Mauro Vieira: Não haverá diálogo com EUA que envolva interferência judicial

Chanceler disse que EUA tarifou Brasil por razões “expressamente políticas”, visando interferir no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados

Danilo Moliterno, da CNN, São Paulo
Mauro Vieira
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira  • Carlos Moura/Agência Senado
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O ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse em evento na cidade de São Paulo, nesta terça-feira (26), que o governo insiste em abrir canais de diálogo junto aos Estados Unidos sobre o tarifaço, mas que “não há possibilidade de negociação entre os países que envolva interferência em termos judiciais”.

O chanceler afirmou que as tarifas foram adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com razões “expressamente políticas”, visando interferir no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados. Vieira reiterou que este é um tema interno e conduzido pelo Judiciário.

“Diante da impropriedade desta ação dos EUA, seja perante princípios da diplomacia ou do direito internacional, é sempre importante destacar: não há possibilidade de negociação entre os países que envolva interferência em termos judiciais. Seguiremos resistindo a estas pressões e insistindo no respeito às instituições”, disse.

Em sua fala a representantes do setor privado brasileiro e americano, o chanceler ainda afirmou que “não é razoável que o governo dos Estados Unidos cause danos à relação entre os países por questões políticas que se resumem aos desígnios pessoais de pequeno grupo político do Brasil”.

“Não podemos ficar reféns de interesses pessoais nem ceder a pressões indevidas”, completou na reunião realizada na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

“Refundação da OMC”

Vieira disse ainda no evento que o Brasil pretende dar início a uma discussão internacional sobre a “refundação” da OMC (Organização Mundial do Comércio), em meio às preocupações por tarifas dos Estados Unidos.

O chanceler relatava que, após a aplicação de tarifas por Donald Trump, o governo brasileiro estabeleceu canais de contato com uma série de países desenvolvidos e em desenvolvimento — como México, Índia, França, entre outros — e ouviu preocupações quanto ao sistema internacional de comércio.

“O Brasil pretende deste modo dar início a discussões sobre reforma estrutural da OMC, uma verdadeira refundação do organismo sobre bases mais modernas e flexíveis”, disse Vieira.

A OMC está paralisada desde 2019, enquanto os Estados Unidos bloquearam as nomeações de juízes para o órgão de apelação do mecanismo internacional. Assim, fica impedido que o sistema de solução de controvérsias da organização funcione.