Fila do SUS coloca vida da população em risco, diz pesquisa
Estudo do Instituto Locomotiva aponta dificuldades enfrentadas por mais de 100 milhões de brasileiros
A atual fila do Sistema Único de Saúde (SUS) coloca a vida da população brasileira em risco, segundo um estudo do Instituto Locomotiva, divulgado nesta sexta-feira (21).
A pesquisa “A Classe C e a Saúde: os desafios de acesso a exames e consultas” traz um retrato sobre as dificuldades enfrentadas por mais de 100 milhões de pessoas que dependem do sistema público de saúde.
Segundo o estudo, 94% dos brasileiros da Classe C concordam com a seguinte frase: “o tempo de espera para a marcação e realização de consultas e exames no SUS coloca em risco a vida de muitos brasileiros”.
O instituto conclui que a maioria das pessoas de Classe C sofre principalmente quando busca por uma consulta com um especialista. Nove em cada dez brasileiros desta faixa econômica que tentaram uma consulta pelo SUS afirmam que o tempo de espera foi longo.
- 60%: tempo de espera para consultas com médicos especialistas foi muito longo
- 56%: tempo de espera para exames foi muito longo
- 46%: tempo de espera para consultas com médicos generalistas foi muito longo
A pesquisa aponta que uma parte dos brasileiros convive com doenças que poderiam ter sido evitadas se o SUS fosse mais ágil. Por exemplo, 24% dos cidadãos apresentaram piora no quadro de saúde por causa do tempo de espera para conseguir uma consulta ou exame na rede.
A demora nos atendimentos e as consequentes complicações na saúde fizeram com que os brasileiros da Classe C buscassem a rede privada de saúde. De acordo com o Locomotiva, 72% das pessoas viveram ou conhecem alguém que passou por essa situação.
Além disso, cerca de um a cada três brasileiros de Classe C já desistiram de uma consulta muito demorada no SUS e arcaram com custos de um atendimento particular.
O levantamento também aponta que a população vê benefícios na integração entre os sistemas público e privado, com 95% dos entrevistados apoiando medidas que facilitem o compartilhamento de informações entre os dois setores.
Novo plano ambulatorial
O Instituto Locomotiva sugere um novo tipo de plano de saúde mais simples e mais acessível. Veja o que seria ofertado:
- Cobertura total para consultas e exames
- R$ 100 por pessoa
- Sem acesso a pronto socorro e internação
Segundo o estudo, 92% dos brasileiros de Classe C são favoráveis ao produto sugerido pelo Instituto e 96% acredita que o plano melhoraria o acesso a consultas e exames.
A pesquisa foi realizada com 1.500 pessoas em 127 cidades de todas as regiões do Brasil. Foram entrevistados homens e mulheres com 18 anos ou mais, entre 19 e 21 de novembro de 2024.
As conversas foram feitas virtualmente e a margem de erro da pesquisa é de 2,6 pontos percentuais.
O Ministério da Saúde, responsável pelo SUS, enviou um posicionamento sobre a pesquisa. Leia abaixo na íntegra:
“O tempo de espera para a realização de consultas e exames é um dos maiores desafios da saúde pública e vem sendo reduzido pelo Governo Federal desde 2023. Essa é uma prioridade do Ministério da Saúde, e diversas iniciativas estão em curso para enfrentar esse desafio. Já foram conquistados avanços, como mostram os dados:
Em 2024, mais de 14,09 milhões de brasileiros realizaram cirurgias pelo SUS, um recorde histórico. Houve um crescimento de 3.868.078 procedimentos cirúrgicos eletivos (37,5%) em relação a 2022.
Também em 2024, o Programa Nacional de Redução de Filas viabilizou 1.348.727 cirurgias em todo o Brasil, cobrindo 99% da fila declarada pelos estados no início do ano, que somava 1.367.132 procedimentos.
O Programa Mais Acesso a Especialistas está transformando o atendimento no sistema público de saúde. Além de tornar permanentes outras políticas voltadas à atenção especializada, como a redução de filas para cirurgias, o programa passou a oferecer pacotes de serviços integrados, incluindo consultas, exames e diagnósticos. Esse novo modelo substitui o sistema tradicional, no qual cada procedimento exigia que o usuário entrasse em uma fila diferente. O objetivo do Mais Acesso a Especialistas é ampliar e agilizar o acesso dos pacientes a consultas ambulatoriais, exames especializados e outros procedimentos essenciais para um diagnóstico oportuno.
Inicialmente, foram priorizados os principais gargalos do Sistema Único de Saúde: cardiologia, oftalmologia, otorrinolaringologia, ortopedia e oncologia. No caso da oncologia, o tempo máximo entre a primeira consulta com o especialista e o diagnóstico deve ser de 30 dias. Para as demais especialidades, o prazo é de 60 dias.
Desde o ano passado, todos os estados brasileiros aderiram ao programa, assim como 99,3% dos municípios. Os planos de ação regionais foram aprovados e começaram a ser executados, abrangendo 86,6% (375) das Regiões de Saúde do Brasil. Com essas medidas, estima-se que 9.283.350 pessoas sejam beneficiadas ao longo de um ano, com a realização de exames e consultas.
O Ministério da Saúde tem apoiado as secretarias estaduais e municipais de saúde com normas, manuais, cursos e recursos financeiros, visando à efetivação das ações do programa.
Quanto às filas de espera, a gestão ocorre no âmbito dos estados e municípios. No entanto, o Ministério da Saúde está trabalhando para que, a partir do segundo semestre de 2025, os entes federados sejam obrigados a enviar todos os registros de regulação assistencial para a Rede Nacional de Dados em Saúde. Essa mudança permitirá um conhecimento real da totalidade das filas de espera, tanto para cirurgias quanto para procedimentos ambulatoriais”.