Estampa mais divertida da moda tem uma história fascinante
Padrão criado há décadas foi escolhido como uma das principais tendências de 2025

Quando a princesa Diana (1961-1997) chegou ao Royal Ascot em 1988, ela chamou atenção com um vestido de poás perfeitamente combinado a seu chapéu estilo “pirex”.
Mais de três décadas depois, no tradicional evento de corridas de cavalo, Catherine, Princesa de Gales, despertou comparações com a falecida sogra ao usar um vestido semelhante. Esse, da estilista Alessandra Rich, tinha gola alta e babados, mas também trazia a atemporal estampa de bolinhas.
Os poás mantiveram sua popularidade ao longo da história da moda e, nos últimos meses, parecem estar em todos os lugares.
Na estreia mundial do filme “A Hora do Mal”, em julho, em Los Angeles, a atriz Julia Garner usou um vestido de um ombro só, microestampado, da coleção Cruise 2026 da Gucci.
No dia anterior, Rose Byrne esteve na estreia da segunda temporada de “Amor Platônico” com um vestido tomara-que-caia preto e branco de poás, com algumas bolinhas em formato de lágrima, da marca belga Bernadette.
Hailey Bieber também entrou na tendência, sendo fotografada usando calças capri de bolinhas durante o verão.
O casal Rihanna e A$AP Rocky recentemente compartilhou seu gosto pelo padrão — em especial uma gravata de poás feita sob medida pela grife californiana ERL — o que levou a Vogue a definir a estação como “o verão dos poás subvertidos”.
Enquanto isso, na Semana de Moda de Copenhague em agosto, os convidados dos desfiles pareceram preferir a estampa às tradicionais flores, listras e oncinha, completando seus visuais com gravatas, corta-ventos, blazers, shorts balonê ou bandanas de bolinhas.
O sucesso é tanto que a rede social Pinterest nomeou o poá como uma das principais tendências para o outono de 2025. As buscas por “roupas de bolinhas” cresceram 1.026% em relação ao ano anterior, enquanto “unhas de bolinhas” aumentaram 1.296%, segundo a plataforma.
Um passado manchado
A mudança radical da produção manual para a mecanizada durante a Revolução Industrial tornou possível criar “bolinhas perfeitamente redondas e espaçadas pela primeira vez”, explica Georgina Ripley, curadora principal de design moderno e contemporâneo do National Museums Scotland.
“Com a moda dos tecidos estampados em alta no século 19, coincidiu, por volta da década de 1840, com a popularização da dança tcheca Polka na Europa e nos Estados Unidos. O nome Polka foi associado a vários itens da época, mas acabou permanecendo ligado ao padrão têxtil”, disse ela à CNN.
Séculos antes, na Idade Média, no entanto, manchas ou bolinhas de qualquer tipo eram vistas com desconfiança. “Devido à semelhança visual com feridas causadas por doenças como peste, lepra, varíola, sífilis e sarampo, as bolinhas estavam muito mais associadas à má saúde, contágio e falta de limpeza”, afirmou Ripley.
No início do século 19, essas associações mudaram, já que “uma forma mais eficaz de produzir o padrão tornou-o sinônimo de tecidos industrializados e, portanto, de modernidade”, disse Ripley. A elite buscava roupas modernas, o que deu aos tecidos de bolinhas fabricados à máquina uma base natural de fãs entre as damas da sociedade.
Em uma “estampa de moda” de 1827, parte do acervo do Genesee Country Village & Museum em Mumford, Nova York, uma mulher aparece ilustrada usando um vestido rosa e preto de poás, com mangas bufantes e camadas na barra.
Na década de 1920, os poás tiveram um grande boom, explicou Ripley, em parte graças a Norma Smallwood, Miss Oklahoma de 1926 e vencedora do Miss America naquele ano, que usou um maiô estampado no concurso.

Dois anos depois, a estampa ganhou outro aval: “O fato de Walt Disney ter apresentado Minnie Mouse em 1928 usando um vestido vermelho de bolinhas com laço combinando é uma prova de seu espaço na cultura popular dos anos 1920”, disse Ripley.
Desde então, os poás aparecem na cultura pop de todas as décadas seguintes, observou Ripley. No filme “A Mulher do Dia” (1942), o tailleur de Katharine Hepburn com bolinhas preto e branco se tornou um dos momentos de moda mais memoráveis da obra. (Esse figurino, junto com seus outros ternos de alfaiataria, consolidou seu estilo único nas telas e ajudou a fixar sua reputação como ícone fashion.)

Outras figuras também marcaram época com a estampa: Marilyn Monroe nos anos 1950, Twiggy na cena Mod dos anos 1960, a princesa Diana nos anos 1980 e Julia Roberts na cena do hipódromo em “Uma Linda Mulher” (1990).

Marcas também buscaram inspiração na padronagem. A Comme des Garçons Play, fundada pela estilista japonesa Rei Kawakubo, transformou camisetas e tênis de bolinhas em itens cult.
Já a artista japonesa Yayoi Kusama construiu sua vida artística em torno das bolinhas. Sua primeira colaboração com a Louis Vuitton, em 2012, trouxe cores primárias em poás estampados sobre as bolsas monogramadas da maison francesa.
A estampa também marcou presença no varejo. Entre os vestidos virais da última década, o modelo de poás da Zara, lançado em 2019 (um vestido de mangas longas vendido a US$ 50, cerca de R$ 270), é um dos mais reconhecidos, em parte pelo impacto nas redes sociais.
(Entre 2019 e 2021, um perfil dedicado no Instagram, @hot4thespot, registrava avistamentos do vestido em todo o mundo.)
Visões contemporâneas
Os poás têm ido e voltado da moda — embora, desde os desfiles de Primavera-Verão 2025, em que grifes como Valentino e Carolina Herrera mostraram coleções cheias de bolinhas, tenham retomado força.
Para o Outono-Inverno 2025, Dries Van Noten, Nina Ricci, Sandy Liang, Schiaparelli e Rokh apresentaram suas versões da estampa.
Já na coleção Primavera-Verão 2026 da Celine — estreia do novo diretor criativo Michael Rider — o poá apareceu desde detalhes em golas até saias volumosas inteiras.
Em 2025, a versatilidade das bolinhas continua sendo seu maior trunfo. “Elas podem ser ousadas ou sutis, divertidas ou elegantes, dependendo de como são usadas”, disse Katie Ruensumran, consultora criativa e fã da estampa.
Dando dicas de estilo, ela acrescentou: “Tudo se resume a contraste e escala. Eu gosto de misturar poás grandes com listras ou outras estampas — isso deixa o visual gráfico e marcante. Acessórios também são uma forma divertida de brincar. A chave é o equilíbrio.”



