Solidariedade e isolamento marcam Dia das Mães em tempos de pandemia
Projeto com 350 costureiras pretende confeccionar 4000 máscaras de tecido para serem doadas para as mães em bairro de São Paulo
Domingo, 10 de maio de 2020. Dia das Mães. Talvez o Dia das Mães mais diferente de todos. Sem aquele beijo, aquele abraço. O ser humano, especialmente o brasileiro, está acostumado com o carinho. Talvez a falta que isso faz em meio à pandemia é tão grande quanto a pandemia em si.
“É tão estranho você ver uma pessoa, uma amiga sua, que você é amiga há anos e não poder abraçar, não poder ter aquele contato. É muito difícil”, conta Cristina Capistano, mãe solteira, estudante de pedagogia e costureira.
Mas mãe é mãe, né? Nem mesmo uma pandemia mundial é capaz de apagar a luz dessas mulheres guerreiras. Mulheres como a Cristina. Positiva, alegre e com uma energia contagiante. Gosta de experimentar cervejas diferentes e fã do Gusttavo Lima.
Agora, o pequeno apartamento em Parada de Taipas, zona norte de São Paulo, onde ela vive com a mãe, a filha de quatro anos e dois sobrinhos se transformou no local de trabalho e estudo.
Tudo acontece na escrivaninha de seu quarto. Pela manhã, aulas de pedagogia por vídeo conferência.
“A pedagogia, ela abraça essas pessoas que tem dificuldade,” diz Cristina.
Depois vem a hora do almoço.
“Ontem, o almoço foi estrogonofe. Eles amam, minha filha ama. É o prato preferido dela [sua filha]”, conta a universitária e costureira.
Já a tarde e o início da noite são dedicados à costura de máscaras, principal fonte de renda e passatempo.
“É uma terapia, na verdade. Você ocupa sua mente e não pensa em tanta tragédia que acontece”, conta Cristina.
Ela faz entre 20 e 30 máscaras por dia, muito graças ao curso de costura realizado em dezembro passado, no Centro de Integração da Cidadania, do lado de sua casa. Mal sabia ela que essa habilidade seria tão demandada poucos meses depois.
Tanto que ela é uma das 350 costureiras que fazem parte do projeto "Máscaras Solidarias - A Saúde Une Todos." Elas vão fazer 4000 máscaras de tecido, estampadas com frases transformadoras, que vão ser doadas para as mães da região.
“Estar aqui distribuindo máscaras, mas mais do que isso, distribuindo ações educativas para que as pessoas se previnam é um ato de solidariedade e de prevenção,” explica a Dra. Albertina Duarte Takiuti, médica ginecologista, e Coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres do Estado de São Paulo.
Verena Menezes, desempregada e mãe de três filhos, é uma das mães que vão receber as doações. A aposentadoria da própria mãe, de 72 anos, e alguns bicos têm ajudado a pagar as contas.
“Ver os meus filhos precisando de algo e não ter um suporte, um amparo para arcar com essa necessidade dos nossos filhos é muito complicado. É doloroso”, conta Verena.
Leandra Macedo é mais uma mãe sorridente, alegre e positiva que vai receber as máscaras do projeto. Ela está há quatro anos sem ver a mãe, que mora em Salvador. Se o dia das mães antes da pandemia já era uma data de aperto no coração, imagine agora.
“Ainda bem que você tem os filhos para suprir a saudade. Só o filho sabe o cheiro da mãe, então tem uma hora que bate sim [a saudade]”, conta a diarista e mãe de dois filhos.
Mas se tem uma coisa que todas essas mães têm razão é que tudo isso, mais cedo ou mais tarde, vai passar.
“Parabéns, mulheres. Mães, ou não, mas que abraçam a todos. Vamos abraçar todos, para que a gente possa sorrir na primavera”, diz a Dra. Albertina.