Polícia Civil investiga abandono de incapaz contra “A Mulher da Casa Abandonada”
Irmã e filho de Margarida Bonetti foram intimados a depor, o que deve acontecer ainda nessa semana, segundo o delegado responsável
A Polícia Civil de São Paulo abriu, nesta terça-feira (5) um inquérito policial para investigar se Margarida Bonetti, retratada no podcast da “Folha de S. Paulo” “A Mulher da Casa Abandonada”, de Chico Felitti, foi abandonada pela família.
De acordo com a investigação, os vizinhos moradores do bairro de Higienópolis, na capital paulista, ligaram para a polícia relatando que “lá havia uma pessoa que apresenta problemas de saúde mental, e que estaria necessitando de ajuda”. Ao atender a ocorrência, as autoridades identificaram que a residência estava fechada, em estado de abandono e coberta por vegetação, mas que não foi recebida por ninguém.
Os moradores também informaram que Margarida costumava ser visitada por sua irmã, que deixava comida no local. A Polícia intimou a irmã e o filho de Margarida para depor, o que deve acontecer ainda nessa semana, conforme o delegado responsável, Roberto Monteiro, da 1° Seccional do Centro. Os vizinhos também serão intimados a depor sobre a rotina dela, já que, segundo relatos, ela jogava excrementos pela janela no próprio quintal, e recolhia o lixo da vizinhança, levando-o para casa.
“Ao que tudo indica, ela pode ter algum distúrbio psíquico, por viver numa casa sem água, sem esgoto, sem luz, sem sair para fazer compras”, afirmou o delegado.
A mulher ainda poderia responder por “exposição ao perigo” (expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente; artigo 132 do código penal) pelo acúmulo de lixo no quintal, que gerou incidência de ratos. Não há pena de prisão para esse crime, mas há possibilidade de detenção de três meses a um ano.
Margarida, de acordo com o podcast jornalístico que contou sua história, foi julgada nos Estados Unidos em 2000, junto com seu marido, Renê Bonetti, por uma acusação de ter mantido sua empregada doméstica em condições análogas à escravidão e como imigrante ilegal no país. Ele, por ter sido naturalizado americano, ficou preso, enquanto ela retornou ao Brasil.
De acordo com a Polícia brasileira, não existe mais nenhum mandado contra ela, já que a investigação não está mais ativa, portanto ela não poderia mais ser detida por esse crime.
Também nesta semana, a Prefeitura de São Paulo realizou, na segunda-feira (4), uma vistoria no imóvel da Rua Piauí, onde foi constatado a existência de lixo e materiais de construção na parte externa da casa. Por isso, o proprietário foi autuado e intimado para realizar a manutenção do local em um prazo de até 60 dias, sob pena de novas autuações.
Resgate de animais
O Instituto Luisa Mell e o deputado Delegado Bruno Lima chegaram a entrar na residência no domingo (3), depois de receberem denúncias de abandono de animais.
Dois cachorros foram encontrados “em situação deplorável” e resgatados pelo Instituto para receberem cuidado.
O caso foi registrado pela Polícia Civil no 78° DP como abuso a animais.