Por "imparcialidade", relator da CPMI recusa convite para visitar Bolsonaro

Deputado Alfredo Gaspar (União-AL) afirmou ter recebido convite do ex-presidente antes de ser indicado para relatoria da CPMI do INSS

Emilly Behnke, da CNN, Brasília
O deputado federal Alfredo Gaspar (União-AL), relator da CPMI do INSS  • Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
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O relator da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), deputado Alfredo Gaspar (União-AL), anunciou nesta terça-feira (26) que recusou um convite para visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A decisão, segundo ele, visa a “imparcialidade dos trabalhos” no colegiado.

Segundo o parlamentar, o convite foi feito por meio do advogado do ex-chefe do Executivo, uma semana antes da sua escolha como relator da comissão. Ele disse ter, inicialmente, aceitado o convite. Na CPMI, o deputado foi designado para o cargo na relatoria na quarta-feira (20).

“Eu disse que iria com muita honra, e assim foi feito o pedido. Depois, eu fui escolhido como membro da CPMI e depois como relator. Eu quero dizer que estou declinando desse convite para manter a imparcialidade dos trabalhos, mas que me senti honrado com ele”, disse o relator na reunião.

Bolsonaro está em prisão domiciliar desde 4 de agosto por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O magistrado entendeu que houve o descumprimento “reiterado” de medidas cautelares pelo ex-presidente. Ele também determinou a apreensão do celular de Bolsonaro.

Gaspar afirmou ter tido “pouquíssimos contatos” com Bolsonaro, mas que tem “consideração” por ele. Ele também reconheceu que foi indicado pela oposição para compor a CPMI.

“Eu reconheço que estou aqui porque a oposição lançou um candidato alternativo e esse candidato de forma legítima ganhou e me escolheu. Mas o meu compromisso com um trabalho sério, técnico e com a justiça é muito maior do que qualquer preferência”, afirmou.

Na semana passada, a oposição conseguiu eleger o senador Carlos Viana (Podemos-MG) como presidente, contrariando o acordo que previa a indicação de Omar Aziz (PSD-AM). Viana decidiu indicar Gaspar como relator. Antes, o indicado para a relator era o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO).

“Não conheço Lula e tenho pouco conhecimento com Bolsonaro. Não quero mal nenhum ao governo, mas aqui, no meu relatório, não haverá protegidos nem perseguidos. Eu estarei aqui para cumprir o rito da investigação”, disse Gaspar.

Nesta terça, a CPMI analisa o plano de trabalho proposto por Gaspar. A intenção do presidente da comissão é investigar “todos os governos”. Carlos Viana declarou ainda que dará previsibilidade aos trabalhos do colegiado.

“Gostaria de assegurar que os trabalhos desta Comissão estarão muito além de qualquer embate político ou ideológico, o nosso compromisso é com a verdade para o povo brasileiro, o nosso empenho é com a transparência acima de qualquer interesse”, disse Viana.

Com apoio da oposição, a CPMI foi criada para investigar o esquema bilionário de descontos não autorizados em aposentadorias e pensões. O caso foi revelado em abril após operação da PF (Polícia Federal) e da CGU (Controladoria-Geral da União).

No total, as entidades responsáveis pelos descontos ilegais teriam cobrado valor estimado em R$ 6,3 bilhões, entre os anos de 2019 e 2024.