Jairo Nascimento: Precisamos tratar o racista por aquilo que ele é – um criminoso
No Dia da Consciência Negra, âncora da CNN faz manifesto pessoal contra a discriminação racial; veja a íntegra
No Dia da Consciência Negra , o apresentador e repórter da CNN, Jairo Nascimento, fez um manifesto pessoal contra o racismo.
Ao longo da programação do CNN Sábado, Nascimento deu um depoimento em favor da luta dos homens e mulheres negros do Brasil e ressaltou que discriminação racial é crime e deve ser tratada como tal. O jornalista falou, também, sobre o quanto o passado escravocrata do país culmina na situação de desigualdade social e de renda tão evidente no Brasil.
Leia a íntegra do discurso:
“Há quem diga que o racismo é ‘mimimi’, frescura, exagero e que no fundo a escravidão foi boa para os negros. O absurdo destas ideias escancaram o perfil de uma pessoa: é o racista. No geral, ele estuda pouco, desconhece o passado do país, mas se vangloria desse desconhecimento convicto. Ele se acha uma boa pessoa, tem até um amigo negro para chamar de seu e que cai muito bem como um tipo de ‘step’ se rolar um processo ou uma acusação de racismo.
A empregada negra ‘é quase da família’, enquanto o cachorro, esse sim, esse é da família. E, claro, o racista nunca é racista. Ele sempre é vítima do racismo que chama de reverso, de um ‘mal entendido’ ou diz que estava apenas emitindo uma opinião.
O racista precisa cair na real. As bases da escravidão são o sequestro, os assassinatos, a tortura, os estupros, a destruição cultural, os trabalhos forçados, a separação de famílias e etnias e, também, o roubo de propriedade, identidade e humanidade. Só por aqui isso aconteceu por quase 400 anos. O resultado está na negação de direitos à maioria dos brasileiros pretos e pardos que têm apenas acesso aos piores índices sociais. O Brasil precisa tratar o racista por aquilo que ele é: um criminoso. Ele nega o racismo pois sabe que comete crime.
Por isso, eu quero dar um conselho a você, racista, assuma o seu crime, repense o seu preconceito e modernize as suas ideias. Entenda que você não é dono do meu passado, da [jornalista] Luciana Barreto, nem das minhas vontades e nem dos meus pensamentos. Não cabe a você determinar o que eu quero ou dar tamanho à minha dor. Economize os seus adjetivos. Você, racista, é ultrapassado, se não, a cada dia mais, com o despertar dos negros, você terá que lidar com as consequências e ao mesmo tempo aguentar a nossa pele, os nossos cabelos, a nossa teimosia em forma de resistência, a nossa história, inteligência e, é claro, os nossos batuques.”