Ucrânia critica acordo fracassado de 1994 que garantiria segurança do país

Memorando de Budapeste fez Kiev renunciar armas nucleares em troca de proteção

Tom Balmforth, da Reuters, Kiev
Prédio destruído em área da Ucrânia controlada pela Rússia  • REUTERS/Alexander Ermochenko
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A Ucrânia criticou nesta terça-feira (3) um acordo firmado há 30 anos, pelo qual renunciou às armas nucleares em troca de garantias de segurança que nunca se materializaram. Ao mesmo tempo, o país se esforça para receber um convite para se juntar à aliança da Otan.

Kiev pede garantias de segurança robustas para se proteger de novas agressões russas, já que o retorno do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, à Casa Branca aumenta os temores de um acordo rápido para a guerra que a deixaria exposta.

O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia destacou o Memorando de Budapeste de 1994, que fez Kiev abrir mão do terceiro maior arsenal nuclear do mundo em troca de garantias de segurança, inclusive da Rússia, após a dissolução soviética em 1991.

"Hoje, o Memorando de Budapeste é um monumento à falta de visão na tomada de decisões de segurança estratégica", escreveu o ministério em um comunicado, marcando o aniversário desta semana do acordo de 5 de dezembro de 1994.

Ele disse que o acordo "deve servir como um lembrete aos atuais líderes da comunidade euro-atlântica de que construir uma arquitetura de segurança europeia às custas dos interesses da Ucrânia, em vez de levá-los em consideração, está fadado ao fracasso".

A Ucrânia denuncia o memorando desde 2014, muito antes da invasão de 2022, quando tropas russas tomaram e anexaram a península da Crimeia, antes de apoiar grupos paramilitares no leste.

Os combates no leste da Ucrânia, que mataram milhares de pessoas, foram levados a um cessar-fogo desconfortável, seguido por dezenas de rodadas de negociações sob o que ficou conhecido como acordos de Minsk.

Mesmo depois de quase três anos de guerra total, Kiev se opõe à perspectiva de um retorno a negociações semelhantes que poderiam resultar em um cessar-fogo temporário, mas deixam em aberto a possibilidade de uma nova invasão russa.

"Chega do Memorando de Budapeste. Chega dos Acordos de Minsk. Duas vezes é o bastante, não podemos cair na mesma armadilha uma terceira vez. Simplesmente não temos o direito de fazer isso", disse o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

Kiev quer que os membros da Otan enviem um convite durante uma reunião dos ministros das Relações Exteriores da aliança que começa na terça-feira (3), enquanto a invasão se aproxima de sua marca de três anos e a Rússia avança no campo de batalha.

A declaração do Ministério das Relações Exteriores apelou aos Estados Unidos e à Grã-Bretanha, signatários do memorando de 1994, bem como à França e à China, que, segundo ele, também aderiram a ele, para apoiarem o fornecimento de garantias de segurança à Ucrânia.

"Estamos convencidos de que a única garantia real de segurança para a Ucrânia, bem como um impedimento a novas agressões russas contra a Ucrânia e outros estados, é a plena adesão da Ucrânia à Otan", afirmou.

A Rússia critica a ideia da integração da Ucrânia na Otan e diz que é uma ameaça inaceitável à segurança.