William Waack

Trump é "revolucionário" e redefiniu política externa dos EUA, diz Spektor

Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da FGV, detalha pivôs geopolíticos e nova abordagem americana com contenção da China e reaproximação com a Rússia

Jorge Fernando Rodrigues, da CNN
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O professor de Política e Relações Internacionais e vice-diretor da Escola de Relações Internacionais da FGV (Fundação Getulio Vargas), Matias Spektor, avalia o mandato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como sendo de profundas transformações na política externa americana. Para Spektor, Trump é um presidente “revolucionário” e que “conseguiu avançar em diversas frentes”. 

Declaração foi feita durante sua participação no programa ‘WW Especial’, da CNN, que discutiu se o atual cenário mundial está diante de um retorno à velha lei dos mais fortes.  

Segundo Spektor, uma das conquistas mais significativas de Trump foi inaugurar uma era em que "a estratégia nacional dos Estados Unidos é dedicada a fazer a contenção da China na Ásia". 

“Esse discurso, hoje dominante tanto à esquerda quanto à direita nos EUA, é produto do primeiro governo Trump e de sua estratégia de segurança nacional de 2017, que o governo Obama [Barack Obama] havia tentado fazer sem êxito”, destacou Spektor.  

Outro ponto levantado pelo professor da FGV é a abordagem de Trump em relação à Rússia. Spektor afirma que Trump é "o sujeito que argumenta que o lugar da Rússia não é como aliada da China, é como aliada tácita dos Estados Unidos contra uma China em ascensão".  

Essa postura, na avaliação do professor, levou à "abertura de canais com Moscou depois de muitos anos em que o Ocidente não tinha funcionamento com a capital russa". 

“Todo o diálogo entre Washington e Moscou estava obstaculizado, não mais como vimos recentemente no encontro do Alaska. E isso é um movimento que terá repercussões de longo prazo nas relações internacionais", ressaltou.  

 

Em relação ao Oriente Médio, Spektor aponta que a estratégia de Trump também foi marcante “ao dar sinal verde” ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para avançar com seu projeto de “uma chamada grande Israel”. 

“Ao dar sinal verde ao governo Netanyahu, Trump sinaliza sua disposição em fazer vista grossa e fazer aliança com os países do Golfo para poder desconcentrar a atenção americana no Oriente Médio e se voltar à tarefa central da estratégia dele, que é lidar com a China", explicou.  

“Nesse processo, ele [Trump] cometeu e comete muitos erros, mas é um homem que tem várias teorias erradas na cabeça. Acredita que o mercantilismo é uma alternativa, acredita que o protecionismo pode render bons frutos para os Estados Unidos”, criticou  

Além disso, Spektor aponta que Trump trouxe de volta a "ideia das esferas de influência". Ele explica que, mesmo quando os Estados Unidos acreditavam tacitamente que uma grande potência precisa ter um espaço geográfico onde é militarmente preponderante, os americanos "hesitavam em dizê-lo. O Trump não hesita e isso mudou o jogo completamente", concluiu. 

WW Especial 

Apresentado por William Waack, programa é exibido aos domingos, às 22h, em todas as plataformas da CNN Brasil.