Bolsonaro lembra atritos com Barroso: "Tem algo pessoal entre nós dois"

Ex-presidente disse ainda que releva "muita coisa" mas que ministro não o esquece

Leticia Martins, Davi Vittorazzi e Maria Clara Matos, da CNN, São Paulo e Brasília
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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) relembrou, nesta terça-feira (10), durante interrogatório da ação do plano de golpe de Estado, dos atritos com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, antes dele virar ministro da Corte.

Bolsonaro é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de liderar uma organização criminosa com objetivo de permanecer no poder após as eleições de 2022, das quais saiu derrotado.

"O senhor deve conhecer o meu temperamento dentro do Congresso, eu respondi uns 20 processos de cassação lá dentro”, afirmou o ex-presidente.

“Um pouco explosivo, muitas vezes errei. Quanto ao senhor ministro Barroso, ele foi divulgado lá atrás [...] Ao sair de uma reunião da UNE e ele falou: "Derrotamos o Bolsonarismo", prosseguiu.

“A gente tem algo pessoal entre nós dois. Eu relevo muita coisa, mas parece que ele marcou isso aí e não me esquece. Esse atrito com o então advogado Barroso vem lá de trás, não tem nenhuma ameaça a nenhum Poder", complementou.

A declaração de Bolsonaro é referente a uma fala de Barroso feita em 2023 no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Na época, o STF divulgou uma nota à imprensa justificando que a expressão se referia ao “extremismo golpista e violento que se manifestou no 8 de janeiro”, e que se restringia a uma minoria.

“Jamais pretendi ofender os 58 milhões de eleitores do ex-presidente nem criticar uma visão de mundo conservadora e democrática, que é perfeitamente legítima. Tenho o maior respeito por todos os eleitores e por todos os políticos democratas, sejam eles conservadores, liberais ou progressistas”, escreveu o presidente da Corte.

Barroso assumiu a presidência do STF em setembro de 2023. Suas falas foram uma reação a um grupo de manifestantes que protestava contra ele na ocasião. Além das vaias, eles carregavam uma faixa com a frase "Barroso: inimigo da enfermagem e articulador do golpe de 2016".

Acusação contra Bolsonaro

A denúncia aponta ainda que, em dezembro de 2022, o ex-presidente recebeu de Filipe Martins, ex-assessor da Presidência, uma minuta de decreto que sugeria, entre outros pontos, a realização de novas eleições.

Bolsonaro teria feito alterações no texto e, depois de aprová-lo, passou a discutir o conteúdo com os comandantes das Forças Armadas.

A denúncia também menciona diversas reuniões como parte da articulação golpista. Uma delas ocorreu em julho de 2022, quando ministros do governo teriam discutido manobras para "virar o jogo" eleitoral.

A PGR ainda revelou a existência de um plano chamado “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Segundo a denúncia, Bolsonaro tinha “plena consciência” do plano.