Caso Igor Peretto: Justiça manda soltar viúva de comerciante morto

Magistrado entendeu que provas contra Rafaela Costa da Silva não eram suficientes; cunhado e irmã da vítima irão a júri popular

Bruna Lopes, da CNN Brasil*, Julia Farias, colaboração para a CNN Brasil, em São Paulo
Em sentido horário: a vítima, Igor Peretto; a viúva, Rafaela; Mario, cunhado da vítima e suspeito de ter dado as facadas; e Marcelly, irmã de Igor
Em sentido horário: a vítima, Igor Peretto; a viúva, Rafaela; Mario, cunhado da vítima e suspeito de ter dado as facadas; e Marcelly, irmã de Igor  • Reprodução
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A Justiça de São Paulo mandou soltar Rafaela Costa da Silva, viúva do comerciante Igor Peretto, morto em agosto do ano passado após descobrir uma traição da esposa.

Na mesma decisão, publicada nesta quinta-feira (16), a Justiça entendeu que Mário Vitorino da Silva Neto e Marcelly Marlene Delfino Peretto, cunhado e irmã da vítima, agiram por motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa e determinou que os réus sejam julgados em júri popular.

Em julho deste ano, o MPSP (Ministério Público de São Paulo) havia denunciado os três pelo crime.

"Marcelly e Rafaela concorreram diretamente para a prática do crime, em todas as suas etapas, dando incentivo e apoio moral para Mário, com quem estavam previamente ajustadas, inclusive sobre a motivação (torpe) e os meios de execução do delito (com crueldade e recurso que dificultou a defesa da vítima)", afirmou o MP.

Durante a investigação, a Polícia Civil reuniu laudos periciais, depoimentos de testemunhas e registros de câmeras de segurança que apontaram o envolvimento direto de Mário e Marcelly na morte de Igor.

O crime ocorreu em 31 de agosto de 2024, dentro de um apartamento no bairro Canto do Forte, em Praia Grande, no litoral paulista.

De acordo com a denúncia obtida pela CNN, Mário teria matado o amigo com golpes de faca após uma discussão motivada por ciúmes. Ao que tudo indica, Mário mantinha um relacionamento com a esposa de Igor, Rafaela, configurando um triângulo amoroso entre os envolvidos.

Marcelly, irmã da vítima, e Rafaela teriam dado apoio moral ao crime, incentivando ou colaborando para a execução.

Na sentença, o juiz da Vara do Júri de Praia Grande rejeitou os pedidos de nulidade apresentados pelas defesas que alegavam quebra da cadeia de custódia das provas e irregularidades nas perícias. Segundo o magistrado, não houve prejuízo processual e as evidências colhidas permanecem válidas.

Os três réus foram analisados individualmente:

  • Mário Vitorino da Silva Neto: o juiz entendeu haver elementos suficientes de autoria, pois ele estava no apartamento na hora do crime, saiu do local com Marcelly e permaneceu foragido. Foi pronunciado por homicídio qualificado.
  • Marcelly Marlene Delfino Peretto: também foi pronunciada, porque os indícios apontam que estava presente e poderia ter participado do crime, inclusive com eventual incentivo moral. A defesa alegou que ela teria agido sob submissão emocional, mas o juiz afirmou que tal ponto deve ser apreciado pelo Tribunal do Júri.
  • Rafaela Costa da Silva: o juiz reconheceu que ela não estava no local dos fatos e que não havia provas consistentes de que tenha atraído a vítima ao apartamento ou participado da execução. Conversas apagadas e pesquisas no celular após o crime foram consideradas insuficientes para a pronúncia. Assim, a conduta dela foi desclassificada para crime não doloso contra a vida (possivelmente favorecimento pessoal), com remessa do caso a uma vara criminal comum.

O MPSP sustentou que o assassinato foi cometido de forma cruel e planejada, uma vez que a vítima teria sido atacada de surpresa, sem chance de defesa. Testemunhas relataram ter ouvido gritos e pedidos de socorro vindos do apartamento pouco antes do crime.

Ao analisar o caso, a Justiça entendeu que há indícios suficientes para levar Mário e Marcelly a julgamento pelo Tribunal do Júri.

Quanto à Rafaela, a prisão foi revogada pois as provas indicaram que ela não estava no local do homicídio. O juiz determinou sua soltura e o envio do caso à Vara Criminal comum para apuração de eventual favorecimento pessoal.

Mário e Marcelly seguem presos preventivamente e aguardam a definição da data do julgamento.

O que dizem as defesas

Em nota, a defesa de Marcelly Peretto afirmou que a decisão é equivocada e contraditória em relação a denúncia apresentada.

"A defesa reitera que a análise das provas e dos detalhes do caso não sustentam a decisão tomada. Acreditamos firmemente na importância de uma avaliação rigorosa e criteriosa dos fatos para que a verdade prevaleça." completaram.

Já a defesa de Mário relatou que ainda não possui conhecimento da decisão de pronúncia, portanto não pode se manifestar.

"A única questão que a defesa desde já pode adiantar é que iremos recorrer em todas as instâncias, se necessário, para que as qualificadoras sejam afastadas, principalmente a do motivo torpe em razão da inexistência do “trisal."

A defesa de Rafaela  afirmou que recebeu a "decisão com serenidade e senso de justiça".

"A defesa de Rafaela Costa recebe com serenidade e senso de justiça a sentença que desclassificou a imputação originalmente formulada, afastando a competência do Tribunal do Júri e determinando a imediata expedição do alvará de soltura.

Durante a instrução criminal, a defesa conseguiu demonstrar de forma inequívoca que as provas produzidas não sustentavam a acusação de homicídio doloso com relação a Rafaela.

Trata-se do reconhecimento judicial da verdade dos fatos, alcançado após um trabalho técnico intenso e cuidadoso, realizado em meio à forte repercussão e pressão midiática. Ao final, na sentença proferida, a Justiça prevaleceu."

Relembre o caso

O irmão do vereador Tiago Peretto foi encontrado morto com ferimentos de facadas, no dia 31 de agosto, dentro do apartamento da irmã dele, Marcelly Peretto, em Praia Grande, litoral paulista. Igor Peretto foi encontrado  foi enterrado no dia 1º de setembro.

Desde que teve conhecimento da tragédia, envolvendo o familiar, o vereador tem divulgado informações sobre o caso em suas redes sociais. Segundo ele, Rafaela, que era casada com seu irmão, o teria traído com Mário Vitorino da Silva, companheiro de Marcelly, ou seja, cunhado e amigo da vítima. Igor teria descoberto a traição.

Segundo o inquérito civil do caso e a denúncia do Ministério Público, o crime foi planejado, uma vez que Mário, Rafaela e Marcelly consideraram Igor um empecilho para o “triângulo amoroso”, ou seja, para o relacionamento que os três denunciados mantinham entre eles.

Rafaela, considerada a “pivô” do crime, teria se relacionado com a irmã de Igor antes do crime. Questionada, a defesa de Marcelly afirmou que a mulher relata que estava embriagada e foi beijada a força e acariciada por Rafaela.

“Após o crime, os três tentaram ocultar as evidências e simular uma defesa, fugindo juntos do local. A brutalidade do crime gerou grande repercussão na sociedade, evidenciando a necessidade de medidas cautelares”, afirmou o MP.

Veja as imagens do dia do crime

*Sob supervisão de Carolina Figueiredo