Caso Djidja Cardoso: defesa da família nega rituais macabros e formação de seita

Segundo advogada, as crenças de Djidja e dos familiares eram fruto de alucinações causadas pelo uso de droga

Carol Queiroz, da CNN, Em Manaus
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Durante entrevista coletiva realizada neste domingo (2), advogados que representam familiares da ex-sinhazinha do Boi Garantido Djidja Cardoso negaram a existência de uma seita ou a prática de rituais realizados por parte de seus clientes.

Conforme a polícia, a investigação já recolheu provas que apontam para um esquema ilegal que envolvia uma seita familiar, um salão de beleza e uma clínica veterinária. Os indícios apontam que a ex-sinhazinha era integrante dessa espécie de grupo religioso, chamado “Pai, Mãe, Vida” que a intitulava como “Maria Madalena”. O irmão dela, Ademar, seria “Jesus” e a mãe dos dois, a figura de “Maria”. A defesa afirma que tudo isso era fruto da alucinações causadas pelo uso contínuo da ketamina, um tipo de anestésico.

A advogada Lidiane Roque afirmou que a mãe de Djidja Cardoso, Cleusimar, chegou a oferecer a substância a ela. “Eu tomo a liberdade de dizer que ela [Cleusimar] chegou a me oferecer. Mas nunca houve coação, nunca houve obrigação. Eu respondi da mesma forma que todos que eu questionei. Respondi: 'não tenho interesse, mas agradeço'".

Ainda segundo a advogada, Djidja, Cleusimar e Ademar, se tornaram dependentes químicos e que “perderam o controle”.

Também durante a coletiva, a defesa falou sobre os materiais apreendidos pela polícia em uma das unidades do salão de beleza da família. Na sexta-feira (31) o delegado Cícero Túlio, que comenda parte das investigações, afirmou que seringas "prontas para o uso" foram encontradas durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão nesses locais, juntamente com doses de ketamina.

Segundo a defesa, as seringas continham produtos usados nos salões, como shampoo e condicionador. Além disso, os advogados negaram que as unidades da rede de salão tenham sido usadas para o armazenamento ou consumo de drogas.

“A família Cardoso se drogava em casa, por isso o isolamento. Todo mundo sabe que é um dos sintomas, a necessidade do viciado em se isolar, porque ele quer fazer só aquilo. A Djidja, eu presenciei, nem saia do quarto. Que ritual é esse que as pessoas ficam isoladas?”, disse Lidiane.

Conforme o inquérito policial há várias acusações contra o irmão de Djidja, Ademar Farias Cardoso Neto. Ele teria sido responsável pelo estupro, cárcere privado, sequestro e aborto de uma namorada, que também foi envolvida nas ações da seita “Pai, Mãe, Vida”.

Sobre isso, a defesa aponta que a prova testemunhal seria questionável. “As pessoas que foram na delegacia fazer a denúncia estão muito envolvidas emocionalmente. E algumas delas são dependentes químicas. Quando a pessoa faz uso prolongado dessa droga [ketamina], os efeitos não duram apenas 40 minutos. Eles duram por dias e dias. Não se sabe em quais condições essas pessoas prestaram depoimento”, disse a advogada Nauzila Campos.

Ao todo, cinco pessoas foram detidas e são investigadas pela participação no esquema. Os advogados afirmam que a prisão salvou a vida delas. “Se essa operação tivesse sido deflagrada algumas semanas atrás, a Djidja estaria viva. Ela estaria presa, mas estaria viva. Então, nós reconhecemos a função social dessa operação”, apontou Nauzila.