Lula dá aval a projeto que amplia poder do Cade contra big techs

Texto facilita atuação contra práticas anticoncorrenciais de empresas consideradas de "relevância sistêmica"; governo reconhece que proposta tem potencial de desagradar EUA

Daniel Rittner e Isabel Mega, Tainá Falcão, da CNN, Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)  • (Ricardo Stuckert / Divulgação Presidência da República)
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu sinal verde ao projeto de lei que amplia o poder antitruste do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra as big techs.

Formulado pelo Ministério da Fazenda, o texto se inspira na Lei de Mercados Digitais do Reino Unido, que entrou em vigência no ano passado.

O projeto estava pronto há meses, no Palácio do Planalto, esperando apenas um aval do presidente. Lula decidiu destravá-lo mesmo diante do risco -- identificado por seus auxiliares -- de aumento das tensões com o governo americano.

Agora, caberá à articulação política do Planalto coordenar o envio do projeto à Câmara dos Deputados.

O texto permite ao Cade antecipar-se a eventuais condutas anticoncorrenciais das empresas de tecnologia previamente classificadas como de "relevância sistêmica" em seus respectivos mercados.

Um dos pontos mais importantes do projeto é a criação de uma superintendência específica no Cade com poderes para aplicar obrigações especiais às big techs.

Pela legislação atual, os processos no órgão antitruste são considerados lentos demais para acompanhar a velocidade do setor.

Na avaliação do governo, hoje muitas empresas inovadoras ou com promessas de inovação são "engolidas" por gigantes da tecnologia antes que o Cade possa tomar decisões que preservem a concorrência.

 

 

Por isso, haveria o estabelecimento de critérios para definir uma plataforma como "sistemicamente relevante" -- faturamento global acima de R$ 50 bilhões por ano ou superior a R$ 5 bilhões no Brasil.

Segundo fontes do governo, não mais do que cerca de dez companhias seriam enquadradas nesse limite. No caso dessas empresas, o Cade teria poderes para tomar medidas de forma mais rápida.

Práticas consideradas comuns no setor são a preferência a produtos próprios em marketplaces, acordos de exclusividade e aquisições de startups para impedir que elas se tornem concorrentes das big techs no futuro.