Gilmar driblou questão das mensagens ao citá-las como 'curiosidade', diz jurista
'Mensagens seriam dispensáveis, mas está acontecendo um campo de batalha pela opinião pública', disse Rubens Glezer
Responsável pela retomada do julgamento da suspeição do ex-juiz Sergio Moro nos casos da Operação Lava Jato, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes citou em seu voto, a favor da suspeição, as mensagens hackeadas entre procuradores da operação e Moro, mas não abordou a validade das provas no processo.
Para Rubens Glezer, jurista e coordenador do projeto Supremo em Pauta da FGV-SP, Gilmar “driblou” a questão ao não fundamentar voto nas mensagens, mas sim utilizá-las "a título de curiosidade”.
“Mensagens seriam dispensáveis, mas está acontecendo um campo de batalha pela opinião pública. Gilmar não usou as mensagens como fundamento, mas citou a título de curiosidade. Aconteceu algo semelhante com áudios de Dilma e Lula quando ele disse não ter usado a gravação, mas leu sua transcrição durante a leitura de seu voto.”
Destino esperado
Glezer disse também que o destino da Operação Lava Jato foi semelhante ao da Operação Mãos-Limpas, que ocorreu na Itália e que é inspiração confessa de Sergio Moro para as investigações brasileiras.
“O destino trágico da Lava Jato poderia ser evitado, porque foi o que aconteceu na operação Mãos-Limpas, que foi inspiração declarada da Lava Jato. Na Itália, depois de um momento de promissor combate à corrupção ter abalado a estrutura política do país, a agenda de combate à corrupção se enfraqueceu e o mundo político conseguiu se articular para tornar mais difícil o combate à corrupção.”
