Alunos da rede pública são maioria entre os calouros da USP
Pela primeira vez, Universidade de São Paulo tem mais da metade dos ingressantes vindos de escolas públicas
O perfil dos novos alunos da USP (Universidade de São Paulo) este ano é histórico e traz à tona uma discussão relevante para a educação brasileira: a política de reserva de vagas nas instituições públicas.
Em 2021, 10.992 vagas foram preenchidas na USP e 5.678 são alunos que vieram de escolas públicas, 51,7% do total. É o maior percentual atingido pela universidade desde 1995, quando a instituição passou a registrar o perfil dos ingressantes.
O reitor da USP, professor Vahan Agopyan, avalia que “essa inclusão tem sido extremamente significativa para a universidade se enriquecer mais e interagir ainda mais com a sociedade. Essa é uma tarefa muito importante: dar oportunidade a esses jovens, que são muito talentosos.”
O ingresso de estudantes da rede pública na principal instituição de ensino superior do Brasil é fundamental para que as desigualdades presentes na educação sejam diminuídas. Os jovens de todas as classes sociais não podem perder o direito de sonhar. Cursar Medicina em uma instituição particular, por exemplo, pode custar mais de 10 salários mínimos por mês, realidade que deixa o estudante sem a oportunidade de lutar pelo “sonho de ser médico”.
Mesmo com um cenário histórico, com maioria de ingressantes vinda das escolas públicas, o desafio de incluir os mais pobres continua. A renda média dos calouros segue acima de cinco salários mínimos.
Para que a inclusão de pessoas de baixa renda no ensino superior aconteça, uma combinação de políticas estruturais precisa ser colocada em prática. O investimento na estrutura das escolas, a formação contínua do professor, a democratização do acesso à informação, a inserção da tecnologia no ambiente escolar e uma gestão que tenha condições de acompanhar a realidade de cada aluno são apenas alguns exemplos do que precisa ser feito.
Diferentemente da USP, que confirmou a reserva de vagas em 2017, as universidades federais já implementaram essa política, oficialmente, em 2012. Por essa razão, a inclusão de alunos com renda familiar mais baixa está adiantada.
Um estudo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) revela que 70,2% dos estudantes de universidades federais pertencem a famílias de baixa renda. Deste total, pouco mais de 52% têm renda de até um salário mínimo.
Em relação aos estudantes pretos, pardos e indígenas (PPI) vindos da rede pública, o índice se manteve o mesmo nos últimos dois anos: 44,1%. Na perspectiva do total de vagas da USP, os ingressantes desse grupo representam 27,4%.