Zelensky enfrenta tarefa impossível antes das reuniões em Washington
Em busca de manter assistência americana à Ucrânia, Zelensky fará encontro crucial com senadores e presidente da Câmara, Mike Johnson, na terça-feira; Entenda o que está em jogo
O destino de bilhões em assistência à Ucrânia permanece no limbo nesta segunda-feira (11), mesmo com a expectativa de que o presidente Volodymyr Zelensky faça uma apresentação crucial aos senadores e ao presidente da Câmara dos Estados Unidos, Mike Johnson, na terça-feira (12).
É improvável que a visita de Zelensky a Washington – a terceira desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022 – mude uma dinâmica agora consolidada em Washington de que os republicanos, mesmo aqueles que apoiam financiamento adicional para a Ucrânia, não estão dispostos a fazer mais, a menos que os democratas e a Casa Branca façam concessões sobre grandes mudanças políticas na fronteira sul dos EUA.
É um momento complicado para a Casa Branca, que tem defendido repetidamente que Zelensky e o seu país estão em um ponto de inflexão crítico na sua luta pela democracia. E, no entanto, a administração do presidente Joe Biden poderá não ser capaz de entregar os recursos que prometeu se uma luta interna de décadas sobre a imigração não produzir um avanço rapidamente.
Resumindo: é mais provável que o Congresso saia no final desta semana sem ter aprovado ajuda adicional, sem um avanço na política de fronteiras e sem um roteiro claro de como garantir que o financiamento seja aprovado nos meses difíceis que se aproximam, quando um confronto sobre os gastos do governo, um inquérito de impeachment e as eleições presidenciais estiverem em pleno andamento.
Quanto dinheiro realmente resta?
Há apenas cerca de US$ 2 bilhões ainda disponíveis aos olhos da administração que os EUA podem enviar. Restam US$ 4,8 bilhões na autoridade de retirada presidencial, mas esse financiamento é usado para enviar os arsenais existentes dos EUA para a Ucrânia e os EUA têm cerca de apenas US$ 1 bilhão restantes para reabastecer esses arsenais. Restam então cerca de US$ 1 bilhão em fundos de inteligência e vigilância de defesa.
O que observar
As reuniões cruciais de Zelensky no Capitólio com os senadores: Os senadores estão bem conscientes da dinâmica no campo de batalha, das necessidades urgentes da Ucrânia e das implicações que a falta de ação do Congresso pode ter nas perspectivas de longo prazo da democracia na Europa e em todo o mundo.
Isso foi tema de um briefing confidencial na semana passada e uma questão que os líderes de ambos os lados não negam. Republicanos como o líder da minoria Mitch McConnell, John Thune e outros líderes como o senador John Cornyn do Texas falam sobre isso o tempo todo, mas pouco fez para impactar a visão de que a segurança nas fronteiras deve fazer parte de qualquer pacote de ajuda adicional.
Isso muda, suaviza ou contorna? É improvável. Isso muda a visão dos democratas sobre o que estariam dispostos a oferecer na fronteira? Veremos.
O presidente da Câmara e Zelensky: Talvez a reunião mais crucial na terça-feira seja aquela entre Johnson, o recém-nomeado presidente da Câmara, e Zelensky. A última vez que Zelensky veio a Washington, Kevin McCarthy estava na posição.
Sensível à reação conservadora que poderia enfrentar por parecer muito amigável com Zelensky, McCarthy evitou uma oportunidade de foto no corredor e, em vez de acompanhar Zelensky a uma reunião, o líder democrata Hakeem Jeffries o fez. Poucas semanas depois, McCarthy perdeu o emprego. O presidente da Câmara pode ser novo, mas a dinâmica interna da conferência do Partido Republicano permanece inalterada.
“Os EUA enviou dinheiro suficiente para a Ucrânia. Deveríamos dizer a Zelensky para buscar a paz”, tuitou o deputado republicano Matt Gaetz, da Flórida, no domingo (10).
Johnson sinalizou que apoia mais ajuda à Ucrânia, mas também deixou claro aos líderes do Senado que o preço para colocar a ajuda no plenário da Câmara será elevado. Uma reunião com Zelensky muda a dinâmica subjacente do momento? Improvável.
Johnson não pode apresentar uma ajuda a Zelensky sem uma forte segurança nas fronteiras e, mesmo assim, ainda poderá perder dezenas de votos do Partido Republicano.
Mas essa ainda é uma grande oportunidade para Zelensky construir uma relação com um presidente da Câmara que ainda tem alguma graça na sua conferência e que acabará por determinar nos próximos meses – mais do que qualquer outra figura em Washington – se a Ucrânia receberá a ajuda dos EUA que acredita ser tão crucial para a sua sobrevivência como país.
Conversas sobre situação das fronteiras
Os negociadores do Senado continuaram conversando durante o fim de semana, mas não houve grandes avanços.
“Ainda estamos na sala tentando lidar com as demandas republicanas”, disse o senador Chris Murphy, de Connecticut, à NBC. “Não vamos legalizar as políticas de imigração de Donald Trump. Seria ruim para o país”.
O senador James Lankford, o principal negociador republicano, disse que muito progresso foi feito, mas é hora de terminar isso e tomar uma decisão e fazer o possível para ajudar a nação.
Sempre foi improvável que os legisladores permanecessem em Washington para aprovar uma proposta suplementar, mas se os negociadores nem sequer estiverem à beira de um acordo, se não estiverem na fase final das negociações, é praticamente garantido que os legisladores voltarão para casa logo, salvo qualquer pressão de última hora da liderança para mantê-los aqui e forçar esse progresso.
As coisas que ainda estão em jogo neste momento são muito conservadoras para os democratas concordarem, dizem fontes à CNN.
A CNN relatou na sexta-feira os pontos de discórdia que permaneceram e a nova lista de demandas do Partido Republicano que incluía, entre outras coisas, uma repressão massiva à forma como o governo usa a liberdade condicional e uma nova autoridade nacional de expulsão que era semelhante a da era Covid que permitia a patrulha de fronteira rapidamente devolver os migrantes na fronteira EUA-México.
Os republicanos também estão tentando inserir uma política que proibiria alguém de procurar asilo nos EUA se passasse por um “terceiro país seguro” onde poderia ter solicitado asilo.
Viagem aos EUA foi organizada na sexta-feira, disse autoridade da Casa Branca
A viagem de última hora de Zelensky a Washington foi organizada no final da semana passada, com os detalhes sendo finalizados na sexta-feira (8), disse uma autoridade da Casa Branca, enquanto mais ajuda ao país devastado pela guerra permanece paralisada no Capitólio.
As conversas sobre a viagem surgiram no meio da semana, enquanto o presidente ucraniano se preparava para ir à Argentina para a posse do presidente Javier Milei no fim de semana. Autoridades dos EUA e da Ucrânia concordaram em avançar com a visita a Washington, uma vez que Zelensky já estaria no mesmo hemisfério, dando à Casa Branca a oportunidade de mostrar compromisso com a Ucrânia e explicar por que esse apoio deveria continuar, disse a autoridade.
“Ele estava ansioso para vir para os Estados Unidos e estamos felizes por tê-lo neste momento crítico”, disse a autoridade. “Quem é o melhor para advogar pelo seu país do que o presidente Zelensky?”.
*Com informações de Arlette Saenz, da CNN.