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    Por que é tão ruim ser vice no ranking mundial dos que nem trabalham e nem estudam?

    Talvez você nem saiba, mas a massa conhecida como nem-nem representa um problema bizarro de grande pra um país que precisa desesperadamente crescer

    Phelipe Sianida CNN

    Já faz muito tempo que eu ouço falar desse termo, o tal do nem-nem. Vou confessar que sempre achei meio cafona falar sobre um assunto tão sério com um termo tão esquisito, mas é assim que a gente aprendeu a chamar a galera que tá boiando no job description da vida.

    A frase “você não tá aqui a passeio” parece não caber no dia a dia dessas pessoas que nem estudam e nem trabalham. Pelo menos não dentro dos padrões tradicionais de estudo e trabalho.

    No ranking mundial dessa galera, a gente tá na triste vice-liderança. Esse dado é da OCDE, que é a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Eles levaram em consideração 37 países. De todos eles, a gente só não tá pior que a África do Sul. E o mais maluco disso tudo é pensar que o Brasil é um país com muitos buracos nas demandas por profissionais qualificados em várias áreas.

    A Confederação Nacional da Indústria, a CNI, mostra bem essa dificuldade. Eles falam que, entre as áreas em que há muita dificuldade em achar profissionais pra trabalhar, o perrengue maior do RH fica nos setores de Pesquisa e Desenvolvimento – 91% das empresas reclamam dessa dificuldade nesse setor específico.

    Mas, de maneira geral, quase todas reclamam que tá puxado encontrar todo tipo de operadores e técnicos. Os setores de biocombustível, móveis e fabricação de roupas são os que mais têm muita vaga pra pouco candidato. O problema é que, dos homens nem-nem, quase a metade (46%) nem o ensino médio terminaram.

    Pô, mas se de um lado tem muita vaga e do outro tem gente desempregada é só treinar os nem-nem que logo essa conta fecha, não? Não! Seria bom se essa regra fosse tão lógica assim na prática, mas ela não é. Primeiro de tudo, a gente precisa entender que nem-nem não necessariamente é nhenhenhém. Você pode até achar que é preguiça, que essa geração não quer nada com nada. Mas esse também era o discurso dos meus avós em relação à minha geração.

    E aqui tô eu, empregado, com meus boletos em dia e tentando sobreviver todo santo dia ao fantasma do burnout que assombra quase todo mundo que tem a minha faixa de idade no mercado de trabalho. Graças ao bom Deus eu acabei tendo mais sorte e oportunidades do que muitos colegas que dividiram as salas de aula das escolas públicas onde eu estudei.

    Ser um nem-nem, muitas vezes, é nunca ter tido acesso de verdade a um sistema educacional decente ou ao mercado formal de trabalho. A gente vive num país onde, em 2023, ainda existem 30 mil escolas públicas nem-nem… que não têm nem internet, nem ensino de qualidade alinhado com as oportunidades que tão voando no mercado de trabalho.

    E nem vem com esse papo de “besteira, é só querer”. Não é bem assim, tá?! Vou te dar só um exemplo, ó: 60% dos nem-nem são mulheres, a maioria com filho ou filhos pequenos. Sem ter com quem deixar a criança, como é que vai trabalhar ou estudar? E quase 70% de todo esse grupo são pretos ou pardos. Muitos têm que cuidar, senão do filho, de algum irmão ou irmã mais nova, de um parente idoso e assim vai…

    Muita gente ainda não entendeu o tamanho desse problema. A gente tá falando de mais de 7 milhões de jovens. Uma massa de trabalho desperdiçada numa proporção que, sim, vai fazer muita falta em breve. Tanta gente sem produzir um giro maior da nossa economia significa uma lentidão clara na produção de riqueza que a gente tanto precisa pra ser competitivo e eficiente, principalmente olhando pra além das nossas fronteiras.

    Sem mão de obra, as empresas produzem menos, vendem menos, crescem menos e contratam menos, ou seja, a gente vai minguando a nossa economia como um todo. E o problema segue quando a gente percebe que, além disso não ajudar o país, ainda traz uma conta cara pro governo, que precisa ativar projetos sociais pra tentar de alguma forma ajudar essas pessoas a saírem dessa situação.

    E a gente sabe que, infelizmente, a aplicação dos impostos no Brasil não é das mais eficientes. A jovem que fica em casa cuidando da filha faz isso, muitas vezes, porque no bairro dela não tem creche pra todas as crianças ou, quando tem, o horário de funcionamento não dá conta de cumprir uma rotina de trabalho.

    Tem uma minoria que nem trabalha e nem estuda porque não quer? Claro que sim, mas, acredite, um percentual tão alto assim escancara um problema que é muito mais do governo do que dos jovens em si. E essa é uma conta que só tende a crescer e trazer prejuízos maiores pro futuro.

    O único caminho, dizem os especialistas, é um investimento público de qualidade, principalmente em educação no geral. Educação sexual, pra prevenir a gravidez na adolescência, educação em escolas públicas de qualidade e educação superior que permita a entrada de estudantes que realmente não tem condições de pagar por um curso privado.

    É fácil? Não! É rápido? É claro que não! Mas só cabe a nós entendermos a importância de cobrar uma aplicação mais justa dos investimentos públicos pra minimizar mais essa treta. Vai ser bom pra todo mundo se a gente conseguir fazer essa pressão. Mesmo que você não concorde, tá tudo conectado, ou seja… esse problema também é seu!

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