Após críticas, Bolsonaro diz que usa WhatsApp para trocar mensagens pessoais
Presidente compartilhou vídeo que convoca para ato de apoio a seu governo
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quarta-feira, 26, em sua conta no Twitter que troca “mensagens de cunho pessoal” com amigos no WhatsApp e “qualquer ilação fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República”. O tuíte é uma resposta às críticas recebidas após a informação de que ele disparou um vídeo no qual convoca seus partidários a participar de protestos em apoio a seu governo.
Na sequência de 1 minuto e 40 segundos, há referências à facada levada por Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018, com críticas à esquerda. A mensagem que acompanha o vídeo compartilhado pelo WhatsApp ainda fala: “O Brasil é nosso, não dos políticos de sempre”. Não há nenhuma menção expressa ao Legislativo e ao Judiciário, embora as convocações de grupos de direita para os atos incluam críticas a estes poderes.
O vídeo chama os partidários de Bolsonaro a “mostrar a força da família brasileira” e ir às ruas para apoiá-lo e rejeitar “os inimigos do Brasil”. A mensagem do presidente enviada a um destinatário não identificado foi tornada pública pelo jornal O Estado de S. Paulo – não há informações do dia em que ela foi compartilhada.
Recentemente, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, criticou o Congresso por discordâncias com o Orçamento da União.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, afirmou que o apoio de Bolsonaro a um protesto convocado contra o tribunal e o Congresso, se confirmado, mostra que o político não está à altura do cargo.
“Se confirmada, (revela) a face sombria de um presidente da República que, que ignora o sentido fundamental da separação de Poderes, que demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce e cujo ato de inequívoca hostilidade aos demais Poderes da República traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável degradação do princípio democrático”, afirmou ele à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
A declaração do ministro foi confirmada pela CNN Brasil pouco depois da publicação do texto pela Folha.
O ministro Gilmar Mendes, também do STF, se manifestou sem fazer menção explícita ao vídeo. “A CF88 garantiu o nosso maior período de estabilidade democrática. A harmonia e o respeito mútuo entre os Poderes são pilares do Estado de Direito, independemente dos governantes de hoje ou de amanhã. Nossas instituições devem ser honradas por aqueles aos quais incumbe guardá-las.”
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), também criticou o compartilhamento feito por Bolsonaro. “Criar tensão institucional não ajuda o País a evoluir. Somos nós, autoridades, que temos de dar o exemplo de respeito às instituições e à ordem constitucional. O Brasil precisa de paz e responsabilidade para progredir”, escreveu Maia, que está na França em viagem pessoal.
Na sequência, Maia citou a importância do respeito às instituições. “Só a democracia é capaz de absorver sem violência as diferenças da sociedade e unir a nação pelo diálogo. Acima de tudo e de todos está o respeito às instituições democráticas”, acrescentou.
Análise
Para o comentarista Iuri Pitta, da CNN Brasil, com a divulgação do vídeo, o presidente “aposta no conflito eterno”. “Isso é uma estratégia dele, faz parte do ser dele. O presidente tem esse espírito e usa isso a seu favor – às vezes de forma estratégica e intuitiva para manter a coesão da sua base política e fazer enfrentamento aos seus opositores”, afirma.
“Essa postura de aglutinar forças e fazer o debate político público com os opositores faz parte da política. O problema é quando uma instituição vai contra outras”, acrescenta o comentarista.
Pitta diz também que o fato de o conteúdo ter sido enviado pelo presidente “por si só já tem um peso institucional forte”, e destaca que “ainda que ele tenha feito esse compartilhamento para um grupo seleto de amigos, é diferente do deputado ou mesmo do cidadão Jair Bolsonaro fazer isso”.
O analista classifica que Bolsonaro agiu de forma hostil contra as instituições e não contra os políticos. “Uma coisa é o presidente debater e questionar opositores, agora ir contra as instituições passa a ser uma hostilização gratuita e de não entender o papel de cada uma no sistema democrático”, aponta. “O presidente está dobrando a aposta.”