“Surreal”: moradores do Canadá descrevem devastação após passagem de Fiona
Milhares de pessoas ficaram sem energia no país
Fiona atravessou a costa leste do Canadá com força de furacão depois de atingir a Nova Escócia, neste sábado (24), com ventos fortes e tempestades, deixando milhares sem energia e desmoronando algumas casas costeiras.
Agora sendo um ciclone pós-tropical, Fiona teve ventos máximos sustentados de 112 km, enquanto continuava a enfraquecer lentamente, de acordo com o Centro Nacional de Furacões dos EUA. Mas, as autoridades canadenses, alertaram que continua sendo uma tempestade perigosa e as ameaças ainda não acabaram.
Seu centro ficava a cerca de 130 quilômetros a noroeste da cidade costeira de Channel-Port aux Basques, onde a tempestade deixou um rastro de devastação. Algumas casas costeiras na área desmoronaram e algumas estruturas tombadas caíram no mar ou foram cercadas por enchentes, mostraram fotos enviadas da província na manhã de sábado.
Em Channel-Port aux Basques, casas foram levadas pela água, disse o prefeito Brian Button em um vídeo no Facebook na manhã de sábado. Perigosas tempestades – água do oceano empurrada para a terra – eram esperadas em partes do Atlântico Canadá, acompanhadas por “ondas grandes e destrutivas”, disseram meteorologistas no sábado.
As autoridades da província declararam estado de emergência para a cidade em meio a “múltiplos incêndios elétricos, inundações residenciais e alagamentos”.
René Roy, editor-chefe da Wreckhouse Press, uma publicação local, descreveu uma cena de carnificina na tempestade: árvores arrancadas, pelo menos oito casas próximas desapareceram na sequência de uma violenta tempestade, cabanas flutuando, um barco levado pelas águas da enchente para o meio de um playground local.
“Eu vivi o furacão Juan e aquele foi um dia de neblina comparado a esse monstro”, disse Roy, 50 anos, à CNN. O furacão Juan atingiu a costa canadense como uma tempestade de categoria 2 em 2003, derrubando linhas de energia e árvores e deixando para trás grandes danos. “É surreal o que está acontecendo aqui”, acrescentou.
Roy declarou ainda que deixou sua casa e ficou com um primo em um terreno mais alto. Ele não tinha ideia no sábado à noite se sua casa ainda está de pé. Entretanto, os profissionais de emergência o impediram de dirigir para verificar. Não era seguro fazê-lo, eles avisaram.
Fotos de outro morador da área, Terry Osmond, mostraram um prédio desmoronado em Channel-Port aux Basques cercado por água do mar na costa, e madeira lascada e outros detritos foram espalhados pela cidade.
“Nunca na minha vida houve tanta destruição em nossa área”, escreveu Osmond, 62 anos, à CNN.
Uma mulher na cidade foi resgatada da água na tarde de sábado depois que sua casa desabou, comunicou a Polícia Montada Real do Canadá. Ela foi levada para o hospital, no entanto, a extensão de seus ferimentos não foi revelada.
Vários prédios foram destruídos na comunidade costeira de Burnt Islands, em Terra Nova, segundo um vídeo postado nas redes sociis . Casas, ou partes delas, desmoronaram, e seus detritos se espalharam pelo solo e pela água do mar.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, declarou que o governo estava avaliando os danos causados pela tempestade, mas as autoridades já começaram a ajudar as comunidades afetadas, inclusive aprovando o pedido de assistência federal da Nova Escócia. As Forças Armadas do Canadá também serão enviadas para a região para ajudar na avaliação e limpeza de danos.
Devastação é “de tirar o fôlego”, diz prefeito
Enquanto isso, mais de 400 mil canadenses ficaram no escuro no sábado à noite, incluindo mais de 290 mil pessoas sem energia na Nova Escócia e mais de 85. mil na Ilha do Príncipe Eduardo, de acordo com o site Poweroutage.com.
Restaurar a energia estava entre as maiores prioridades das autoridades, afirmou o primeiro-ministro da Nova Escócia, Tim Houston, durante uma entrevista coletiva, descrevendo danos “chocantes” em toda a província, incluindo comunidades cujas estradas foram destruídas e linhas de energia foram derrubadas.
Mas as condições climáticas ainda eram muito severas em muitas áreas no sábado à noite para as equipes começarem a avaliar e reparar os danos, disse o presidente e CEO da Nova Scotia Power, Peter Gregg. Mais de 900 técnicos de energia estavam a caminho da área, mas com partes da província ainda enfrentando condições de tempestade, Gregg acrescentou que alguns clientes podem sofrer quedas de energia por vários dias.
A tempestade o Canadá como um poderoso ciclone pós-tropical no leste da Nova Escócia, entre Canso e Guysborough, e atravessou a ilha Cape Breton da província. Autoridades na área de Cape Breton declararam emergência e pediram que as pessoas se abrigassem no local .
No sábado à noite, o município regional de Cape Breton revelou que os problemas de telecomunicações em andamento representam desafios e pediu para os moradores a permanecerem em abrigos seguros, pois as estradas estavam cheias de árvores caídas e linhas de energia e eram inseguras para viajar. Equipes de emergência estão trabalhando para ajudar quem foi prejudicado.
A oeste, na capital da Nova Escócia, Halifax, o telhado de um complexo de apartamentos desabou, forçando cerca de 100 pessoas a fugir para um abrigo, expôs o prefeito Mike Savage à CNN no sábado.
“A magnitude desta tempestade foi de tirar o fôlego”, proferiu Savage. “Acabou sendo tudo previsto”, continuou.
Autoridades em Halifax disseram que os fortes ventos e os riscos de inundações costeiras permaneceram pelo resto do dia e pediram aos moradores que fiquem fora das estradas enquanto os esforços de limpeza estão em andamento.
Em Charlottetown, capital da Ilha do Príncipe Eduardo, a polícia tuitou fotos de danos, incluindo o teto desabado de uma casa.
“As condições são como nada que já vimos”, twittou a polícia de Charlottetown no início do sábado.
O que poderia ser a seguir
No sábado à noite, o furacão Fiona continuava a impactar partes do Canadá e do leste de Quebec com ventos fortes e ondas de tempestade prejudiciais, mas as condições deveriam melhorar em Cape Breton e na ilha do Príncipe Eduardo e mais tarde em Îles-de-la-Madeleine e no sudoeste de Newfoundland.
“Também pode haver algumas inundações costeiras no estuário de St. Lawrence e na costa norte de Quebec”, disse o Centro de Furacões.
Espera-se que os ventos com força de vendaval e de tempestade continuem em partes do Canadá até o início de domingo.
No sábado de manhã, rajadas com força de furacão foram relatadas, geralmente variando de 110km/h a150 km/h. Uma rajada máxima no meio da manhã foi de 179 km/h em Arisaig, Nova Escócia, de acordo com o Environment Canada.
As chuvas podem totalizar até 254 milimetros em alguns lugares, e inundações significativas são possíveis, disseram os meteorologistas.
A tempestade já tirou a vida de pelo menos cinco pessoas e desligou a energia para milhões ao atingir ilhas no Caribe e no Atlântico no início desta semana.
Fiona foi classificada como uma tempestade de categoria 4 no início da quarta-feira (21) sobre o Atlântico depois de passar pelas Ilhas Turks e Caicos e permaneceu assim até a tarde de sexta-feira (23), quando enfraqueceu ao se aproximar do Canadá.
Tornou-se pós-tropical antes de atingir o continente, o que significa que, em vez de um núcleo quente, a tempestade agora tinha um núcleo frio. Isso não afeta a capacidade da tempestade de produzir ventos intensos, chuva e tempestades, apenas significa que a mecânica interna da tempestade mudou.
Segundo Chris Fogarty, gerente do Centro de Furacões Canadense, o furacão Fiona tinha o potencial de se tornar a versão canadense da supertempestade Sandy. Antes de Fiona chegar, Sandy em 2012 afetou 24 estados e toda a costa leste, causando danos estimados em US$ 78,7 bilhões.
Uma pressão barométrica não oficial de 931,6 mb foi registrada no sábado em Hart Island, o que faria de Fiona a tempestade de menor pressão já registrada no Canadá.