Empresário morto em Autódromo de SP: veja revelações e rumo da investigação

Adalberto Amarilio dos Santos Junior, de 36 anos, foi encontrado sem vida em uma área de obras no Autódromo de Interlagos, em São Paulo

Beto Souza, da CNN, em São Paulo
Compartilhar matéria

A misteriosa morte do empresário Adalberto Amarilio dos Santos Junior, de 36 anos, encontrado sem vida em uma área de obras no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, continua a intrigar as autoridades.

Sob a condução do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), a investigação policial avança, desvendando camadas de um caso cheio de contradições.

A CNN destacou as principais descobertas reveladas durante as investigações que duram semanas.

Relembre: corpo encontrado no Autódromo de Interlagos é de empresário desaparecido

Cenário enigmático da descoberta

O corpo de Adalberto foi descoberto por um funcionário em um buraco estreito de 40 centímetros de diâmetro e 1,5 metro de profundidade. As condições do achado chamaram imediatamente a atenção: o empresário estava em pé, sem calça, sem tênis e sem meias.

Uma calça encontrada nas proximidades não pertencia a ele, fato confirmado por sua esposa e pela polícia. A diretora do DHPP, Dra. Ivalda Aleixo, destacou que o local, uma área de obras supostamente sinalizada e isolada por tapumes e barreiras de concreto pela Prefeitura de São Paulo, não era um local de passagem usual, o que intensifica as suspeitas.

Inicialmente, não havia sinais aparentes de agressão externa no corpo. No entanto, a perícia forense identificou escoriações no pescoço de Adalberto, levantando a possibilidade de um golpe como o "mata-leão", conhecido por não deixar marcas visíveis externamente.

A limpeza de sua cueca e pés sugere que ele não andou na terra ou foi arrastado, mas sim carregado no colo ou teve suas roupas removidas muito próximo ao buraco.

Hipóteses descartadas e novas teorias

A polícia foi enfática ao descartar as hipóteses de roubo (latrocínio) e de queda acidental. O latrocínio foi refutado porque, apesar de uma câmera acoplada ao capacete ter desaparecido, outros objetos de valor como jaqueta - avaliada em quase R$ 3 mil -, celular, dinheiro e cartões de crédito permaneceram com a vítima.

Uma queda acidental também foi considerada improvável, pois a vítima teria se debatido ou tentado sair do buraco, e não tiraria as roupas.

A suspeita de envolvimento de um funcionário da região é uma possibilidade considerada, dado que o local do corpo e onde o carro foi estacionado estão a mais de 1 km de distância. Isso leva à teoria de que o autor poderia ter conhecimento prévio do local.

Evidências e laudos

O carro de Adalberto revelou manchas de sangue humano em diversas áreas, como a porta, atrás do banco do passageiro, no assoalho e no banco de trás. Exames preliminares confirmaram ser sangue humano, mas o exame de confronto genético para determinar a quem pertence ainda está pendente. Uma nova perícia no veículo foi solicitada.

Três laudos periciais são considerados chaves para resolver o caso:

  • Laudo toxicológico: Já contradisse a versão inicial do amigo, apontando zero para álcool e drogas no corpo de Adalberto.
  • Laudo necroscópico (autópsia): Visa esclarecer a causa da morte. A estimativa exata do momento da morte é desafiadora devido às condições climáticas que podem ter preservado o corpo. Amostras de órgãos e material debaixo das unhas da vítima foram coletados para verificar sinais de luta ou contato.
  • Análise de DNA do sangue encontrado no carro: Crucial para identificar a origem do sangue.

Contraditório depoimento do amigo

Rafael Aliste, o último a ver Adalberto, tornou-se uma figura central na investigação. Inicialmente, ele alegou que ambos consumiram cerca de oito copos de cerveja e maconha oferecidos por desconhecidos no evento, e que Adalberto ficou "muito nervoso, ansioso, agitado, muito eufórico". A Dra. Ivalda Aleixo classificou essa euforia como "curiosa", dado que ambas as substâncias são depressoras do sistema nervoso.

A contradição com o laudo toxicológico, que não detectou álcool nem drogas no sistema de Adalberto, levou a delegada a afirmar que o depoimento de Rafael continha "falhas e lacunas" e que ele "não contou tudo".

Rafael prestou um novo depoimento de aproximadamente seis horas e foi submetido à técnica de perfilamento criminal. Essa metodologia, inspirada em modelos internacionais e adaptada à realidade brasileira no laboratório do DHPP de São Paulo, foca em analisar a cena do crime como resultado de um comportamento, buscando entender as decisões do investigado para traçar seu perfil.

Perfil da vítima e o drama familiar

Adalberto, proprietário de uma ótica em Osasco, era um fã de automobilismo, tricampeão paulista de kart, e participava de campeonatos amadores. Familiares e amigos o descrevem como uma pessoa tranquila, reservada, sem dívidas, desentendimentos ou inimizades conhecidas, e sem envolvimento em atividades suspeitas.

Casado com a farmacêutica Fernanda Dândalo, o casal possuía um patrimônio milionário, incluindo uma casa avaliada em R$ 2,5 milhões, um apartamento alugado, veículos de luxo e cerca de R$ 1 milhão em contas da empresa da família.

A esposa de Adalberto expressou a dor pela perda. Ela também tem sido alvo de golpes, com indivíduos pedindo dinheiro sob o pretexto de possuir informações sobre o caso.

"Pior noticia da minha vida", diz esposa de empresário morto em Interlagos

Próximos passos na investigação

A Polícia Civil de São Paulo continua a analisar imagens de câmeras de segurança, ouvir testemunhas, familiares, funcionários da obra e seguranças do evento. O chefe de segurança do Autódromo e organizadores do evento já prestaram depoimento, que durou quatro horas para os seguranças.

A polícia refez os possíveis caminhos de Adalberto dentro do autódromo utilizando a técnica de "espelhamento" e mapeamento, buscando entender se ele foi ao local por vontade própria, sob efeito de entorpecentes ou se foi levado.

A causa oficial da morte ainda não foi divulgada, e as autoridades aguardam a conclusão de todos os laudos periciais para focar em uma linha de investigação mais específica e identificar os responsáveis por este mistério.