Traficantes vendiam animais por apps e citavam TH Joias no RJ; ouça o áudio

A maior operação já realizada no Brasil contra o tráfico de animais silvestres revelou detalhes das negociações criminosas. Em áudios obtidos pela CNN, traficantes combinam a venda de primatas por aplicativos de mensagens e citam o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias. O ex-parlamentar está preso há duas semanas acusado de ligação com o Comando Vermelho, e também foi um dos alvos da Operação São Francisco.

Em um dos trechos, um dos investigados pressiona o comprador pela resposta sobre um macaco-prego:

“Fala comigo, filhão, bom dia. Deixa eu te fazer uma pergunta: tu vai querer mesmo um ‘pregozinho’? Me fala se é macho ou fêmea, porque só vão vir três. Acabei de confirmar agora com o cara, segunda-feira de manhã tá aqui. Mas tem que me dar 100% de certeza, irmão, porque não tem mais. Só vai vir esses três agora, e depois só em novembro. Então preciso da tua resposta com 100% de certeza.”

Outro áudio mostra um traficante exaltando a “inteligência” dos animais e comparando a venda com a de primatas ligados a TH Joias:

“Não, é espertão também, entendeu? É filhotão, mano, bonito. Macaco não é burro não, cara. Macaco aprende tudo, entendeu? Olha os que você pegou aí, vê com os amigos aí como é que tá o bicho espertão. Vê o do TH Joias, como é que é. É a mesma coisa.”

Em outra gravação, o nome do ex-deputado estadual é citado de forma direta na negociação:

“Pergunta o TH Joias aí, quem vendeu para ele fui eu, lá no salão do Raul, em Bento Ribeiro. E não foi um não, o TH me adiantou umas três ou quatro pessoas aí, pô. Fala com ele, o Wallace Gordinho, maluco tatuado que te vendeu lá.”

A Operação São Francisco prendeu 47 pessoas — entre elas, um suspeito baleado em confronto — e resgatou cerca de 800 animais, muitos deles ameaçados de extinção. Uma policial civil também foi atingida durante a ação, mas não corre risco de vida. A investigação é conduzida pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), com apoio do Ministério Público do Rio, Ibama, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria do Ambiente e Inea.

“Mais uma vez o ex-deputado estadual, TH Joias, aparece envolvido em atividades criminosas. Já havia ligação com o tráfico de drogas, em associação com o Comando Vermelho, além de investigações por lavagem de dinheiro, corrupção de policiais e associação para o tráfico em 2017, quando foi condenado a quase 15 anos de prisão. Agora, identificamos a atuação dele também na intermediação da compra e venda de animais silvestres, especificamente primatas”, afirmou o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi.

Segundo a polícia, o grupo era altamente estruturado, com núcleos de caça, receptação e falsificação de documentos para dar aparência legal aos animais. As investigações apontam que araras eram vendidas por até R$ 5 mil, primatas entre R$ 3 mil e R$ 8 mil, e aves menores por R$ 150 cada.

Os animais resgatados foram levados para a Cidade da Polícia, onde receberam atendimento veterinário e avaliação de peritos. Em seguida, foram encaminhados a centros de triagem para serem reintroduzidos na natureza.

O Ministério Público informou que os investigados vão responder por associação criminosa, tráfico de animais, receptação qualificada, comércio ilegal de armas e falsificação de documentos.

A CNN tenta contato com a defesa de TH Joias e dos demais presos na operação.