitam as suas interações com pessoas fora das suas próprias comunidades, como aponta a antropóloga Beatriz Huertas.
Os Mashco Piro se deslocam entre a Reserva Indígena Mashco Piro, a Reserva Territorial Madre de Dios e a Reserva Indígena Murunahua, criadas entre 1997 e 2002, e que estão localizadas nas regiões amazônicas de Ucayali e Madre de Dios.
Mas, segundo a Survival International, a reserva estabelecida pelo Estado peruano cobre apenas um terço do que a Fenamad propôs e “grandes extensões do território Mashco Piro ficaram desprotegidas”. A organização acrescenta que “grande parte desta área excluída foi atribuída a concessões madeireiras”.
A CNN busca a versão das autoridades peruanas sobre esta afirmação.
É o maior povo indígena isolado do mundo?
A Survival International afirma que os Mashco Piro poderiam ser “o maior povo indígena isolado da Terra”, com quase 800 membros. Seus ancestrais teriam fugido da chamada “febre da borracha”, que eclodiu em vários países com territórios amazônicos como o Peru no âmbito da extração e comercialização do recurso e levou à escravidão dos povos indígenas que viviam em a área.
O Ministério da Cultura destaca que o povo Mashco Piro foi muito afetado pela “febre da borracha” e que “os indígenas foram perseguidos e capturados, utilizando-os como mão de obra para a atividade seringueira”.
Segundo o Ministério, não há muita informação sobre a comunidade, devido ao seu estado de isolamento, embora se saiba que se dedicam à caça, recolha e possivelmente pequenas culturas.
Segundo a instituição, no censo nacional de 2017, 12 pessoas no país se identificaram como parte do povo Mashco Piro. Seus membros, segundo o mesmo censo, falam uma variedade da língua conhecida como Yine, usada em algumas bacias da Amazônia peruana.
“Devido à língua ou língua materna com que aprenderam a falar na infância, 2.680 pessoas afirmaram falar a língua Yine, o que corresponde a 0,05% do total de línguas nativas a nível nacional”, acrescenta.
O Yine é classificado como uma das línguas indígenas ou nativas do Peru, que são aquelas que existiam antes da difusão do espanhol e que ainda são preservadas e utilizadas no país. Segundo o Ministério da Cultura do Peru, existem 48 línguas, das quais 44 são faladas na Amazônia.