TH Joias usou loja franqueada do Flamengo para lavar dinheiro, diz MPRJ

Parlamentar é investigado como peça-chave na expansão do Comando Vermelho com ligação ao poder público

Camille Couto, da CNN, no Rio de Janeiro
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O deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, já era investigado por lavagem de dinheiro quando voltou a ser alvo de operações policiais na quarta-feira (3). Segundo o MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), ele utilizava uma franquia da loja oficial do Flamengo no Mato Grosso do Sul para movimentar valores ilícitos.

De acordo com o procurador-geral de Justiça do Rio, Antonio José Campos Moreira, a loja não estava em nome do parlamentar, mas apresentava movimentações financeiras incompatíveis com a atividade comercial declarada.

"A lavagem de dinheiro, que é reconhecida precisamente como a especialidade desse parlamentar, foi realizada por meio de uma loja que comercializa produtos de um clube muito popular do Rio de Janeiro, instalada fora do estado, e que estaria sendo utilizada, ao que tudo indica, para esse fim", revelou o procurador-geral.

As novas apurações apontam que TH Joias também intermediava a compra e venda de drogas e armamentos de guerra para o Comando Vermelho, incluindo fuzis, bazucas antidrone e equipamentos importados do Paraguai e da China. O relatório da Polícia Federal (PF) indica movimentação de aproximadamente R$ 9 milhões nessas operações, nos últimos três anos.

O deputado foi preso em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Na Operação Bandeirante, em parceria do MPRJ com a Polícia Civil e apoio de outros órgãos, foram detidos o assessor parlamentar Luiz Eduardo Cunha Gonçalves e o traficante Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como "Índio do Lixão". Outros alvos incluem lideranças da facção, como Luciano Martiniano da Silva, o "Pezão".

Em paralelo, a Operação Zargun, conduzida pela PF em parceria com a Polícia Civil, prendeu 15 pessoas, entre elas um delegado federal, três policiais militares e o ex-secretário Alessandro Pitombeira Carrasena, que já ocupou cargos no governo estadual e municipal do Rio. A investigação revelou a infiltração do Comando Vermelho na administração pública, garantindo proteção, acesso a informações sigilosas e espaço para ampliar o comércio ilegal de armas.

Ao todo, foram expedidos 18 mandados de prisão preventiva e 22 de busca e apreensão. O Tribunal Regional Federal da 2ª Região determinou ainda o bloqueio de R$ 40 milhões em bens e a transferência emergencial de lideranças da facção para presídios federais de segurança máxima.

TH Joias já havia sido citado em apurações anteriores. Segundo a PF, ele usava a produção de joias sob encomenda como fachada para movimentar dinheiro do crime organizado, profissão herdada do pai, ourives em Madureira, Zona Norte do Rio. Entre os clientes, estava o delegado federal Gustavo Steel, também preso na Zargun, que chegou a divulgar em redes sociais um anel da marca ligada ao parlamentar.

A CNN tenta contato com a defesa dos citados e mantém o espaço aberto para manifestações sobre o caso.