Zelensky deve anunciar demissão do comandante das Forças Armadas da Ucrânia, diz fonte
Relação entre os dois estaria estremecida após o fracasso da contra-ofensiva ucraniana
O popular chefe do Exército ucraniano, Valery Zaluzhny, foi chamado para uma reunião no gabinete do presidente Volodymyr Zelensky na segunda-feira (29), na qual foi informado que estava sendo demitido, disseram à CNN duas fontes familiarizadas com o assunto.
Isso acontece após semanas de especulações sobre as tensões entre Volodymyr Zelensky e seu (então) principal comandante.
Um anúncio formal ainda não foi feito, o que significa que Zaluzhny estava no cargo até a publicação desta matéria. No entanto, um decreto presidencial é esperado até o final da semana, afirmou uma das fontes à CNN.
Essa seria a maior mudança militar de Zelensky desde o início da invasão da Rússia, há quase dois anos.
Os rumores da reunião e da demissão de Zaluzhny, que ganharam força em Kiev na noite de segunda-feira, parecem confirmar um desentendimento entre o presidente e seu comandante-chefe após o fracasso da contra-ofensiva ucraniana no ano passado.
É dito que as tensões aumentaram principalmente quando Zaluzhny descreveu a guerra com a Rússia como um impasse, em entrevista e ensaio para a revista The Economist, em novembro.
Na segunda-feira, o porta-voz presidencial Serhiy Nykyforov afirmou à CNN e a outros veículos que os rumores sobre a demissão do chefe do Exército eram falsos.
O Ministério da Defesa também divulgou uma mensagem nos seus canais de comunicação que dizia: “Caros jornalistas, uma resposta imediata a todos: Não, isto não é verdade”.
Além disso, no seu discurso diário noturno de segunda-feira, o próprio Zelensky não fez qualquer referência ao chefe do Exército.
Mas, de acordo com uma das fontes, e em linha com outros relatos, na pequena reunião no seu gabinete na segunda-feira, que contou com a presença do ministro da Defesa Rustem Umerov, o presidente declarou que tinha “tomado a decisão de demitir o comandante-chefe das Forças Armadas”.
Durante a conversa, descrita como “calma”, Zelensky passou então a oferecer a Zaluzhny uma posição diferente, mas o militar recusou.
O presidente da Ucrânia sublinhou então a sua decisão, pontuando que Zaluzhny ter recusado o novo cargo não alterou o fato de estar sendo afastado do cargo.
A CNN entrou em contato com o gabinete do presidente nesta quarta-feira solicitando mais comentários, mas não recebeu resposta.
Possíveis substitutos
Dois nomes em particular estão sendo discutidos como possíveis sucessores, destacou uma das fontes, um comandante militar sênior, à CNN.
Uma das pessoas cogitadas é o atual chefe da Direção de Inteligência de Defesa, Kyrylo Budanov, um general de 38 anos conhecido por ter fortes laços com Zelensky e visto como representante de uma nova geração de líderes militares.
Questionado pela CNN em entrevista na terça-feira (30) se estava prestes a se tornar o novo comandante-chefe da Ucrânia, Budanov descartou a ideia, sugerindo que era improvável que falasse com a CNN naquele momento se tal nomeação tivesse acabado de ser feita.
“Estamos em guerra e todos os lados estão utilizando todos os meios disponíveis, incluindo a guerra de informação”, acrescentou o chefe da espionagem militar.
O outro favorito é Oleksandr Syrskyi, atual Comandante das Forças Terrestres Ucranianas, ressaltou o comandante militar sênior à CNN.
O gabinete de Syrskyi não respondeu à CNN.
Um dos líderes mais populares da Ucrânia
Apesar do fracasso da contra-ofensiva da Ucrânia em fazer qualquer progresso significativo na repressão das forças russas no sul e no leste do país, Zaluzhny continua sendo um dos líderes mais populares do país.
Uma sondagem publicada pelo Instituto de Sociologia de Kiev em dezembro revelou que 88% dos ucranianos apoiavam o principal general. O índice de aprovação de Zelensky, embora também alto, foi consideravelmente inferior, de 62%.
A pesquisa foi realizada depois que diferenças entre os dois líderes aparentemente foram reveladas sobre o andamento da guerra.
“Tal como na Primeira Guerra Mundial, atingimos o nível de tecnologia que nos coloca num impasse”, escreveu Zaluzhny no The Economist em novembro, quando se tornou claro que os campos minados profundos da Rússia e o esmagador fogo de artilharia pesada tinham, em grande parte, impedido o sucesso da contra-ofensiva.
“Provavelmente não haverá um avanço profundo e bonito”, mas um equilíbrio de perdas e destruição devastadoras, acrescentou o chefe do Exército.
Esses comentários atraíram críticas imediatas do gabinete do presidente.
“Se eu estivesse no Exército, a última coisa que faria seria comentar à imprensa, ao público, sobre o que está acontecendo na frente [de batalha e] o que poderá acontecer na frente, porque assim facilitaremos o trabalho do agressor”, disse Ihor Zhovkva, vice-chefe do gabinete do presidente, na televisão ucraniana na época.
Zelensky não criticou abertamente Zaluzhny, mas disse em uma coletiva de imprensa ao vivo em dezembro: “Estou à espera de coisas muito concretas no campo de batalha. A estratégia é clara: temos compreensão das nossas ações. Quero ver detalhes”, informou a Reuters.
Falha na contra-ofensiva
Lançada em junho, a contra-ofensiva da Ucrânia foi o seu principal esforço para expulsar as forças russas dos territórios que ocupam desde 2022, especialmente no sul do país.
A Ucrânia pretendia avançar para sul a partir da cidade de Orikhiv, em direção ao Mar de Azov, dividindo as forças da Rússia em duas e cortando sua ponte terrestre para a Crimeia.
Mas os ganhos da Ucrânia foram modestos. Suas forças tentaram avançar de Orikhiv em direção a Tokmak, mas só conseguiram chegar a Robotyne, pouco mais de 20 quilômetros ao sul.
A falta de progressos levou a um apelo das suas Forças Armadas, no final de dezembro, para que fossem mobilizados até meio milhão de novos recrutas. O pedido está atualmente no parlamento.
Um soldado contatado pela CNN que atualmente luta em torno de Avdiivka, no leste, afirmou que qualquer decisão de demitir Zaluzhny foi um erro.
“Ele é um general digno. Nosso governo quer derrubá-lo porque ele não é muito conveniente para eles”, avaliou o soldado, acrescentando: “Parece que os ‘caras de Zelensky’ nos venderam há muito tempo”.