Denúncia Felca: adultização afeta desenvolvimento, explica especialista
Na sexta-feira (15), o influenciador Hytalo Santos e o marido, Israel Vicente, foram presos em São Paulo, por exploração de menores na criação de conteúdo para a internet; investigação ocorre desde 2024
Na última semana, um vídeo feito pelo influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, viralizou nas redes sociais após denunciar a prática de exploração e sexualização de menores para criação de conteúdo na internet.
Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o mês de agosto concentrou o maior número de denúncias sobre violência sexual físicas e psicológicas contra crianças e adolescentes no ambiente virtual com 261 registros. Dessas denúncias, 243 foram feitas após a publicação do vídeo de Felca.
Em entrevista à CNN, Maurício Okamura, médico psiquiatra na Amil, explicou sobre os prejuízos dessa exposição precoce para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. "Isso (a adultização) pode causar confusão em relação à identidade, vínculos e limites pessoais, impactando a formação da autoconfiança e do equilíbrio emocional", avaliou.
O contato precoce a este tipo de conteúdo, principalmente aos sexualizados, pode causar ansiedade ou vergonha, e até mesmo sintomas de depressão. "Quando a imagem de uma pessoa é tratada como um objeto antes dela se tornar completamente independente e madura, há possibilidade de criação de expectativas externas difíceis de atender", destacou Okamura.
"A comparação constante, o medo de não corresponder a padrões e eventuais críticas ou assédio online podem agravar vulnerabilidades emocionais, gerando preocupação com aceitação, irritação, tristeza e sintomas de ansiedade ou depressão", pontuou o psiquiatra.
Com o desafio de educar uma geração cronicamente online, o especialista orienta os responsáveis a escutarem as crianças e os adolescentes. "Manter o diálogo sobre o conteúdo online, estabelecer regras de uso da internet e incentivar atividades offline são fundamentais", diz o médico.
"Observe sinais de sofrimento emocional e procure ajuda profissional se necessário. Utilize filtros de conteúdo e supervisione as configurações de privacidade nas redes sociais", orienta.
Denúncias
De 2020 a 2024, o Brasil registrou 7.524 denúncias de violência sexual físicas e psicológicas contra crianças e adolescentes.
Neste ano, apenas até a segunda-feira (11), 1.057 denúncias dessa natureza já foram registradas no país. Cerca de 72% dos registros apontam homens como principais suspeitos das violações e 43% das crianças e adolescentes vítimas são meninas.
Os primeiros dias de agosto concentraram o maior número de denúncias com 261 registros, sendo que 243 foram realizadas após a publicação de Felca, que trata do assunto. Esse é o maior número em seis anos, quando começaram os registros, de acordo com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Denúncias de violência sexual físicas e psicológicas contra crianças e adolescentes, por ano:
- 2025 - 1.057
- 2024 - 1.221
- 2023 - 1.501
- 2022 - 2.169
- 2021 - 1.455
- 2020 - 1.178
O vídeo
No vídeo, o influenciador Felca trata sobre a adultização de crianças, citando “coachs mirins”, adolescentes e até crianças que falam sobre investimentos na internet. Em um dos trechos exibidos, um jovem afirma que a escola “atrapalhava o desenvolvimento” dele.
O youtuber alterna entre ironia e seriedade mas tece críticas aos pais e responsáveis. Ele avisa que o conteúdo se tornaria “mais sério” conforme avançasse.
Em seguida, Felca relaciona o tema da adultização ao contexto da pedofilia, apontando que a manipulação de algoritmos nas redes sociais favorece a exposição e exploração de crianças - chamado de "algoritmo p" - tornando-as alvos mais vulneráveis para criminosos.
A partir daí, ele entra no caso do influenciador paraibano Hytalo Santos. Desde 2024, Hytalo é investigado pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) por possível exploração de menores em conteúdos publicados nas redes sociais. Hytalo e o marido foram presos em São Paulo, na sexta-feira (15), em decorrência desta investigação.
Até a publicação desta matéria, na manhã de sábado (16), o vídeo de Felca somava mais de 40 milhões de visualizações.
*Sob supervisão