Denúncia que embasou operação no RJ usou mensagens de WhatsApp e drones

Provas de grupos de WhatsApp e planos para uso de drones de vigilância embasam denúncia contra 69 integrantes do Comando Vermelho no Complexo da Penha

Beto Souza, da CNN Brasil, São Paulo
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O MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), por meio do GAECO (Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado), ofereceu uma denúncia contra 69 integrantes da facção criminosa Comando Vermelho com atuação no Complexo da Penha. O documento embasou a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro.

A investigação da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), que teve início com sucessivas autorizações judiciais para o afastamento de sigilo de dados telemáticos, revelou o uso intensivo de mensagens de WhatsApp para gerenciar e coordenar as atividades ilícitas.

Denúncia que levou à operação no RJ usou mensagens de WhatsApp e drones (1) • CNN
Denúncia que levou à operação no RJ usou mensagens de WhatsApp e drones (1) • CNN

Os grupos do aplicativo, como o "marcação pai urso," eram utilizados pelos líderes, como Edgar, o "doca" e Carlos "Gardenal", para emitir ordens diretas sobre a comercialização de drogas, escalas de plantões em bocas de fumo e monitoramento de viaturas policiais e até execuções.

A denúncia destaca a modernização do aparato criminoso. Carlos "Gardenal" era responsável por orientar a aquisição de drones de vigilância. Há, inclusive, trocas de mensagens entre ele e outro acusado de vulgo "Grandão”, sobre a utilização de drones de maior tecnologia para atenderem, por exemplo, monitoramento noturno.

“A gente tem que se adequar à tecnologia, entendeu?”, disse "Gardenal" em uma das mensagens.

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"Tribunal do CV": entenda como facção tortura moradores em comunidade no RJ

MPRJ apresentou uma denúncia detalhando o funcionamento do CV, no Complexo da Penha. A investigação, baseada em afastamento de sigilo de dados telemáticos, expõe o uso de "tribunais do tráfico" e a prática de tortura contra moradores e opositores para manter o controle territorial.

Entre os denunciados por esses atos está Juan Breno Malta Ramos, vulgo “BMW”, que como liderança da facção, orienta a prática de punições e tortura. Ele é acusado de em parceria com Carlos da Costa Neves, vulgo “Gardenal”, constranger pessoas arrastando-as amarradas e sem roupa por uma via pública, causando intenso sofrimento físico para obter declaração de interesse da facção.

Em outro registro apresentado na denúncia do MPRJ, os faccionados conversam sobre a tortura de uma mulher classificada como "brigona". Os traficantes estabelecem que ela seja introduzida em uma banheira de gelo, como forma de punição após desentendimentos em um baile funk, na comunidade cariosa.

Segundo o ministério público, a liderança máxima do CV no Complexo da Penha, Edgar Alves de Andrade, vulgo “Doca” ou “Urso”, comanda essa cadeia hierárquica, utilizando grupos de WhatsApp para emitir ordens, gerenciar o tráfico e determinar a execução de indivíduos que contrariem seus interesses.