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    “Muita gente não desejava largar o poder”, diz Múcio sobre delação de Cid e plano de golpe

    Tenente-coronel Mauro Cid disse em delação premiada à Polícia Federal (PF) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula das Forças Armadas após as eleições do ano passado para discutir como ficar no poder

    Léo Lopesda CNN , em São Paulo

    O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou, nesta sexta-feira (22), que percebia que “muita gente desejava não largar o poder”.

    Na quinta-feira (21), foi reportado que o tenente-coronel Mauro Cid disse em delação premiada à Polícia Federal (PF) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula das Forças Armadas após as eleições do ano passado para discutir um plano de golpe para não deixar o poder, e o comandante da Marinha teria aceitado.

    Veja: Marinha teria aceitado dar golpe de Estado; Exército, não

    Falando a repórteres em frente ao Ministério da Defesa nesta sexta, Múcio disse que o ex-comandante da Marinha, o almirante da reserva Almir Garnier, não o recebeu, diferentemente dos ex-comandantes do Exército e Aeronáutica.

    “Não sei se ele tinha aspirações golpistas, mas a gente via, os jornais falavam. Era outro governo, outros comandantes [das Forças Armadas], outro presidente da República. Na verdade, a gente percebia que muita gente não desejava sair do poder, largar o poder”, afirmou o ministro.

    Múcio também informou que não conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as informações reveladas sobre a delação de Cid.

    “O presidente Lula chegou de viagem e ontem passou o dia recolhido e despachando em casa. Ontem eu não conversei com ele”, declarou.

    Assim como na quinta-feira (21), o ministro também voltou a destacar que não teve acesso direto às acusações de Cid envolvendo militares das Forças Armadas.

    “Quem preside esse processo de investigação são dois grupos: o primeiro é o ministro Alexandre de Moraes, que junto com a Polícia Federal comanda uma área, e outro é a própria CPI [do 8 de janeiro]. Eu tenho notícias todas as manhãs através de vocês [da imprensa], que alguém vazou”, disse Múcio.

    “Na verdade, estamos apenas aguardando tanto a CPI quanto o ministro Alexandre de Moraes nos passem os nomes dos implicados, quem foram os envolvidos, para que nós possamos tomar as providências”, concluiu.

    Cid diz em delação que Bolsonaro discutiu plano de golpe

    O tenente-coronel Mauro Cid disse à Polícia Federal que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com a cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir detalhes de um plano de golpe para não deixar o poder. O encontro teria ocorrido quando Bolsonaro ainda estava na presidência, após as eleições do ano passado.

    A informação confirmada pela CNN foi revelada primeiramente por O Globo e UOL.

    Segundo fontes com acesso à investigação, Cid detalhou duas situações. Em uma delas, cita que Bolsonaro recebeu em mãos uma minuta golpista. Em outro momento, o ex-ajudante de ordens detalha a reunião com a cúpula militar.

    No encontro, as Forças Armadas teriam sido consultadas sobre a possibilidade de uma intervenção militar.

    Estrutura das Forças Armadas em novembro de 2022
    Estrutura das Forças Armadas em novembro de 2022 / CNN

    A resposta da cúpula da Marinha, ainda segundo Mauro Cid, teria sido que as tropas estavam prontas para agir, apenas aguardando uma ordem dele. Já o comando do Exército não teria aceitado o plano.

    Esse depoimento sobre plano golpista e minuta do golpe é um dos pontos analisados na delação premiada fechada por Mauro Cid com a Polícia Federal.

    O tema é tratado com cautela e sigilo. Para os fatos serem validados e as pessoas citadas pelo tenente-coronel serem eventualmente responsabilizadas, é preciso que haja provas que corroborem as informações repassadas pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

    O que dizem as defesas?

    Em nota, a defesa de Mauro Cid cita as matérias da imprensa sobre “possíveis reuniões com a cúpula militar para avaliar golpe no país” e afirma que “não tem os referidos depoimentos, que são sigilosos, e por essa mesma razão não confirma seu conteúdo”.

    Os advogados de defesa de Jair Bolsonaro (PL) emitiram um comunicado alegando que o ex-presidente “jamais compactuou” com qualquer movimento ilegal. Eles afirmam que o ex-presidente “durante todo o seu governo jamais compactuou com qualquer movimento ou projeto que não tivesse respaldo em lei, ou seja, sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição Federal”.

    A defesa ainda alega que Bolsonaro “jamais tomou qualquer atitude que afrontasse os limites e garantias estabelecidas pela Constituição e, via de efeito, o Estado Democrático de Direito”.

    Por fim, os advogados afirmaram que vão adotar “medidas judiciais cabíveis contra toda e qualquer manifestação caluniosa, que porventura extrapolem o conteúdo de uma colaboração que corre em segredo de Justiça, e que a defesa sequer ainda teve acesso”.

    A Marinha do Brasil divulgou uma nota à imprensa esclarecendo que “não teve acesso ao conteúdo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid” e “não se manifesta sobre processos investigatórios em curso no âmbito do Poder Judiciário”.

    No comunicado, a Marinha ainda reafirma que “pauta sua conduta pela fiel observância da legislação, valores éticos e transparência”. E reitera que “eventuais atos e opiniões individuais não representam o posicionamento oficial da Força e que permanece à disposição da justiça para contribuir integralmente com as investigações”.

    Exército do Brasil, afirmou em nota, através de seu Centro de Comunicação Social, que “que as informações prestadas pelo TC Cid fazem parte de processos investigatórios, os quais estão sendo conduzidos pelos Órgãos competentes pelas apurações”.

    “Em consequência, a Força não se manifesta sobre processos apuratórios em curso, pois esse é o procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais Instituições da República. O Exército vem acompanhando as diligências realizadas por determinação da Justiça e colaborando com todas as investigações”, acrescentou o comunicado.

    “Por fim, cabe destacar que a Força pauta sua atuação pelo respeito à legalidade, lisura e transparência na apuração de todos os fatos que envolvam seus militares”, concluiu o Exército.

    CNN também entrou em contato com a Aeronáutica, mas ainda não teve retorno.

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