
Lula aposta em ampliar relação com países do Brics em resposta a Trump
Presidente conversou ao telefone com o presidente da China, após ligações com os líderes da Rússia e da Índia
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem apostado em ampliar a relação do Brasil com países do Brics como uma resposta ao tarifaço e às pressões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Lula tem promovido uma agenda de conversas para tentar angariar apoio dos líderes do bloco. Na segunda (12), tarde da noite no Palácio da Alvorada, foi a vez de ele falar ao telefone por cerca de uma hora com o líder chinês, Xi Jinping.
A intenção é avançar na parceria bilateral, com a identificação de novas oportunidades de negócios. De acordo com a mídia estatal chinesa, Xi Jinping reiterou a disposição do país de trabalhar com o Brasil para estabelecer o que chamou de um exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do sul global. Também apoiou a soberania nacional brasileira, contra qualquer unilateralismo e protecionismo.
A fala é uma referência direta aos ataques de Donald Trump ao governo e ao Judiciário brasileiro. E também à guerra comercial impulsionada por Washington contra Pequim.
Nesta última semana, o presidente Lula também já havia conversado ao telefone com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Em todas as conversas, ele ressaltou a defesa do multilateralismo e a importância de uma maior integração entre os países.
A expectativa é de que, nos próximos dias, o Itamaraty agende, ainda, ligações com o chefe de governo da Indonésia e com o da África do Sul.
As ligações são uma maneira de o Brasil se posicionar no tabuleiro geopolítico, dadas as dificuldades de reverter o tarifaço com a Casa Branca. O Brics acaba se tornando uma espécie de refúgio. A ideia do Planalto é mostrar que o Brasil não depende de um país específico, nem se dobrará a pressões políticas.
A briga entre Lula e Trump tem ganhado cada vez mais destaque internacional. Nesta terça-feira (12), o Financial Times afirmou que os entraves são sem precedentes, sem sinal de resolução rápida e podem se agravar facilmente.
Independentemente dos motivos do início do conflito, "é provável que haja algum impacto negativo no curto prazo para ambos os lados", segundo o jornal britânico.
Em entrevista à rádio BandNews FM, Lula voltou a dizer que Trump se comporta como um imperador do mundo. Ele até disse esperar conversar com Trump algum dia, “como dois seres humanos civilizados”. Mas, no momento, qualquer ligação está fora do radar dos assessores do presidente brasileiro.
Lula ainda cutucou os Estados Unidos ao dizer que eles teriam ciúmes do Brics.
“Acho que os EUA têm um pouco de ciúmes da participação do Brasil no Brics. Porque da mesma forma que criamos o Brics, criamos o G20. É importante não esquecer que o G20 foi criado por conta da crise causada pelos EUA em 2008.”
Embora a crise com os Estados Unidos não seja somente por discursos e iniciativas do Brics, a relação Brasília-Washington se agravou de maneira significativa depois da cúpula do bloco no Rio de Janeiro, em julho. Por outro lado, o Itamaraty busca mostrar que as relações com seus membros continua inabalável e devem ser ampliadas.
Enquanto isso, na realidade interna do Brasil, o governo federal trabalha para socorrer os setores afetados pelo tarifaço, sem piorar ainda mais as contas públicas. O anúncio das medidas está previsto para esta quarta-feira (13), no Palácio do Planalto. O foco do plano é garantir a manutenção dos empregos gerados pelas mais de nove mil companhias que exportam ao mercado americano.
O Itamaraty ainda deve apostar numa “briga” contra o tarifaço na OMC (Organização Mundial do Comércio). Lula também não descartou retaliar unilateralmente as tarifas da Casa Branca.