Amorim vê com preocupação envio de navios dos EUA para a costa da Venezuela

Assessor da Presidência também criticou expressamente a imposição de tarifas do governo norte-americano aos produtos brasileiros, defendendo a busca por diálogo

Jonatas Martins, da CNN, Brasília
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Celso Amorim, assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, afirmou que está preocupado com o envio de navios dos Estados Unidos para a costa da Venezuela. O representante do governo participou, nesta quarta-feira (20), de sessão da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, justifica que queria usar militares para ir atrás das gangues de drogas da América Latina, que foram designadas como organizações terroristas globais. Amorim defendeu que a não-intervenção dos EUA é fundamental.

"Eu não posso esconder que eu vejo com preocupação o deslocamento de barcos americanos e a maneira de ver a questão", disse. "Eu acho que não-intervenção é fundamental. Não-intervenção [é um dos] princípios basilares da política externa brasileira", prosseguiu.

O assessor-chefe também manifestou preocupação com o risco de uma narrativa sobre uso de "força total" contra o crime organizado. Ainda alegou que as ações ilegais devem ser combatidas com "a cooperação dos países e não com intervenções unilaterais”.

Além disso, ao ser questionado por deputados sobre a atuação do governo brasileiro nas eleições venezuelanas de 2024, Amorim disse que esperava pelas atas das votações, mas elas nunca vieram: "Nós nunca tomamos uma atitude de reconhecimento de governo, mas mantivemos uma relação de Estado."

Tarifas dos EUA

O assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também criticou expressamente a imposição de tarifas do governo dos EUA aos produtos brasileiros, defendendo que o governo federal busque sempre o diálogo. Mas ponderou haver dificuldades em manter alguma forma de negociação com a gestão de Donald Trump.

“Com outros países em que digamos a questão tarifária ficou limitada a parte comercial, com o Brasil a carta começa com dois parágrafos que são sobre política interna brasileira. Isso é uma coisa que foge totalmente da prática”, apontou.

Amorim enxerga um problema sério em tentar canais com os EUA e cita, além de outros ocorridos, o fato da reunião do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com autoridades norte-americanas ter sido desmarcada sem motivos.

Ainda defendeu que o Executivo não irá interferir sobre outros poderes, principalmente em processos judiciais, e que a soberania brasileira é inegociável. "Não podemos também ficar implorando para ter relações”, disse.

Amorim também citou que algumas pessoas consideram a América Latina como um "quintal estratégico" dos EUA, mas isso não será aceito.

Israel e Palestina

Outro assunto que foi abordado durante Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados foi a questão do conflito Israel e Palestina.

O assessor aponta que o Brasil defende o direito de Israel existir, condenando práticas terroristas, mas não pode aceitar a eliminação em massa do povo palestino.

"Condenamos totalmente o antissemitismo, mas também temos a preocupação que ele seja instrumentalizado para defender qualquer governo de Israel”, afirmou.