Alckmin e Tarcísio articulam ofensiva com empresários para reverter tarifas

Enquanto isso, Lula tem adotado uma linha mais dura contra Trump

Da CNN, São Paulo
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A partir de campos políticos distintos, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), lideram as articulações governamentais com o setor empresarial em busca de uma saída para reverter a tarifa de 50% anunciada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos exportados pelo Brasil.

Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Alckmin será o responsável por coordenar o diálogo com o empresariado para definir a reação brasileira ao tarifaço.

A composição do comitê empresarial ainda será finalizada pelo governo Lula, mas a intenção é reunir representantes dos segmentos mais impactados pela medida, como os produtores de carne bovina, suco de laranja, café e indústria de tecnologia. A Embraer, fabricante de aeronaves, também deve integrar o grupo, apurou a CNN.

A proposta é envolver diretamente o setor produtivo nas negociações, incluindo empresários de diversas áreas da economia. O grupo discutirá não apenas estratégias de convencimento junto aos EUA, mas também planos alternativos em caso de impasse, como a ampliação de mercados para os produtos brasileiros.

Segundo Alckmin, um comitê interministerial também vai participar das conversas com o setor produtivo e com a Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil).

"Mostraremos claramente que os Estados Unidos têm, sim, déficit, e um déficit grande, de US\$ 1,2 trilhão na questão de exportação e importação de bens, mas com o Brasil têm superávit comercial", disse o vice-presidente à rádio CBN. "Então, o Brasil não é problema."

"Evidente que o Brasil tem o dever de proteger as suas empresas", completou.

São Paulo é o estado brasileiro que mais exporta para os EUA, o que reforça o peso político de Tarcísio nessa agenda. Na sexta-feira (11), o governador de SP se reuniu com o encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, no escritório do governo paulista em Brasília.

Pediu formalmente a revisão da sobretaxa de 50% anunciada por Trump e destacou os impactos da medida sobre a indústria e o agronegócio do estado.

Durante a conversa, Tarcísio também ressaltou a importância estratégica da relação histórica entre Brasil e Estados Unidos, além da urgência em superar o atual impasse.

Após a reunião, antecipada pela CNN, o governador afirmou que pretende dialogar com empresas paulistas "lastreado em dados e argumentos consolidados" para buscar uma solução efetiva. Também alertou para os impactos da tarifa sobre setores-chave da economia.

"É preciso negociar. Narrativas não resolverão o problema. A responsabilidade é de quem governa", escreveu Tarcísio.

Críticas e mudança de tom

Inicialmente, Tarcísio adotou um tom crítico voltado ao governo federal sobre as tarifas. Na primeira manifestação pública, disse: "Lula colocou a ideologia acima da economia, tiveram tempo de prestigiar ditaduras e defender censura e agredir o maior investidor."

Na ocasião, não citou diretamente o tarifaço. Em um segundo momento, porém, ajustou o discurso. Manteve críticas ao Planalto, mas reconheceu o impacto da medida dos EUA:

"O tarifaço é deletério", disse, ao afirmar que São Paulo será o estado mais afetado, mencionando especialmente a Embraer e o setor de etanol.

Enquanto Alckmin e Tarcísio se posicionam como interlocutores do setor produtivo, Lula tem adotado uma linha mais dura contra Trump.

Também na sexta-feira (11), durante cerimônia em Linhares (ES) sobre indenizações aos atingidos pela tragédia de Mariana, o presidente reagiu: “Esse país não baixará a cabeça para ninguém. Ninguém porá medo nesse país com discurso e com bravata. Ninguém. E eu acho que, nesse aspecto, nós vamos ter o apoio do povo brasileiro, que não aceita nenhuma provocação.”

*Publicado por Douglas Porto, com informações de Jussara Soares, Julliana Lopes, Pedro Venceslau, Leandro Magalhães, Fernanda Tavares e Pedro Teixeira