Essa é a luz azul 'mais bonita do mundo'; iluminação é radioativa

Cientistas destacam beleza produzida pela claridade do reator em projeto entre Ipen e Marinha, que firmam parceria para produção de insumos para tratamento contra o câncer

Thiago Félix, da CNN, São Paulo
A claridade produzida pela fissão nuclear do reator foi apelidada de a luz azul 'mais bonita do mundo'  • Thiago Félix
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No coração da cidade de São Paulo, na Cidade Universitária, um reator emite uma claridade que foi apelidada de 'a luz azul mais bonita do mundo', além disso o equipamento poderá produzir insumos para a radioterapia, tratamento utilizado para o combate ao câncer.

O apelido foi dado por técnicos que operam e supervisionam toda operação. O reator nuclear foi inaugurado em 1957 acompanhado pelo então presidente Juscelino Kubitschek.

O fenômeno responsável pelo azul é a fissão nuclear em meio aquático. A iniciativa resulta de uma parceria inédita entre a Marinha e o Ipen.  A partir de setembro deste ano, após quase 70 anos, o funcionamento do local será 24h por dia, com funcionários em todos os turnos.

Reator está em funcionamento 24h por dia, dentro de uma piscina de 9 metros de profundidade • Thiago Félix
Reator está em funcionamento 24h por dia, dentro de uma piscina de 9 metros de profundidade • Thiago Félix

"Nós qualificamos esse pessoal, eles foram aprovados, até o final do ano que vem, nós teremos 31 operadores. Esses operadores conseguem operar diuturnamente esse reator, foi uma alegria saber que nós conseguimos ajudar o Ipen", afirma Almirante Alexandre Rabello de Faria, diretor de desenvolvimento nuclear da Marinha.

A responsabilidade de fiscalização do local é da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear).

 

O reator está localizado no Ipen, na Cidade Universitária em São Paulo • Thiago Félix
O reator está localizado no Ipen, na Cidade Universitária em São Paulo • Thiago Félix

Radioterapia

Para que o tratamento de radioterapia possa eliminar as células cancerígenas do paciente, o mineral Lutécio precisa ser 'enriquecido' por meio da radioatividade.

A substância é submersa por cordões, dentro de uma piscina de nove metros onde fica o reator, para receber a radiação e se transformar no Lutécio -177. Assim o radioisótopo poderá ser usado para medicina.

Suprir demanda nacional

A viabilidade de produção poderá reduzir a dependência brasileira de importações, além de cortar os custos em até dez vezes. Atualmente o país gastou o equivalente a R$ 50 milhões para suprir os hospitais, apenas nos últimos dois anos. Com a produção em larga escala, o projeto poderá suprir parte da demanda nacional.

"A gente está proporcionando uma tecnologia nova, uma das nossas intenções é trazer a produção no país a um custo que transforme esse tratamento acessível para a população mais carente", diz Isolda Costa, superintendente do IPEN, em entrevista à CNN.