Mata Atlântica perdeu 11,5% de vegetação nativa em 40 anos, diz estudo
Levantamento do MapBiomas apontou que o número corresponde a 2,4 milhões de hectares de florestas entre 1985 e 2024

Bioma com menor cobertura vegetal natural do Brasil, a Mata Atlântica perdeu 2,4 milhões de hectares de florestas nos últimos 40 anos. O dado foi divulgado em um levantamento do MapBiomas que apontou que o número corresponde a 11,5% da vegetação nativa entre 1985 e 2024.
Natalia Crusco, écologa que faz parte da equipe do MapBiomas, afirmou que a vegetação do bioma foi "suprimida para abrir espaço para atividades humanas desde o início da colonização". Segundo o levantamento, em 1985, a Mata Atlântica tinha apenas 27% da área florestal original.
“De lá para cá [de 1985 até os dias atuais], o ritmo de desmatamento foi diferente em cada uma das quatro décadas até 2024. Depois da promulgação da Lei da Mata Atlântica é possível notar inclusive um ligeiro aumento na área florestada do bioma”, afirma Crusco.
De acordo com o levantamento, a década entre 1985 e 1994 foi a que registrou maior perda florestal, quando 4,7 milhões de hectares de florestas foram convertidos para agropecuária. Entre 1995 e 2004, a área desmatada apresentou queda em relação à década anterior e reduziu para 2,9 milhões de hectares.
Já no período entre 2005 e 2014, o estudo apontou que a área de recuperação foi maior que a área de conversão de florestas, com ganho de 200 mil hectares. O cenário precisou de atenção novamente entre 2015 e 2024, quando as áreas de desmatamento e de recuperação da vegetação se tornaram equivalentes.
Apesar da queda no ritmo do desmatamento entre 1985 e 2024, o MapBiomas aponta que os últimos cinco anos apresentaram uma média de 190 mil hectares de floresta desmatada por ano.
O estudo ainda destaca que, no último ano, cerca de 50% do desmatamento acontece em florestas com mais de 40 anos, que carregam parte significativa da biodiversidade, estoque de carbono e são as "principais responsáveis pelos serviços ecossistêmicos desempenhados pela floresta".
Nas últimas quatro décadas, apenas os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo apresentaram um aumento na área de vegetação nativa.
Já entre os estados que registraram maior proporção dessas áreas de vegetação em 2024 foram: Santa Catarina, com 45%, Rio Grande do Sul, 40% e Bahia, com 39%.
Áreas transformadas por ação humana
A Mata Atlântica concentra, atualmente, um terço da agricultura do Brasil. Em 40 anos, a área agrícola ganhou cerca de 10 milhões de hectares do bioma, o que representa um crescimento de 96% em relação à área ocupada em 1985.
Já as lavouras temporárias dominam o cenário e representam 95% da agricultura no bioma. Entre o grupo, a soja foi a que mais cresceu desde 1985 e registrou um aumento de 343%, número que corresponde a 8,3 milhões de hectares. A cana-de-açúcar também avançou e marcou crescimento de quase cinco milhões de hectares.
Entre as lavouras permanentes, a área cultivada com café aumentou em 105%, um total de 445 mil hectares. Já o cultivo de citrus triplicou e registrou um crescimento de 96 mil hectares.
A silvicultura, cultivo de árvores para fins comerciais, também disparou. Em quatro décadas, a área aumentou cinco vezes e, em 2024, ocupou 4,5 milhões de hectares do bioma, que concentra mais da metade da silvicultura do país.
O estudo ainda conclui que, atualmente, a Mata Atlântica concentra 51% da área urbanizada do Brasil, que duplicou nos últimos 40 anos, com um aumento de 1,3 milhão de hectares. No entanto, mais de 80% dos municípios do bioma têm áreas urbanizadas pequenas, com menos de mil hectares, e apenas três capitais registram mais de 30 mil hectares, sendo elas São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.


