Maurício Pestana: Quando o "S" de social se mistura com o "R" de racial
Somente a educação e o conhecimento por meio do letramento racial podem iluminar melhores caminhos para as empresas se tornarem mais inclusivas

A discriminação no Brasil é social ou racial? Durante muitos anos de minha vida fui indagado com essa pergunta, e quando o interlocutor era branco, na maioria das vezes, ele mesmo respondia: é social, porque a partir do momento em que vocês ascenderem socialmente, (leia-se: tiver dinheiro), seus problemas acabarão, pois em uma sociedade como a nossa, o dinheiro compra tudo, até consciência de pessoas racistas.
Porém, para qualquer negro que tenha ascendido socialmente, seja por meio da educação ou de qualquer outra forma que o eleve à igualdade econômica, social ou educacional, no mesmo patamar de pessoas brancas, em nosso país, ele sentirá muito mais discriminação por estar em um espaço que não foi criado ou pensado para ter presença negra. Em resumo, quando ele pensa que seus problemas acabaram, é aí que vai sentir a face mais nefasta do racismo, aquele sem perspectiva alguma de ser superado.
Serão sempre situações corriqueiras como: quando adentrar um restaurante mais sofisticado onde o garçom fala com ele em inglês, acreditando que ele só pode ser um turista gringo, também será mais parado pela polícia, que achará que seu carro importado ou de grande valor é roubado, e outras situações como no próprio meio corporativo onde, dependendo do prédio onde estará sediada a empresa em que ele trabalha, fatalmente será confundido com segurança, vigia ou qualquer outra função menos qualificada, discriminando-o social e racialmente.
Pensar em ESG no Brasil abordando as desigualdades sociais e econômicas, é também falar racismo estrutural, ao mesmo tempo, é ter que enfrentar práticas racistas perpetuadas pelas culturas e hierarquias nas empresas, um reflexo da nossa sociedade. Por isso se faz necessário a seguinte reflexão: não existe inclusão social sem romper o ciclo da exclusão racial e quanto mais representativa a diversidade for, a governança corporativa mais efetiva será.
Diante desses desafios históricos, somente a educação e o conhecimento por meio do letramento racial podem iluminar melhores caminhos para as empresas, que padecem de um olhar mais atento aos desafios de tornar seus ambientes mais inclusivos e humanos. Neste contexto, o Fórum Brasil Diverso deste ano se une a uma das escolas de negócios mais respeitadas do mundo, a Fundação Dom Cabral e traz o tema do ESG como um elo para um ambiente de Diversidade e Inclusão nas empresas. Em uma de suas falas, o presidente da FDC Antônio Batista aponta: “Nunca foi tão importante envolver o sistema empresarial nas discussões sobre inclusão racial e o futuro que queremos construir”.
O evento vai reunir, no mês de novembro, lideranças empresariais, educadores, sociedade civil, e do setor público, para refletir sobre experiências de inclusão racial no mundo do trabalho por meio do ESG.
Pode parecer repetitivo associar o “S” de social à questão racial, mas em um país como o Brasil, onde a maioria da população, pobre, de baixa escolaridade e economicamente vulnerável, é negra e, mesmo quando ascende socialmente, continua a ser discriminada, este olhar para a questão racial é urgente, uma pauta a ser levantada e defendida em todos os setores, sobretudo, no setor privado.