Concurso Miss Holanda chega ao fim e vira plataforma focada em diversidade
Decisão ocorre um ano após coroação da primeira vencedora trans e marca mudança de paradigma nos concursos de beleza tradicionais
O concurso Miss Holanda foi cancelado, após os organizadores da competição afirmarem que era hora de mudança. O concurso não será mais realizado e, em seu lugar, os responsáveis introduziram uma nova iniciativa destinada a “inspirar” jovens de diferentes maneiras.
A mudança ocorre pouco mais de um ano após os jurados coroarem sua primeira vencedora mulher trans, Rikkie Kollé.
Um comunicado no site da competição anunciou seu encerramento e o estabelecimento de uma nova plataforma chamada “Niet Meer Van Deze Tijd” (“Não Mais Deste Tempo”). O texto afirma: “Após anos de história repletos de glamour, talento e inspiração, o Miss Holanda se despede do nome que conquistou o coração de muitas pessoas. Mas este não é o fim; é um novo começo. O mundo está mudando, e nós estamos mudando com ele.”
“O Miss Holanda está se transformando em No Longer of this Time: uma plataforma que gira em torno de saúde mental, mídias sociais, diversidade, autoexpressão e muito mais. Sem mais coroas, mas histórias que conectam. Sem vestidos, mas sonhos que ganham vida. Aqui inspiramos jovens a serem eles mesmos em um mundo em constante mudança.”
Em declaração à CNN, Monica van Ee, diretora do Miss Holanda e fundadora da nova plataforma, disse: “As mulheres estão inseguras devido, entre outras coisas, ao crescimento das mídias sociais e suas imagens irreais de beleza.”
Defendendo o histórico do concurso, ela disse que sua equipe “trabalhou intensivamente com as participantes” ao longo dos anos, e que o empoderamento das mulheres não era apenas “palavras vazias, mas um movimento.”
Van Ee disse que o motivo para abandonar as “seleções e finais” surgiu inicialmente da “obstinação do espectador” e críticas como “ela é muito branca” ou “ela é muito negra.”
“Em segundo lugar, gostaríamos de usar nossa energia positiva em vez de sempre ter que ficar na defensiva. Agora podemos alcançar a todos e proporcionar a solidariedade adequada. Acreditamos em nossa plataforma e talvez uma faixa e uma coroa estejam ultrapassadas. Mas mulheres que apoiam umas às outras e se ajudam, isso sempre foi importante para nós!”
Kollé, que foi uma das duas mulheres trans que competiram no Miss Universo 2023, usou sua influência para promover uma visão mais inclusiva do mundo dos concursos. Em um vídeo postado no Instagram no ano passado, ela disse: “O Miss Universo nos pediu para nos descrevermos em uma palavra. A palavra que escolho é “vitória”, porque como um garotinho eu conquistei todas as coisas que surgiram em meu caminho — e olhem para mim agora, aqui como uma mulher trans forte, empoderada e confiante.”
Mudanças nos concursos de beleza
O mundo dos concursos de beleza tem sido forçado a se modernizar nos últimos anos, já que os valores tradicionalmente abraçados pelos shows não ressoam com as gerações mais jovens.
O Miss Universo deste ano, realizado na Cidade do México no mês passado, admitiu mulheres com mais de 28 anos pela primeira vez. Isso seguiu as mudanças do ano passado para suspender a proibição de incluir mulheres grávidas ou mães, e mulheres que são — ou já foram — casadas. Essa regra ainda permanece em alguns concursos, no entanto.
Em setembro, uma mulher de Nova York apresentou uma queixa à Comissão de Direitos Humanos da cidade buscando acabar com a exclusão de mães. A organização Miss Universo foi submetida a escrutínio no início deste ano como empresa controladora do Miss USA. Em maio, Miss USA e Miss Teen USA renunciaram com dias de diferença em meio a alegações de má gestão, toxicidade e condições que impactaram sua saúde mental.
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