Não estou preocupado em atender governo ou oposição, diz Hugo à CNN

Presidente da Câmara diz não se preocupar com “narrativas” e defende escolha de Guilherme Derrite (PP-SP) para relatar o "PL Antifacção" enviado pelo Planalto: “Foi escolha minha”

Débora Bergamasco e Emilly Behnke, da CNN Brasil
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O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse nesta segunda-feira (17) que busca atender os interesses da sociedade em relação à segurança pública e que não está "preocupado" em atender interesses do governo ou da oposição. À CNN, ele afirmou ter feito uma escolha pessoal ao indicar Guilherme Derrite (PP-SP) para relatar o chamado "PL Antifacção".

"Ser presidente da Câmara é conviver com essa agenda constante de interesses, seja do governo, seja da oposição. Eu reajo muito tranquilamente a esses posicionamentos. Eu não entendo isso como pressão, faz parte do meu trabalho, mas eu estou mais preocupado nesse momento não é em atender o governo ou a oposição. É atender à sociedade brasileira", disse.

Hugo Motta marcou para esta terça-feira (18) a análise do projeto, como pauta única no plenário. Segundo ele, o texto ainda deve passar por ajustes até a votação. O projeto original foi enviado pelo governo. Derrite, no entanto, propôs mudanças e já apresentou quatro versões do seu parecer.

"Penso que até amanhã o relator pode fazer mais alguns ajustes, inclusive de interesse do governo. Importante registrar que o relator está conversando, sim, com ministros, com autoridades que representam o governo federal. Mas amanhã será o dia de votação dessa matéria no plenário da Câmara", disse.

O presidente da Casa justificou a escolha de Derrite para a função pelo perfil "técnico" de Derrite e pela proximidade com o assunto. O deputado está licenciado do comando da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

"O presidente quando escolhe o relator, ele escolhe o relator. E não por influência de ninguém. Isso até tem sido dito de 'influência de A, de B'. Não é. A escolha do Derrite foi uma escolha minha porque eu escolhi o cara que está no dia a dia, na rua, enfrentando o crime organizado", declarou.

A escolha de Derrite foi amplamente criticada por governistas. O deputado se filiou ao PP neste ano, mas antes fazia parte dos quadros do Partido Liberal e é um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Ele [Derrite] tem muito mais noção do que o cara que está aqui em Brasília, ou talvez no seu estado, tratando da política. Então, esse é o cara que eu acho que pode colaborar com o Brasil nesse momento tão grave da segurança pública", disse.

Hugo reafirmou ainda que o projeto de um novo Marco Legal de Combate ao Crime Organizado tem sido alvo de "diálogo constante" do relator. Na visão de Hugo, pela "qualidade técnica" do relatório de Derrite, a proposta deve avançar. Ele também descartou preocupação com o que chamou de "guerra de narrativas".

As diferentes versões do relatório que foram apresentadas após críticas ao texto, de acordo com Hugo, fazem parte do processo legislativo de negociações. O projeto deve ser debatido por líderes partidários em reunião com Hugo Motta nesta terça, antes da votação. No Senado, Motta também avalia haver uma "sinergia" e um "fluxo legislativo positivo" para o avanço da proposta.

"O trabalho é do relator, mas esse tema, especificamente da segurança pública, é muito caro para mim e eu tenho procurado, enquanto presidente, ser um facilitador na construção desse texto, dessa proposta, que vai, na minha avaliação, ser a maior aprovação que nós vamos fazer durante esse ano legislativo", declarou o presidente da Câmara.

Devedor contumaz

Sobre o combate ao crime organizado com foco na questão financeira, Hugo Motta afirmou que o colégio de líderes deve debater "nos próximos dias" o projeto que mira regras mais duras para coibir práticas dos chamados devedores contumazes e a sonegação de impostos no país.

"Aprovamos a urgência na Câmara de Deputados e devemos nos próximos dias estar definindo o relator e a perspectiva de cronograma para a sua sua votação", disse Hugo Motta.

O Senado já aprovou uma proposta sobre o tema. Na Câmara, os deputados aprovaram o regime de urgência do texto no fim de outubro. A matéria torna a fiscalização mais rígida e estabelece regras e punições para empresas devedoras.

Segundo o presidente da Câmara, o projeto é um dos que mais tem pedidos para a relatoria. O texto é uma das prioridades no Congresso definidas pelo Ministério da Fazenda desde o início do ano.

"Eu acho que [o relator] tem que ter um perfil técnico também. Essa matéria não é um assunto só de governo ou de oposição, é um assunto da sociedade", afirmou.