DPU recomenda suspensão de “devoluções” de pessoas em rodoviária de SC

Prefeitura estaria “devolvendo” pessoas em situação de vulnerabilidade para cidades de origem

Gabriela Garcia, da CNN Brasil, em Porto Alegre
Prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), afirmou, em vídeos publicados nas redes sociais, que a prefeitura tem “devolvido", para cidades de origem, pessoas em situação de vulnerabilidade  • Reprodução
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A DPU (Defensoria Pública da União) informou que enviou uma recomendação à prefeitura de Florianópolis (SC) para que o município não realize triagem de passageiros na rodoviária da capital catarinense. A medida foi tomada após o prefeito da cidade, Topázio Neto (PSD), afirmar que a prefeitura tem “devolvido" para cidades de origem pessoas em situação de vulnerabilidade sem emprego ou moradia.

A triagem estaria sendo realizada em um posto avançado da Secretaria de Assistência Social, instalado no Terminal Rodoviário Rita Maria. No dia 2 de novembro, Topázio Neto afirmou que mais de 500 pessoas já teriam retornado aos seus municípios de origem.

A Defensoria deu um prazo de 10 dias para que a prefeitura forneça dados sobre as “devoluções” já realizadas. Entre as informações, devem estar a lista das pessoas enviadas para outras cidades, a origem e destino de cada uma, as datas de chegada e de partida, o valor gasto com as passagens e a origem da verba utilizada.

A DPU afirma que a prática realizada pela prefeitura é inconstitucional, ilegal e discriminatória, uma vez que a Constituição Federal garante a qualquer pessoa, brasileira ou migrante, o direito de circular no território nacional. Dessa forma, a prática de indução, ameaça velada ou pressão para que alguém aceite “ser devolvido”, pode ser considerada crime de constrangimento ilegal.

No documento, a defensora regional de direitos humanos em Santa Catarina, Mariana Döering Zamprogna, argumenta que o município só deve custear passagens quando a pessoa “solicitar espontaneamente e expressar livremente vontade de voltar ao município de origem”.

Ela ainda recomenda que a prefeitura de Florianópolis garanta acolhimento e serviços socioassistenciais à população vulnerável.

Em nota à CNN Brasil, a prefeitura afirmou que o posto da Assistência Social na rodoviária de Florianópolis é para orientar e apoiar pessoas que chegam à cidade.

"O objetivo é oferecer apoio a quem precisa e identificar situações em que outros municípios enviam pessoas em situação de rua para Florianópolis de forma irregular. Não há abordagem de todos os passageiros, o atendimento é realizado apenas quando a própria pessoa procura o posto em busca de ajuda. A partir desse contato, são feitos os encaminhamentos necessários para a rede socioassistencial", completa a nota.

Relembre o caso

O prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), afirmou, em vídeos publicados nas redes sociais, que a prefeitura tem “devolvido" para cidades de origem pessoas em situação de vulnerabilidade que chegam à capital catarinense sem emprego ou moradia.

As declarações levaram a Defensoria Pública de Santa Catarina a abrir um procedimento para apurar a atuação da assistência social da capital no terminal rodoviário.

Nos vídeos, Topázio diz que a prefeitura instalou um posto avançado da assistência social na rodoviária para “garantir o controle de quem chega” à cidade.

Florianópolis “devolve” pessoas em vulnerabilidade, diz prefeito

Segundo ele, mais de 500 pessoas já foram encaminhadas de volta aos municípios de origem após o trabalho da equipe. O prefeito afirmou ainda que a medida visa manter “a ordem e as regras” e evitar que Florianópolis “se torne um depósito de pessoas em situação de rua”.

Em nota, a Defensoria Pública afirmou que é essencial que os serviços socioassistenciais sejam “acessíveis e acolhedores”, oferecendo apoio e orientação a quem chega em busca de melhores condições de vida.

A Defensoria também lembrou que não existe controle de fronteira entre municípios e que a remoção compulsória de pessoas em situação de rua é proibida por decisões do STF (Supremo Tribunal Federal).