Jacarezinho: denúncia não fala em aliciamento de menores e sequestro de trens

A ação, comandada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), tinha o objetivo de cumprir a ordem de prisão de 21 suspeitos

Fernando Molica, da CNN
Operação da Polícia Civil no Jacarezinho resultou em 25 mortes
Polícia realizou uma operação que terminou em 28 mortes no Jacarezinho  • Foto: Reprodução / CNN
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A denúncia do Ministério Público contra os 21 alvos da operação no Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro, realizada na última quinta-feira (6) afirma que eles são traficantes de drogas, mas não diz que seriam responsáveis por aliciamento de crianças e adolescentes, roubo de cargas, assaltos a pedestres, homicídios e sequestros de trens da SuperVia.

Na última quinta-feira, esses outros crimes também foram mencionados pela Polícia Civil do Rio de Janeiro para justificar a ação, que terminou com 28 mortos, entre eles, o inspetor André Leonardo de Mello Frias, atingido por um tiro logo depois do início da operação.

A ação, comandada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), tinha o objetivo de cumprir a ordem de prisão dos 21 suspeitos, decretada pelo juiz Carlos Eduardo Carvalho de Figueiredo, da 19ª Vara Criminal. Dos procurados, três foram presos e outros três morreram.

Na denúncia, o promotor Salvador Bemerguy afirma que, dos acusados, 20 eram "soldados" do tráfico e um deles atuava como "vapor", ou seja, na venda de drogas.

A acusação é baseada em fotografias publicadas em redes sociais pelos próprios investigados, que nelas aparecem portando armas como fuzis. Há também imagens de drogas que seriam vendidas na favela.

Segundo o MP, há na favela uma "estrutura de guerra", que inclui "centenas de 'soldados' munidos com fuzis, pistolas, granadas, coletes balísticos, roupas camufladas e todo tipo de acessórios de uso militar".

Nenhum dos investigados foi citado na denúncia como sendo chefe ou gerente do tráfico na favela. Todos os 21 - entre eles, uma mulher - são acusados de tráfico e associação para o tráfico de drogas.

Em comunicado divulgado no dia da operação, a Polícia Civil afirmou que a investigação "teve início a partir de notícias recebidas pela DPCA de que traficantes vêm aliciando crianças e adolescentes para integrar a facção que domina o território". A denúncia cita apenas inquérito aberto na 25ª Delegacia Policial.

A prisão dos denunciados foi decretada no último dia 28, quando a Justiça também levantou o sigilo dos autos. A operação só seria realizada oito dias depois.

Em nota enviada à CNN no início da noite deste sábado (8), a Polícia Civil disse que um outro inquérito, que tramita em sigilo, apura a cooptação de jovens para o tráfico no Jacarezinho. Afirma que a investigação "já forneceu várias informações de inteligência nesse contexto" e que há também dados vindos do Disque-Denúncia "que corroboram" a apuração.

Segundo a Polícia Civil, as apurações "não necessariamente precisam estar vinculadas a um mesmo inquérito" e que a operação foi baseada em diversos "trabalhos de investigação e inteligência".

De acordo com a nota,  o inquérito que gerou a operação no Jacarezinho começou na 25ª DP, mas foi deslocado  por conta da realocação do delegado responsável pela investigação.