Não posso me calar diante de um crime, diz Contarato à CNN após ataque homofóbico
Durante depoimento do empresário bolsonarista Otávio Fakhoury à CPI da Pandemia, o senador tomou a palavra para se defender de uma ofensa preconceituosa
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES), titular da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, afirmou à CNN Brasil nesta quinta-feira (30) que “não pode se calar diante de um crime” ao comentar o ataque homofóbico sofrido nas redes sociais.
Mais cedo, durante depoimento do empresário bolsonarista Otávio Fakhoury, o senador tomou a palavra para se defender de uma ofensa homofóbica feita pelo depoente no Twitter.
“Não posso me calar diante de um crime. Segundo decisão do Supremo Tribunal Federal, [homofobia] foi equiparado ao crime de racismo, um dos poucos que são inafiançáveis no Brasil. A orientação sexual não define caráter”, afirmou o senador à CNN.
Contarato, que é casado com um homem e tem dois filhos negros, contou que passou a noite anterior ao depoimento “sem dormir”, refletindo se deveria expor ou não sua vida pessoal.
Ele, no entanto, preferiu usar o lugar de “destaque” da CPI da Pandemia para defender a população LGBTQIA+ — sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e mais — no país.
“É muito triste saber que uma pessoa tem valores tão diferentes [referindo-se ao empresário Fakhoury], porque ele começou a fala dele enaltecendo o currículo, mas o caráter não tem preço, e o que define caráter não é a orientação sexual, nem gênero e cor da pele”, disse.
Para se ter ideia da violência contra a população LGBTQIA+, em 2020, pelo 12º ano consecutivo, o Brasil foi o país que mais matou transexuais e travestis no mundo, segundo dados da Associação Nacional de Transexuais e Travestis (Antra). Foram 175 pessoas transexuais e travestis assassinadas.
“Espero que qualquer pessoa que tenha comportamento preconceituoso entenda que todos somos iguais perante a lei”, concluiu Contarato.
Entenda o caso
Uma publicação de Fakhoury nas redes sociais ironizou um erro gramatical do senador para, depois, insinuar que Contarato teria se “cativado” por algum outro parlamentar, destacando sua orientação sexual.
“O delegado [Contarato], homossexual assumido, talvez estivesse pensando no perfume de alguma pessoa ali daquele plenário”, escreveu o empresário.
Na ocasião, o parlamentar havia comentado sobre o depoimento também à CPI do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, em maio deste ano, dizendo que o ex-secretário deveria ser preso. Segundo ele, no depoimento havia se configurado “estado fragancial”.
Contarato rebate ofensa homofóbica
No início do depoimento do empresário bolsonarista Otávio Fakhoury à CPI da Pandemia, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) tomou a palavra para defender-se de uma ofensa homofóbica feita pelo depoente nas redes sociais.
A resposta de Fabiano Contarato veio em um breve momento em que ele assumiu a presidência da CPI, e aconteceu depois das declarações iniciais do depoente – que havia ressaltado valores familiares como constituintes de sua atuação político-partidária.
“O senhor não é um adolescente. É casado, tem filhos. Sua família não é melhor do que a minha”, disse Contarato. “Não pensem que pra mim é fácil estar aqui e me expor. Que tipo de imagem eu vou deixar pros meus filhos? Que tipo de imagem o senhor enquanto pai deixa para os seus filhos?”, afirmou o senador.
“Orientação sexual, cor da pele e poder aquisitivo não definem caráter. Se o senhor faz isso comigo como senador, imagine no Brasil que mais mata a população LGBTQIA+. O mínimo que o senhor deveria fazer é pedir desculpas a toda a população LGBTQIA+”, disse Contarato.
“Nada te dá direito de fazer o que o senhor fez. Não tem dinheiro que pague isso”, complementou.
O depoente desculpou-se com Fabiano Contarato: “Realmente, o meu comentário foi infeliz, em tom de brincadeira. Porém, é uma brincadeira de mau gosto. Declaro que meu comentário não teve a intenção de lhe ofender, e sei que, se ofendi, foi profundamente”, disse Otávio Fakhoury.