Saiba como é o interior do Palácio de Buckingham, sede da realeza britânica há 186 anos
Local já foi bombardeado e recebe, atualmente, cerca de 50 mil visitantes por ano; são 775 cômodos, segundo o site oficial da monarquia britânica
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Sala do trono do Palácio de Buckingham • Divulgação/Royal Collection Trust
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Salão de baile no Palácio de Buckingham • Divulgação/Royal Collection Trust
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Sala de música do Palácio de Buckingham
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Escadaria do Palácio de Buckingham
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Jardim do Palácio de Buckingham
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Troca de Guarda no Palácio de Buckingham • 23/8/ 2021. Yui Mok/Pool via REUTERS
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Vista frontal do Palácio de Buckingham, em Londres, Reino Unido • 11/01/2020REUTERS/Henry Nicholls
Palco da coroação do rei Charles III e símbolo máximo da monarquia do Reino Unido, o Palácio de Buckingham não fica em Londres, como muita gente pensa, mas na cidade de Westminster, localizada no que poderia ser chamada “região metropolitana”.
O espaço pode não ser o maior do mundo no quesito “palácios”, mas é um dos mais visitados e admirados. Sua história, na verdade, começou com uma “casa”.
Nos séculos passados, as “casas de cidade” eram construídas e habitadas apenas por nobres e políticos em cidades importantes ou capitais.
A “Casa Buckingham”, por exemplo, foi construída em 1703 para John Sheffield, 1º Duque de Buckingham e Normanby — mas, na prática, a história vem ainda antes disso: na Idade Média, a Mansão de Ebury já ocupava o espaço.
Em 1761, foi comprada pelo rei George III para servir de acomodação para a Rainha Charlotte. O objetivo era ser uma residência oficial para ela, próxima ao Palácio St. James, onde as atividades da corte eram concentradas, mas acabou ganhando um apelido que duraria muito tempo: “casa da rainha”.
No ano seguinte passou pela primeira reforma, para que ficasse mais próxima ao gosto do rei. Na sequência, a casa passou para George IV, que também usou a residência para acomodar a rainha e os filhos.
O local foi ganhando ainda mais status, e Buckingham foi ampliada durante o século 19 pelas mãos dos arquitetos John Nash e Edward Blore, que criaram três alas ao redor de um pátio central, a pedido de George IV.
Também foi ele quem decidiu dobrar o tamanho do espaço para colocá-lo na categoria “palácio”, apesar de ainda não ter uma importância real — tanto que o próprio rei nunca morou lá. Foi nessa época que surgiu o famoso arco de mármore, construído após as vitórias nas batalhas de Trafalgar e Waterloo.
O estilo de decoração, no entanto, nunca mudou: sempre adotando um neoclassicismo francês, com uma paleta de cores alternando entre os beges e rosa e com o uso de técnicas como a escaiola (que imita mármore polido) e de pedras preciosas, como o lápis-lazúli (rocha transparente, de cor azulada).
Status de Palácio e concentração das atividades reais
Foi com a rainha Vitória que a residência ganhou o status de palácio oficialmente. Em 1837, quando a rainha ascendeu ao trono, o Reino Unido já era uma monarquia bem estabelecida. Em 28 de junho de 1838, aos 18 anos, Vitória assumiu o trono um ano após a morte de Guilherme IV.
Por ser obrigada a morar com a mãe, e ainda solteira, a rainha não podia deixar a casa, então as atividades acabaram naturalmente concentradas em Buckingham. Outra reforma foi viabilizada em 1840, para que o local se tornasse, de fato, uma residência real.
Célio Tasinafo, diretor pedagógico do Colégio Oficina do Estudante, entusiasta e conhecedor da monarquia britânica, destaca que a reforma feita pela rainha foi fundamental para que o palácio deixasse de se tornar, como ele comparou, a um “pardieiro”.
“Havia problemas com as chaminés, e os residentes optaram várias vezes por não acender as lareiras para evitar que todo o ambiente interno ficasse enfumaçado. No inverno londrino, sem as lareiras, o palácio se convertia em uma enorme câmara fria”, explica.

“Com todo o sistema de ventilação comprometido, os nobres diziam que as dependências do palácio fediam a estábulos, e tinha fama de mal cuidado, com lixo acumulado devido a uma equipe de criados que não era comandada e orientada direito”, continua Tasinafo.
Como Vitória era bem vista pela população, as aparições eram sempre carregadas de comoção. Na obra de 1840, foi construída a quarta ala do Palácio de Buckingham, que passou a ser uma construção quadrilateral, com um pátio central, e com os lados identificados pelos pontos cardeais.
Com a construção de mais quartos de hóspedes, foi nessa época que foram erguidas as varandas. Uma delas se tornou extremamente famosa naquela época.
Em 1851, na abertura da Exposição Universal de Londres, Vitória fez uma aparição na sacada de um dos quartos, levando a monarquia ao delírio, e isso se tornou praticamente uma “obrigação”.
Com as alterações para que Buckingham se tornasse uma residência real, o arco de mármore foi mudado de lugar, para em frente ao Hyde Park.
As últimas obras de construção importantes foram durante o reinado de Jorge V. Em 1913, sir Aston Webb redesenhou a fachada Leste, renovada com pedra de Portland (nos Estados Unidos). A rainha Maria, que gostava muito de arte, decorou a Sala de Estar Leste, que tem 21 metros de comprimento.
O Palácio de Buckingham atualmente
Após as reformas, o Palácio de Buckingham ficou com 775 cômodos, segundo o site oficial da monarquia britânica.
São 19 salões nobres, ou quartos de Estado (muitos com as decorações originais das épocas de construção, de George IV), 52 quartos para a realeza e hóspedes, 188 quartos para os trabalhadores que vivem no palácio, 92 escritórios e 78 banheiros.
Nas dimensões, o palácio tem 108 metros de fachada, 120 metros de profundidade e 24 metros de altura.
As salas abertas para visitação
As salas abertas para visitação tm nomes de identificação:
- Sala do Trono, criada por John Nash, com uma grande influência de cenários de teatro, com tronos e cadeiras reais (no caso de Victoria, por exemplo, apenas um trono ficava no centro)
- Salão Branco (White Drawing Room), construída em 1825. É uma espécie de antessala do trono, usada para cerimônias da corte; foi cenário das fotos do Duque e Duquesa de Cambridge (Príncipe William e Kate Middleton)
- Salão de festas (Ballroom), finalizado em 1855, durante o reinado de Vitória, onde são oferecidos banquetes para chefes de Estado ou convidados especiais
- Sala de música, foi chamado antes de Bow Drawing Room (sala de arco-e-flecha, em uma tradução livre); foi finalizada em 1831, e não passou por nenhuma alteração desde então. Esta é a sala onde os convidados, reunidos na Sala Verde, são apresentados antes de um jantar ou banquete. Aqui também, às vezes, bebês reais são batizados
- Galeria de arte: com 47 metros de comprimento, também foi construída na reforma de 1825. As pinturas expostas são de artistas como Titian, Rembrandt, Rubens, Van Dyck and Claude — a maioria do século 17. Passou por uma revitalização em 2020.
- A grande escadaria: também desenhada por John Nash, inspirada na experiência no teatro de Londres, a proposta é criar uma expectativa para as salas que seguem às escadas. A decoração é com retratos de membros da coroa.
- Jardins do Palácio: tem 16 hectares de tamanho (o equivalente a praticamente 16 campos de futebol), tem também uma casa de verão, uma quadra de tênis e o Vaso de Waterloo, um vaso de mármore de Carrara com 4,6m de altura, que representa as vitórias britânicas em guerras e disputas.
Bombardeado, visitado e admirado: curiosidades do palácio
Aberto à visitação no verão britânico, registrando a passagem de mais de 50 mil pessoas todos os anos, segundo a realeza, o tour é um pouco superficial, levando em conta que são mais de 700 cômodos.
Alguns salões nobres são abertos, mas nenhum cômodo privado pode ser visitado. Os jardins e os estábulos reais estão incluídos no passeio, que tem que ser agendado com (muita) antecedência. A sala do trono, a grande escadaria, o salão de baile e a sala de música também podem ser visitados.
Há também um tour virtual, que pode ser acessado através deste link.
Poucos sabem, porém, que o palácio quase veio totalmente abaixo. Foi durante a Segunda Guerra Mundial, quando o exército nazista bombardeou sete vezes o local.
Em mais de um desses ataques, o rei George VI e a rainha Elizabeth I estavam na moradia oficial e escaparam por pouco de uma tragédia. Uma das alas afetadas pelas bombas foi a capela, reconstruída após a guerra.
Há, porém, um espaço que pode ser visitado o ano todo: a Galeria da Rainha, que reúne diversos objetos e tesouros da Família Real, incluindo móveis, joias, vestidos, obras de arte e objetos de uso pessoal de membros da coroa.

As coleções são trocadas, no mínimo, duas vezes ao ano. O nome do espaço não foi trocado para “Galeria do Rei”, e não há informações se isso vai acontecer de fato ou não.
É em Buckingham que acontece a tradicional e icônica troca da guarda real. A cerimônia acontece diariamente de abril a julho, período de alta temporada em Londres, e em dias alternados nos demais meses do ano.
Apesar dessa segurança reforçada, Célio Tasinafo lembra que já foram registradas a entrada de 12 pessoas sem autorização. A mais célebre invasão aconteceu em uma sexta-feira de 1982, quando Michael Fagan, um pintor e decorador desempregado de 33 anos, invadiu o quarto da rainha Elizabeth II por volta das 7h da manhã.
“Sem maiores dificuldades, aquela já era a 2ª vez que o invasor perambulava pelo palácio sem ser convidado. Na primeira, tomou meia garrafa de vinho e saiu sem qualquer problema”, recorda.
A propósito, nada pertence ao rei (ou rainha). “As instalações, obras de arte, móveis e objetos de decoração pertencem ao Estado. Em 1993, a rainha Elizabeth II autorizou a visitação durante os meses de agosto a setembro às salas de Estado. O valor arrecadado com os ingressos comprados pelos visitantes é utilizado na conservação do palácio”, acrescenta Tasinafo.