Após 300 anos na Dinamarca, manto Tupinambá volta ao Brasil
O manto Tupinambá voltou ao Brasil. O Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), confirmou a chegada da peça nesta quinta-feira (11), após ter passado mais de 300 anos no Museu Nacional da Dinamarca.
Peça sagrada pelo uso em rituais religiosos e outras cerimônias indígenas no Brasil, o manto foi levado no período colonial, durante a ocupação holandesa no século 17. O objeto representa uma parte da cultura material e das tradições artesanais do povo Tupinambá.
O Museu planeja voltar a expor o manto nas próximas semanas, após a adoção de todos os procedimentos necessários para a “perfeita conservação dessa peça tão importante, e sagrada para nossos povos originários”, afirma em nota.
Em junho do ano passado, após negociações entre a embaixada brasileira em Copenhague, o Museu Nacional do Rio de Janeiro e o Museu Nacional da Dinamarca, o museu dinamarquês confirmou a doação da peça.
A devolução do manto ao Brasil envolveu esforços entre Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Cultura, Ministério da Educação e Ministério dos Povos Indígenas.
A repatriação do artefato tupinambá foi vista como uma iniciativa a ser seguida por outros países, segundo o Museu Nacional.
Veja onde estão outras relíquias brasileiras espalhadas
O processo de repatriação do manto jogou luz na discussão sobre as inúmeras relíquias etnológicas — muitas vezes indígenas — que foram levadas para o exterior e seguem fora do Brasil, expostas em museus ou integrando coleções de arte privadas. Veja algumas acima.
Especialistas na área ouvidas pela CNN defendem que a repatriação não acontece sem que um conjunto de outras ações a acompanhem. A proposta é manter vivo o legado imaterial dos povos que produziram os artefatos, usando as peças como ponto de partida para o desenvolvimento de políticas públicas.
Não adianta trazer para o Brasil e isso ficar num lugar que a gente não tem acesso, que não tem políticas, onde não vai ser discutido nada. Não é somente trazer de volta, e sim questionar como essas instituições podem organizar uma forma de reparação histórica para essas comunidades, para as populações indígenas do Brasil
“É necessário que se discuta sobre isso, que se crie um debate maior. Não é um debate de apenas uma comunidade, porque isso envolve a identidade, a cultura e a história brasileira.”
Benites defende que os indígenas deveriam ter acesso garantido às peças devolvidas ao Brasil, uma vez que elas foram produzidas por eles.
“Quando a gente tem vontade ou desejo de buscar, nós encontramos inúmeras dificuldades de acesso sobre elas. Às vezes, por cansaço, a gente desiste. Tem que se criar políticas para os indígenas terem acesso a esses artefatos”, defende.