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    Mural em SP usa cinzas de queimadas e lama do RS para pedir fim do desmatamento

    Obra do artista de rua brasileiro Mundano mede 48 por 30 metros e foi inaugurada nesta quarta-feira (23)

    Amanda PerobelliLaís Moraisda Reuters , São Paulo

    A mais recente obra do artista de rua brasileiro Mundano incorpora cinzas de queimadas e lama de enchentes do Brasil para criar um mural gigante pedindo o fim do desmatamento.

    O mural foi inaugurado nesta quarta-feira (23) na lateral de um prédio de 11 andares no centro da maior cidade da América Latina, adicionando uma mensagem colorida e pontual à rica coleção de grafite de São Paulo.

    A obra de 48 por 30 metros retrata troncos de árvores queimadas de uma floresta devastada e o rosto de uma indígena segurando uma placa em inglês que diz: “Pare a Destruição”.

    O mural foi pintado com cores feitas com as cinzas de queimadas florestais no Brasil, incluindo a Amazônia, onde áreas da floresta tropical foram destruídas por incêndios recentes na pior seca já registrada. Mundano disse à Reuters que também usou lama das grandes enchentes no sul do Brasil no início deste ano.

    A mulher retratada no mural é a líder indígena Alessandra Korap Munduruku, que liderou uma campanha bem-sucedida para impedir que empresas multinacionais de mineração prospectassem nas terras ancestrais de sua tribo na Amazônia, pela qual ganhou o Prêmio Ambiental Goldman em 2023.

    Mundano disse que seu mural é um protesto contra empresas que expandiram a fronteira agrícola na Floresta Amazônica com plantações de soja em larga escala e pecuária bovina, transformando o Brasil em um dos maiores exportadores de alimentos do mundo.

    O mural tem como alvo específico a trading agrícola norte-americana Cargill Inc, pintando temporariamente os nomes de membros da família Cargill no mural. Mundano disse que queria que a família Cargill, dona da empresa, cumprisse sua promessa de eliminar o desmatamento de sua cadeia de suprimentos.

    A Cargill se comprometeu a eliminar o desmatamento de sua cadeia de suprimentos das principais culturas de sequeiro no Brasil até 2025 e de sua cadeia de fornecimento de soja na América do Sul até 2030.

    “Estamos no caminho certo para cumprir esse compromisso”, disse a Cargill em um comunicado, acrescentando que o mural se baseava em informações imprecisas.

    “O fato é que a Cargill acelerou seu compromisso de eliminar o desmatamento e a conversão de terras de nossas cadeias de suprimentos diretas e indiretas de soja, milho, trigo e algodão no Brasil, Argentina e Uruguai até 2025”, disse o comunicado.

    Junto com cinzas e lama, Mundano usou argila de reservas indígenas que lutam para ter seus direitos à terra reconhecidos, muitas vezes em conflitos com agricultores. O mural também apresenta tinta feita de urucum, um fruto tropical vermelho usado como pintura corporal pelas tribos da Amazônia.

    “Este é talvez o maior mural já feito com pigmentos naturais”, disse Mundano enquanto misturava tintas para a obra.

    “Os nomes que estamos escrevendo aqui são de bilionários que ainda vivem em um modelo baseado na destruição de biomas ecossistêmicos e contribuem para a emergência climática”, disse ele.

    O mural é uma colaboração com a organização sem fins lucrativos de conservação Stand.earth, que financiou o projeto.

    *Com reportagem de Amanda Perobelli e Lais Morais, escrita por Anthony Boadle e editada por Rosalba O’Brien, da Reuters

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