Leilão para venda de Cepacs na Faria Lima: entenda o que pode mudar

Certificados serão vendidos para investidores que querem construir além das regras permitidas na região; segundo prefeitura, recursos serão investidos em melhorias de infraestrutura em outras regiões

Felipe Souza, da CNN, em São Paulo
Av. Faria Lima
Avenida Faria Lima, centro financeiro na zona sul de São Paulo (SP)  • Sergio Souza/Unplash
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O TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) liberou a realização do leilão de Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção) para a região que abrange o perímetro da Operação Urbana Consorciada Faria Lima. O evento ocorre nesta terça-feira (19) na B3.

A decisão, proferida nesta segunda-feira (18), reverteu a suspensão de trechos da Lei Municipal nº 18.175/2024 e do Decreto nº 64.112/2025, que regulamentam a Operação Urbana.

A Justiça paulista reconsiderou a liminar que havia suspendido os dispositivos legais, a pedido do MP (Ministério Público), que argumentava que a lei apresentava vícios formais, ausência de participação popular, renúncia de receita estimada em R$ 174 milhões e impactos ambientais não previstos.

Em discordância ao julgamento anterior, do próprio Órgão Especial do TJSP, que já havia validado a constitucionalidade da lei, o relator destacou o risco de insegurança jurídica e o desestímulo a investidores como motivos para reverter a suspensão.

A Prefeitura e a Câmara Municipal defenderam que os recursos obtidos com a venda dos Cepacs serão usados para financiar obras de habitação, mobilidade e infraestrutura em comunidades como Paraisópolis, Real Parque e Jardim Colombo.

O que são os Cepacs 

Os Cepacs são instrumentos de política urbana usado para financiar OUCs (Operações Urbanas Consorciadas), como a da Faria Lima.

A venda desses certificados gera recursos investidos em melhorias de infraestrutura, como transporte, espaços públicos e habitação para populações em áreas irregulares.

A unidade de Cepac equivale de 0,5 m² a 2,8 m² de área a ser construída acima do limite básico permitido por lei. A variação leva em consideração a localização do terreno, o tipo de uso previsto para o novo empreendimento (residencial ou não) e outros fatores.

Esses títulos imobiliários são necessários para obras com área construída computável maior do que a metragem do terreno. Ou seja, são essenciais para novos edifícios verticais.

A Operação Urbana da Faria Lima foi criada em 1995 e reformulada em 2004, viabilizando projetos importantes como o túnel Fernando Vieira de Mello e Max Feffer, a reconversão do Largo da Batata e a construção de mais de 1.200 moradias no Real Parque.

Em 2024, a Operação foi expandida para incluir o Complexo Paraisópolis, ampliando seu perímetro para 650 hectares e adicionando 250 mil m² de potencial construtivo.

O que pode mudar na Faria Lima

Em termos territoriais, a região da Faria Lima já passou pelo impacto inicial da Operação Urbana: conjuntos de casas deram lugar a prédios, enquanto pequenos terrenos remembrados se tornaram grandes lotes, tornando a região um importante polo empresarial da cidade.

O leilão da Cepac é visto, de certa forma, como a última grande chance para construtoras ampliarem empreendimentos na região, uma vez que a região já é super explorada e tem pouco espaço para novas construções.

Os recursos que serão obtidos pela Prefeitura no leilão podem gerar mudanças significativas na região, já que a maior parte deve ser destinada à operação urbana. Um conselho gestor responsável definiu as “macro intervenções” que serão implantadas com os valores arrecadados. São elas:

  • Prolongamento da Avenida Brigadeiro Faria Lima até Avenida dos Bandeirantes;
  • Regularização fundiária, construção de moradias populares, obras de infraestrutura, implantação de equipamentos culturais e esportivos e outras intervenções nas favelas Paraisópolis, Porto Seguro e Jardim Colombo;
  • Implantação de hidrovia de 4 km de extensão no Rio Pinheiros e compra de embarcações;
  • Nova remodelação do Largo da Batata;
  • Construção de três Unidades Básicas de Saúde, escola de artes, equipamento de educação e polo tecnológico sustentável;
  • Implementação final de bulevar na Avenida Juscelino Kubitschek.

Em parte dessas intervenções, os projetos ainda serão desenvolvidos, o que dá margem para mudanças. Uma proposta em estudo pela Prefeitura é de implementar uma linha de VLT na Faria Lima, por exemplo, porém a discussão ainda é preliminar.

Em nota à CNN, a Prefeitura de São Paulo disse que a decisão que liberou a realização do leilão "devolve plena eficácia aos dispositivos legais que preveem o bônus de 30% na conversão de Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção) da Operação Urbana Consorciada Faria Lima". Veja a nota na íntegra:

"Desde o primeiro momento, a Prefeitura atuou de forma firme e técnica na defesa da legalidade da Lei Municipal nº 18.175/2024, aprovada pela Câmara Municipal, sancionada pela gestão municipal, e já reconhecida como constitucional pelo próprio Órgão Especial do TJ-SP em julgamento anterior de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI).

Na manifestação, a Procuradoria Geral do Município demonstrou que a liminar contrariava decisão colegiada recente, além de desconsiderar a ampla participação popular e os estudos técnicos que embasaram o processo legislativo. Ressaltou, ainda, o risco de grave prejuízo social e financeiro caso a medida fosse mantida, pois os recursos arrecadados nos leilões de CEPACs têm destinação específica para investimentos em habitação, mobilidade e infraestrutura em comunidades como Paraisópolis, Jardim Colombo, Porto Seguro, Real Parque e Panorama.

Com a revogação da liminar, fica assegurada a realização do leilão previsto para esta terça-feira (19), fortalecendo a política pública de desenvolvimento urbano e a justiça social na cidade."

(Com informações da Agência Estado)