PF: Grupo liderado por Braga Netto queria ter acesso à delação de Cid
Relatório da Polícia Federal diz que general da reserva era líder de grupo que atuou para descredibilizar urnas eletrônicas

O grupo liderado pelo general da reserva Walter Braga Netto, que teria atuado para descredibilizar as urnas eletrônicas durante as eleições de 2022, queria ter acesso à delação do tenente-coronel Mauro Cid, segundo o relatório da Polícia Federal enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
"Os dados analisados demonstram que os integrantes da organização criminosa atuaram para obter o conteúdo do acordo de colaboração premiada firmada por MAURO CESAR CID com a Polícia Federal convergindo com os demais elementos de prova identificados na investigação conduzida no âmbito da Pet. 12.100/DF", diz o documento.
A ação do grupo, se comprovada, pode configurar tentativa de obstrução à investigação, fraude processual e formação de organização criminosa.
Também réu no chamado núcleo crucial da ação penal da trama golpista, o militar está preso desde dezembro do ano passado.
Segundo o relatório da PF, os membros do grupo se reuniram pelos menos cinco vezes, entre os dias 6 e 12 de novembro de 2022. Três reuniões foram realizadas pela internet e duas de forma presencial.
Em uma das mensagens encontradas por Flávio Peregrino, no dia 26 de novembro de 2024, o militar se refere ao tenente-coronel Mauro Cid, que fechou acordo de delação premiada.
"A diferença é que, nesta versão do texto, FLAVIO PEREGRINO se refere claramente ao Tenente-Coronel MAURO CID no trecho: 'No caso da delação especificamente, acredito que alguém teve acesso ao Cid e já me passou as informações', admitindo o acesso ao conteúdo do acordo de colaboração", diz o relatório.
Nesse período, a denúncia ainda não havia sido apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O acesso pelo grupo pode ter sido considerado crime.
Segundo a Lei nº 12.850/2013, que trata de organizações criminosas e da delação premiada, estabelece que o acordo de colaboração e os depoimentos do colaborador devem ser mantidos em sigilo até o recebimento da denúncia ou da queixa-crime. O objetivo desse sigilo inicial é preservar a eficácia das investigações e a segurança do delator.
No mesmo relatório, a PF aponta que o general Braga Netto, que também foi vice na chapa com Jair Bolsonaro (PL), era líder do grupo que desenvolvia estratégias para descredibilizar as eleições de 2022.
Em nota à CNN, a defesa do ex-ministro diz que "o material apresentado pela Polícia Federal não integra a ação penal contra o general Braga Netto. Refere-se à investigação sobre suposta tentativa de interferência na delação de Mauro Cid, na qual o General não tem envolvimento, como já demonstrado por esta defesa nos autos".