'Sem maioria, Bolsonaro não conseguirá concluir seu mandato', avalia Collor
Ex-presidente relembrou impeachment e criticou comportamento do atual na crise política e frente à pandemia de Covid-19

Foto: Reprodução/CNN
O ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL) falou com exclusividade à CNN sobre a maneira como Jair Bolsonaro (sem partido) lida com a pandemia de Covid-19, a possibilidade do atual mandatário também sofrer um impeachment e os fatos que o fizeram ser afastado do mandato.
Para o ex-presidente, o impeachment, "que é um instrumento de extrema gravidade e de excepcionalidade absoluta, está virando uma coisa corriqueira. Agora já se fala no impeachment do atual presidente, com tantos pedidos chegando à mesa diretora da Câmara dos Deputados. Tudo isso nos leva a um momento crítico, tanto no âmbitos político, geral e mundial".
Ele crê que a prioridade deve ser outra. "Essa crise institucional está em gestação no momento de uma pandemia que acomete o planeta inteiro. Então temos que primeiramente lutar contra um inimigo comum, que é o vírus. E para isso é necessário união de todos, a começar pelo presidente da República, devidamente coordenado com os governadores e prefeitos, parando com essa rusga, essa intriga, tendo um plano de ação conjunto para que a nação possa ter um único comando no processo e evitar que esse vírus contamine ainda mais brasileiros".
Para Collor, Bolsonaro "está distanciado da realidade, indo contra a ciência, ao mundo científico, à maioria da população". "O presidente deveria ter o maior recato, não se expor em um final de semana num jet ski ou em qualquer atividade de lazer em respeito às pessoas que estão perdendo suas vidas e famílias que estão sofrendo com isso", diz, sobre o episódio em que Bolsonaro fez o passeio no dia em que o país chegava a 10 mil mortos.
O ex-presidente também criticou a defesa que Bolsonaro faz do uso da cloroquina para o tratamento do novo coronavírus — algo que não tem comprovação científica. "O mundo médico em peso fala em efeitos colaterais graves. O presidente da República não tem que ficar receitando remédio para ninguém. Tem que deixar para o corpo médico, os cientistas, os acadêmicos, aqueles que se dedicam a esse estudo. Ele está na contramão desse processo".
Alvo de um impeachment em 1992, Collor alerta para a importância de Bolsonaro se articular politicamente. "Ele briga dentro de seu próprio partido e hoje é um líder da nação sem partido político. Isso foge de qualquer script. Ele precisa andar rapidamente para recompor essa base esfacelada, reunir esses cacos e trazer outros partidos para lhe dar maioria, sem a qual conseguirá concluir seu mandato", ensina.
Caso Bolsonaro não adote essa postura, será difícil manter se manter no cargo, avalia Collor, que relembra sua experiência. "Eu incorri no mesmo erro que o atual presidente. Eu não dei a atenção devida à construção de uma base parlamentar sólida no Congresso para me garantir governabilidade e a sustentação no poder. É esse problema que o presidente vem enfrentando, agora vem tentando corrigir esse equívoco. Acho que chegou um pouco tarde, mas espero que dê certo".
Desculpas
Collor comentou o pedido de desculpas que fez nas redes sociais, pelo confisco da poupança durante seu mandato. "Esse pedido de desculpas e perdão não nasceu agora, vem de muitos anos. Nas entrevistas que dei ao longo desse tempo, sobre o bloqueio dos ativos, lamentei muito o sofrimento que causou em várias famílias e pedi desculpas".
"O que motivou essa repercussão foi que pela primeira vez em uma rede social eu tratei desse assunto. Senti nas redes sociais muito interesse em saber o que aconteceu nesse bloqueio, que equivocadamente chamam de confisco, que é pegar algo de alguém e não devolver. Nós devolvemos os recursos bloqueados em 18 parcelas com juros maiores que os da poupança à época. Houve um bloqueio, sim, que trouxe desassossego intranquilidade, isso que eu lamento e peço desculpas", explica.